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Brasília – Entre os parlamentares mais ativos da CPI mista dos Correios, o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB) está investigando os documentos disponibilizados à comissão e tenta relacionar as movimentações financeiras do publicitário Marcos Valério de Souza com remessas ilegais ao exterior. O senador considera que as relações dele com o com o governo fazem parte de uma tentativa de o PT se perpetuar no poder. Dias diz acreditar que o presidente Lula esteja envolvido nas denúncias, mas é contrário ao impeachment. Afirma que "cabeças irão rolar" na Câmara dos Deputados. Alvaro deu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo em Brasília.

Gazeta do Povo – Quais são os principais elementos da investigação?Alvaro Dias – Os saques gigantescos, em cash, de valores de cerca de R$ 21 milhões, que foram identificados. Mas certamente receberemos novos elementos. Estamos requerendo a diversos bancos informações que digam respeito aos saques acima de R$ 30 mil e também ao Banco Rural, que não remeteu ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) todas as informações.

– Há outros envolvidos?– O próprio Marcos Valério confirmou que parte desse dinheiro ficava na agência em depósitos em outras contas correntes – o que provavelmente só se justifica se estiverem em nome de laranjas, exatamente para fazer o destino dos recursos desaparecidos. Enfim, há uma estratégia que eu imagino fazer parte do projeto de poder por parte do PT. O objetivo era ter apoio no congresso, mas também organizar uma estrutura partidária que oferecesse oportunidade de manutenção no poder por mais tempo. Imagino que essa é parte mais suja deste projeto de longo prazo do PT, que nós já havíamos denunciado há bastante tempo.

– O senhor insiste na relação de Marcos Valério com remessas de dinheiro ao exterior. Como está esta parte da investigação?– É uma questão que estava esquecida, mas nós obtivemos um depoimento dele à PF, em 2003, a propósito da documentação encaminhada pelo Robert Morgenthal, aquele procurador de Nova Iorque que investigou a remessa de divisas através de contas CC5 e de doleiros para o exterior. Naquela oportunidade já se instalou um processo de investigação do Ministério Público sobre as remessas da Beacon Hill. Ele (Marcos Valério) negou, mas faltou com a verdade, pois nós confirmamos a existência de cerca de 50 remessas de valores variados de valores, desde US$ 7 mil até US$ 60 mil, encaminhados através da Beacon Hill pelas empresas dele.

– Isso foi confirmado por Fernanda Karina?– Nós indagamos à senhora Karina, e ela confirmou ligações dele (Marcos Valério) com doleiros e citou o nome de um deles e o endereço em Belo Horizonte. Portanto trata-se de evasão de divisas contra o sistema financeiro nacional, e acho que é um elemento importante dessa investigação, porque parte desse dinheiro sacado em cash dos bancos pode ter sido utilizada para remessas ao exterior.

– O escândalo chega ao presidente Lula?– Sim, não há como blindar o presidente. Ao meu ver, ele é o principal responsável. Ele sabia de tudo. Seria imaginar o presidente um idiota completo se admitíssemos a possibilidade de ele não saber. Na verdade, essas pessoas não agiram sem o conhecimento e sem o consentimento dele. Houve, na pior das hipóteses, omissão e conivência – o que configura cumplicidade.

– O PSDB defende o impeachment de Lula?– Não estamos propondo o impeachment, primeiro porque seria doloroso para o país. Não imaginamos ser a melhor solução porque temos uma eleição próxima. Um processo de impeachment deveria começar no ano que vem, porque a CPI vai até o fim do ano, se não for prorrogada ainda mais. E obviamente nós ultrapassaríamos o período eleitoral discutindo o impeachment do presidente. Então é mais prático submeter ao processo eleitoral para que a população julgue.

– Como o senhor acredita que vá terminar a CPI? Vai haver cassações?– Cassações são inevitáveis porque há o envolvimento de parlamentares com mandato. Mas há também aqueles sem mandato, e em relação a esses nós ficamos na dependência da outra esfera de poder. No Senado há um rigor maior em relação aos parlamentares, temos exemplos aqui de cassações. A Câmara é mais condescendente, há uma blindagem maior aos deputados. Mas, de qualquer maneira, a Câmara terá de fazer rolar cabeças. Já o processo do Judiciário é mais lento e realmente provoca uma impaciência maior em todos nós. Mas certamente nós teremos conseqüências, não imagino que todos fiquem impunes. Certamente alguns, por esperteza ou por sorte, escaparão, mas nem todos.

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