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Foz do Iguaçu – A melhor maneira de combater a corrupção na sociedade e, por consequência, nas forças policiais, é ensinar as crianças ainda na escola que isso é errado. A opinião é do norte-americano Charles Saba, que atua há 10 anos na polícia de Orlando, na Flórida (EUA) e atualmente comanda um departamento dedicado ao treinamento de policiais. Ex-comandante da SWAT norte-americana, ele é instrutor de policiais brasileiros enviados aos Estados Unidos em programas de intercâmbio e conhece bem a realidade do Brasil.

Na última semana, Saba esteve em Foz do Iguaçu participando do Fórum de Cooperação Internacional sobre Controle do Crime Organizado nas Relações de Produções e Investimentos do Mercosul, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre a corrupção na polícia e os trabalhos paralelos de policiais nos EUA, que são bem vistos pela sociedade.

Quais os meios utilizados para coibir a corrupção policial nos EUA?Existe omonitoramento de transações financeiras e a declaração dos bens. Não adianta a pessoa entrar para a vida pública dizendo que é dona de dois apartamentos e sair com dois edifícios. Há também um sistema de recompensas. Se um policial detectar que outro policial está envolvido em corrupção, ele efetua a prisão e é recompensado por isso. Sem corrupção, o crime organizado não tem ambiente para progredir.

É comum a ocorrência de casos de corrupção nos EUA?Existe, mas não é tão comum e aberta. Há pequenos eventos que abrem a porta para outros de maior proporção como, por exemplo, do policial que vai a um restaurante e faz uma refeição gratuitamente. Os comerciantes gostam de ter policiais dentro de restaurantes porque isso chama a população. Então é uma propaganda velada do comerciante e por meio disso ele dá uma refeição gratuita ou a custo menor ao guarda. Você automaticamente, por estar fardado, tem o desconto. Mas apesar de haver a gratuidade, o correto é o policial pagar.

Quanto ganha um policial americano?Em início de carreira, o policial ganha mais ou menos US$ 3 mil ao mês, mais 58% desse valor em benefícios. Ele recebe o carro de polícia, seguro, equipamento e também tem a chance de fazer o "bico", que lá é oficial. Para fazer o "bico" ele não pode receber menos de US$ 25 a hora para não baratear o conceito da polícia e também tem que ir fardado com o carro da polícia. O "bico" gera dinheiro para o policial e a família dele. Ganha a sociedade porque tem mais polícia na rua e ganha o policial de ronda por não ter que ficar preocupado com o restaurante e o cinema, pois o policial de "bico" esta lá, e ele pode concentrar-se em áreas mais perigosas. Por isso o "bico" é bem aceito por lá.

A corrupção é reflexo do caráter da pessoa ou da falta de dinheiro?A corrupção vem da sociedade e o policial é um reflexo da sociedade. É a sociedade que quer se dar bem. É a Lei de Gérson, que vem dos anos 70. Por isso é preciso investir na educação já com a professora do primário. Invista ali que os problemas serão sanados a longo prazo. Não existe uma pílula dourada que se toma hoje para fazer um Brasil melhor amanhã.

Há possibilidade de um convênio entre a polícia americana e a Guarda Municipal de Foz?O nosso objetivo é estabelecer um acordo abençoado pela sociedade para haver uma troca de informações. Não somos donos da verdade. A idéia é virmos para cá para aprendermos com os guardas municipais e eles irem aos Estados Unidos aprenderem com os nossos policiais. Os guardas de Foz esperam que o Legislativo aprove o acordo.

O que vocês podem aprender com o policial brasileiro?O policial brasileiro faz muito com pouco e o americano pouco com muito. O americano tem estrutura, equipamento e não faz o que o brasileiro faz. O brasileiro entra de peito aberto em uma situação. O americano chama helicóptero. Essa é a coragem que o policial brasileiro tem.

Quais são os resultados do policiamento em Orlando, onde vocês atuam?Passamos 2 anos e dois meses sem ter um tiro na rua e reduzimos danos aos policiais em 80%. Um dos equipamentos usados é uma arma não letal, sem bala, chamada Taser (que dispara choques elétricos). Ela é amplamente utilizada nos Estados Unidos e em 39 países. Esperamos que o Brasil seja o próximo país a usar porque já foi aprovado pelas autoridades.

Qual o impacto do crime organizado na economia?Em termos de Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2% a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial é consumido pelo crime organizado, mais ou menos US$ 2 trilhões. O Brasil gastou em 2001 um total de 11,2% do seu PIB em segurança pública. Foram colocados mais policiais e carros nas ruas, mas o crime não diminuiu. Não é colocar mais carros e policiais nas ruas que resolve. O que precisa é de comandantes que direcionem os guardas a fazer tarefas específicas. Há duas coisas que reduzem o crime: mudança na legislação, que muda o comportamento, e a certeza da punição – você faz e será punido.

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