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No mês passado, durante as discussões sobre um possível corte no pagamento dos 14.º e 15.º salários para congressistas, uma declaração do senador Ivo Cassol (PP-RO) gerou polêmica: "O político no Brasil é muito mal remunerado", disse o senador.

Como exemplo, Cassol citou gastos com práticas assistencialistas como pagamento de passagens e remédios para eleitores que procuram os políticos esperando este tipo de auxílio. Segundo ele, esses gastos consomem a maior parte do rendimento dos parlamentares. Mas, será verdade que os políticos brasileiros ganham mal?

"É evidente que não. Eles ganham exageradamente bem, em comparação com outros países e também em relação ao que produzem", afirma o cientista político Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos.

Ele destaca que, se o cidadão comum conhecesse a estrutura que mantém funcionando os três poderes da República, que compreende benefícios, privilégios e mordomias aos funcionários dos altos escalões, a declaração do senador rondoniense causaria uma revolta maior.

No mesmo sentido, o professor de ética e política da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bianco Zalmora Garcia, o ideal é que o valor recebido pelo político fosse encarado de uma maneira diferente da ideia de salário. "O maior problema hoje é que os valores dos auxílios e outras regalias são muito altos."

Garcia aponta que a quantidade excessiva de benefícios dados aos políticos atrai para as disputas eleitorais indivíduos sem vocação para o serviço público. "A corrida para representação não envolve necessariamente projeto político ou de sociedade. Envolve, sobretudo, 'quanto eu vou ganhar nisso'", afirma.

Já a cientista política Celina de Souza, da Uni­­versidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que o questionamento sobre remuneração dos políticos não deveria ser o foco principal do debate. A grande questão seria o descrédito que a sociedade nutre por seus próprios representantes eleitos. "Todos nós temos uma parcela de responsabilidade nesse quadro. Apesar disso, acho que as instituições como os tribunais de contas, a imprensa e as organizações sociais estão se aperfeiçoando, não sou tão pessimista", disse.

Benesses

Privilégio e mordomia são regra no 1.º escalão

Nas três esferas de poder federal, os servidores de primeiro escalão recebem várias regalias. Os senadores têm direito a verba indenizatória mensal de R$ 15 mil, R$ 27 mil em passagens e uso de telefone celular ilimitado, auxílio-moradia de até R$ 3,8 mil, até R$ 520 em combustível, verba de gabinete de R$ 82 mil, entre outros benefícios.

Já os deputados federais têm direito ao "cotão", uma verba de até R$ 35 mil mensais. Os deputados podem morar em um apartamento de 215 m² ou receber auxílio-moradia de até R$ 3 mil.

No Executivo, muitos ministros engordam a remuneração fazendo parte do conselho de estatais. No Judiciário, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm auxílio-moradia de R$ 4,3 mil. Também têm direito a carro oficial com motorista.

Colaborou: Antonio Senkowsky

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