Rio de Janeiro - O deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) anunciou ontem que vai começar a recolher assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as recentes compras de equipamentos militares, fechadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. O parlamentar afirmou querer saber quem são os intermediários da operação. Ele também pretende apurar se um integrante do Ministério da Defesa ficou hospedado na casa de um dos fornecedores de armamento, durante visita à França. Essas são, de acordo com o deputado delegado da Polícia Federal e ex-secretário de Segurança do Rio , informações que têm chegado a seu gabinete e cuja veracidade pretende checar.
"Estamos falando de bilhões de dólares", disse Itagiba. "E para gastar bilhões de dólares, precisa justificar. E também dizer o porquê da escolha. Não houve licitação". Pelos acordos assinados, o Brasil comprará da França quatro submarinos convencionais modelo Scorpène, um casco para submarino nuclear, um estaleiro para construí-los, uma nova base para operá-los, peças sobressalentes, armamentos (como torpedos), softwares e 50 helicópteros. Os dois países também abriram negociações para a compra, pelos brasileiros, de 36 aviões de caça modelo Rafale, fabricados pela empresa francesa Dassault. Ao todo, os negócios militares entre Brasil e França preveem gastos, nos próximos 20 anos, a cifras de hoje, da ordem de 12,5 bilhões de euros aproximadamente R$ 32,7 bilhões.
O parlamentar considerou estranho que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, "desautorizasse" o presidente Lula dizendo, no dia seguinte ao anúncio do fechamento do negócio dos modelos Rafale, que as negociações ainda estavam abertas. "Hoje (ontem), os jornais dizem que o caça está escolhido politicamente, não tecnicamente", declarou. "Isso está o samba do crioulo doido".
O governo brasileiro alega que não poderia comprar equipamentos de outras empresas que se mostraram insatisfeitas com a escolha pelos franceses como a empresa alemã HDW e a Boeing, dos EUA. Segundo o Planalto, os alemães não constroem submarinos nucleares e os EUA não abrem totalmente os códigos-fonte das aeronaves.



