
O advogado José Roberto Batochio, um dos defensores do ex-presidente Lula no processo da Lava Jato a que ele responde na Justiça Federal, insinuou que o juiz Sergio Moro é nazista e chamou Curitiba e o Paraná de “região agrícola do país”, sugerindo um provincianismo da cidade e do estado. As declarações foram dadas na segunda-feira (21) num momento tenso do depoimento do ex-senador Delcídio do Amaral, durante audiência do processo em que Lula é réu por corrupção.
Como advogado do ex-presidente, Batochio acompanha os depoimentos das testemunhas no processo. Ele criticava questionamentos de procuradores do Ministério Público Federal (MPF) a Delcídio referentes a fatos que não estão descritos nos autos do processo. Moro rebate dizendo se tratar de perguntas que buscam entender o contexto da denúncia. Batochio também questionava o que considerava ser o direcionamento de perguntas de procuradores para induzir as respostas de Delcídio.
Na audiência mais nervosa da Lava Jato, advogados de Lula batem boca com Moro

Moro então se irritou com as constantes interrupções feitas pela defesa de Lula durante o depoimento. “A defesa pelo jeito vai ficar levantando questões de ordem a cada dois minutos nesta inquirição. É inapropriado, doutor. Estão tumultuando a audiência”, disse Moro.
Logo na sequência, Batochio se exaltou. Disse que “o juiz não é o dono do processo” e que a lei permite aos defensores fazer o uso da palavra. “Ou se vossa excelência quiser eliminar a defesa... E eu imaginei que isso já tivesse sido sepultado em 1945 pelos aliados e vejo que ressurge aqui, nesta região agrícola do nosso país. Se vossa excelência quiser suprimir a defesa, então eu acho que não há necessidade nenhuma de nós continuarmos essa audiência .”
Em 1945, a Alemanha nazista – um regime totalitário – foi derrotada pelas nações aliadas, fato que marcou o término da II Guerra Mundial na Europa.
A defesa de Lula vem argumentando que Moro tem cerceado o direito de defesa do ex-presidente.
Atobá, no Paraná?
Não é a primeira vez que Batochio cita o Paraná de forma polêmica para ironizar a Lava Jato. Em agosto, ao questionar a competência da Justiça Federal do estado para julgar Lula, o advogado disse que Guarujá não é Guaratuba e que Atibaia não é Atobá, “uma cidade do Paraná”. A questão é que o Paraná não tem nenhum município chamado Atobá.
No Guarujá, cidade no litoral de São Paulo, fica o apartamento que seria de Lula. E em Atibaia, município do interior paulista, está o sítio que a Lava Jato também diz ser do ex-presidente. Na mesma declaração à imprensa, o advogado ironizou os procuradores da Lava Jato: disse que eles gastaram 70 páginas da acusação para “provar que Guarujá e Atibaia estão no Paraná”.
Caso do apartamento
A audiência em que a defesa de Lula sugeriu que Moro é nazista faz parte do processo contra o ex-presidente e outros sete réus no caso do apartamento tríplex do Guarujá em que o petista é acusado de receber propina da empreiteira OAS por meio da reforma do imóvel. No mesmo processo, Lula também é acusado de ter recebido vantagens indevidas ao ter tido as despesas da armazenagem de seus bens pagas pela OAS. O caso do sítio de Atibaia não faz parte dessa ação.
Os depoimentos de testemunhas de acusação e defesa do processo contra Lula prosseguem nesta semana.