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“Não acredito no poder de convencimento da televisão. Acho que os eleitores são muito mais convencidos por meio de diálogos do que pela televisão. Nesse sentido você tem a internet, que é aberta ao debate e ao reforço de opiniões.” | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
“Não acredito no poder de convencimento da televisão. Acho que os eleitores são muito mais convencidos por meio de diálogos do que pela televisão. Nesse sentido você tem a internet, que é aberta ao debate e ao reforço de opiniões.”| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

O uso da internet será a novidade nas eleições deste ano. Isso todo mundo sabe. O que não se sabe ainda é como políticos poderão alavancar suas candidaturas pela rede. O cientista social Afonso Albuquerque, professor do curso de Estudos de Mídia da Uni­­­versidade Federal Flu­­minense (UFF), afirma que a internet vai possibilitar que os concorrentes desfiram ataques duros a seus oponentes. Isso porque, segundo ele, a rede é menos regulamentada que outros meios de comunicação.

Albuquerque considera que o marketing político ainda tem dificuldades em lidar de forma eficiente com a rede. Nesse sentido, adverte, a primeira coisa que políticos precisam entender é que na internet é impossível tentar controlar até mesmo as próprias campanhas. "A internet não é o espaço dos candidatos, mas dos apoiadores das campanhas." Assim, não querer controlar a rede é um pressuposto para o uso eficiente do meio.

Segundo ele, a internet permite produzir dinâmicas diferentes de influência junto ao eleitorado. "A internet é aberta ao debate. Contribui para reafirmar ideias", afirma o professor. "A grande questão é que a lógica da internet é rigorosamente distinta daquela que o marketing se acostumou a explorar." O professor entende também que o novo meio torna possível distribuir material de campanha de forma barata, o que retira controle da mídia tradicional.

Albuquerque vem fazendo análise de propaganda eleitoral desde o pleito de 1989, quando Fernando Collor de Mello derrotou o atual presidente da Re­­­pública, Luiz Inácio Lula da Silva. Na avaliação de Albu­­­querque, as campanhas estão menos ousadas do que já foram, o que pode não ser a melhor es­­­tratégia para candidatos que não estão tendo bom desempenho em suas campanhas.

O senhor analisa campanhas eleitorais desde o período da redemocratização. O que mudou nesses 20 anos?

Há mudanças de todos os tipos. A eleição de 1989 foi muito particular, dotada de um caráter emocional muito grande. Mas nesses 20 anos a dinâmica de campanha mudou bastante. O primeiro aspecto refere-se à judicialização da política. Hoje a Justiça Eleitoral interfere bastante. A eleição de 1989, porém, era muito pouco regulamentada. Há atualmente um excesso de regulamentação. Uma segunda questão diz respeito às novas tecnologias. Hoje a televisão e o rádio não dominam mais de forma absoluta o universo das campanhas. Existe a internet, que na verdade é um meio genérico, pois possibilita um conjunto de ferramentas que operam comunicação mediada por computador, ou, por celular. Mas a internet hoje está claramente além da compreensão de marqueteiros e agentes políticos.

Para ganhar a eleição, o que importa mais: programa de governo elaborado por partidos ou as campanhas políticas?

Não acho que as campanhas sejam superpoderosas como se costuma atribuir a elas. Não acho que marketing político é um espaço de mágicas, de pessoas que conhecem profundamente o seu trabalho e podem mudar campanhas. Há muito pouca pesquisa sobre o trabalho do marketing político. A rigor não conheço nenhuma no Brasil. Fiz um estudo que indica que o marketing político está industrializado. Hoje o objetivo é fazer uma campanha "decente". A campanha de 1989 foi muito mais ousada que as mais recentes. A de Collor e do Lula em 1989 foram muito bem sucedidas nesse sentido, pois permitiram valorizar os candidatos. Hoje as pesquisas mostram que um candidato vai mal e, mesmo assim, não se muda o foco do marketing político. Eu tenho a impressão que, para candidatos que vão bem em pesquisas não vale a pena fazer campanhas ousadas. Mas acredito que para o candidato que está mal em pesquisas eleitorais tem momentos que o melhor é arriscar.

Com tantas opções para desviar a atenção, as pessoas assistem horário eleitoral gratuito?

Sim. Comparado com outros países assistem bastante. Mas quando se toca nesse assunto há expectativas exageradas. As pessoas não assistem todos os dias. Mas ainda assim assistem. Para ter argumentos e conversar sobre política. Não acredito no poder de convencimento da televisão. Acho que os eleitores são muito mais convencidos por meio de diálogos do que pela televisão. Nesse sentido você tem a internet, que é aberta ao debate e ao reforço de opiniões. A internet serve muito para reafirmar ideias. É um espaço de socialização. A grande questão é que a lógica da internet é rigorosamente distinta da que o marketing se acostumou a explorar. Por esse motivo, acho que temos uma tendência de fortes mudanças.

O que muda com a internet? Como ela será usada nas eleições de 2010?O eixo das campanhas mudou. A internet deve ter um impacto significativo, mas talvez seja difícil de medir. Há poucas pesquisas sobre como será. A internet sendo um meio menos regulamentado serve para ataques duros aos oponentes. Permite produzir dinâmicas de influência junto aos eleitores diferente de outros meios. Outro ponto é que a internet "desoficializa" o espaço da campanha. Isso já aconteceu nos Estados Unidos no ano passado. O espaço dos blogs não é o espaço dos candidatos, mas dos apoiadores de campanhas. É preciso considerar também que a distribuição de material audiovisual de campanha foi muito barateado com a internet. Hoje é possível produzir material com muito pouco recurso. Isso tira o controle da campanha tradicional, que é pouco apta para dar conta desses novos elementos.

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