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Eleição para presidência da Câmara está no centro da crise

A atual rebelião do PMDB e de aliados do governo Dilma Rousseff como o PR e o PP tem como pano de fundo a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2015. Enquanto no Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) deve ser reconduzido ao cargo, na Câmara aumenta a tendência de um racha entre petistas e peemedebistas.

Há oito anos os dois partidos mantêm um acordo de revezamento no comando da Casa. Pela ordem, seria a vez de o PT indicar um nome apoiado pelo PMDB. Líder da bancada peemedebista e desafeto de Dilma, o carioca Eduardo Cunha articula para ser candidato com apoio dos partidos do "Blocão", que inclui, PR, PTB, Solidariedade e PSC. Ontem, ele recebeu aval do PMDB para seguir com os planos.

Já a oposição planeja lançar como candidato o mineiro Júlio Delgado (PSB), que também contaria com os votos de PSDB, DEM e PPS. Delgado é o relator do processo de cassação do deputado paranaense André Vargas (ex-PT), acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef.

Cunha e Delgado, contudo, fariam uma dobradinha na concorrência contra um nome indicado pelo PT. Os favoritos no partido são os ex-presidentes da Câmara Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS). Com três nomes fortes, cresce a tendência de segundo turno, em que oposição e "Blocão" se juntariam para derrubar o candidato petista.

EUA

Obama também sofre com "lame duck"

Uma busca rápida entre os maiores veículos de comunicação dos EUA mostra que, desde a reeleição de 2012, o presidente Barack Obama vem sofrendo com a síndrome de "pato manco". Duas bandeiras do democrata, como a reforma da imigração e uma nova legislação para o controle de armas, sofrem com a falta de apoio do Congresso. A oposição republicana é maioria na Casa dos Representantes (235 das 435 cadeiras), enquanto os democratas têm hegemonia no Senado (55 das 100 cadeiras). A expressão, originalmente utilizada para definir candidatos que estão no final do mandato e já com o sucessor eleito, também serviu para identificar o desconforto de outros ex-presidentes: o republicano George W. Bush perdeu credibilidade após a guerra do Iraque e a crise econômica de 2008, enquanto o democrata Bill Clinton teve o 2º mandato paralisado pelo escândalo Mônica Lewinski.

  • Eduardo Cunha: líder do PMDB quer romper o rodízio acertado com o PT para presidir a Câmara dos Deputados

"Lame duck" é a expressão usada nos Estados Unidos para definir um presidente que está no cargo por direito, mas que não consegue governar por falta de força política. O "pato manco", na tradução para o português, fica refém do Congresso, ilhado pela oposição ou pela fragmentação dos aliados. A reeleição apertada coloca Dilma Rousseff (PT) às voltas com esse fantasma.

Dois dias após a vitória sobre Aécio Neves (PSDB), a Câmara dos Deputados derrubou o decreto presidencial que obrigava que decisões governamentais de interesse social tivessem de ser submetidas a conselhos populares. A proposta era uma bandeira petista. No mesmo dia, Dilma recuou na sugestão de fazer a reforma política por plebiscito e admitiu a utilização do referendo, caminho defendido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Esse é só o começo da "pauta-bomba" na Câmara, que se desdobra em uma série de projetos que aumentam os gastos do governo. "Não vai ter sombra e água fresca. Até porque o que se percebe é que o governo continua insistindo nos mesmos temas, do acobertamento dos desvios na Petrobras ao controle da imprensa", diz o líder do PPS, Rubens Bueno.

Não é a oposição, no entanto, quem mais incomoda Dilma. Os nove partidos que integraram a coligação de Aécio mais os cinco da chapa de Marina Silva (PSB) controlam hoje 151 das 513 cadeiras da Câmara. O problema está no descontentamento do principal aliado de Dilma, o PMDB.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que perdeu a disputa pelo governo do Rio Grande do Norte e não terá mandato a partir de 2015, não esconde o descontentamento pelo fato de o ex-presidente Lula ter apoiado seu adversário, Robinson Faria (PSB). "Ele deixou claro que não vai mais segurar as votações só porque o Planalto quer", relata o líder do Solidariedade, Fernando Francischini. Nesta semana, o Solidariedade, junto com PMDB, PP, PR, PTB e PSC, retomaram as ações do grupo conhecido como "Blocão".

Dessas legendas, PMDB, PP e PR estavam na coligação de Dilma e também ocupam vagas no ministério. "Dilma está diante de dois dilemas: um é lidar com o Congresso atual, o outro é com o que toma posse em 2015. O atual ainda está no calor da eleição e não vai dar folga, enquanto o novo ainda pode mudar de atitude com um remanejamento na distribuição de cargos", avalia o cientista político Valdir Pucci, da Universidade de Brasília.

Ao todo, 283 dos 513 atuais deputados se reelegeram. No Senado, 59 dos atuais 81 senadores permanecem no cargo a partir de fevereiro. Sob controle de Renan, que deve ser reeleito para a presidência da Casa, o Senado é palco de menos conflitos. Por outro lado, a oposição cresce em qualidade com a chegada de nomes tradicionais como José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Se não encontrar um novo formato de relacionamento com os aliados no Congresso, Dilma corre sério risco de não conseguir formar maioria qualificada para aprovar emendas constitucionais. Com isso, a principal promessa do discurso da vitória, a reforma política, dificilmente sairá do papel. Na economia, a situação de "pato manco" piora com o cenário internacional – ontem, o governo dos EUA anunciou o fim das medidas anticrise, o que deve fazer com que recursos deixem o Brasil.

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