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Alep suspende férias para aprovar repasse de depósito judicial ao governo

Gestão Richa pede e Assembleia convoca sessões para apreciar às pressas, ainda nesta semana, projeto que garante R$ 1,8 bilhão a mais no caixa estadual

Plenário da Assembleia: Richa pediu esforço para a base aliada estar presente hoje e amanhã no Legislativo para autorizar o governo a usar até 30% dos depósitos judiciais não tributários | Laura Ling/Alep
Plenário da Assembleia: Richa pediu esforço para a base aliada estar presente hoje e amanhã no Legislativo para autorizar o governo a usar até 30% dos depósitos judiciais não tributários (Foto: Laura Ling/Alep)

A pedido do governo paranaense, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) convocou sessões extraordinárias para hoje e amanhã, em pleno recesso parlamentar, para votar o polêmico projeto de lei que autoriza o repasse para o caixa do Executivo de 30% dos depósitos judiciais de posse do Tribunal de Justiça (TJ). A intenção do governo é sancionar a matéria rapidamente até o fim desta semana, para evitar o risco de que decisões judiciais barrem o projeto já no nascedouro e a impeçam de sair do papel. Estimativas dão conta de que, com a proposta, o governo teria acesso imediato a pelo menos R$ 1,8 bilhão.

De autoria conjunta do Judiciário paranaense e do governo, o projeto foi aprovado pelo Órgão Especial do TJ na última segunda-feira – mesmo dia em que o ex-deputado estadual Fabio Camargo, filho do presidente do Tribunal de Justiça, Clayton Camargo, tomou posse como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TC).

Diante do aval dos desembargadores, ontem mesmo o governador Beto Richa (PSDB) solicitou a presença de deputados aliados no Palácio Iguaçu e pediu um esforço para que reunissem o maior número de parlamentares para aprovar a proposta na Assembleia ainda nesta semana – são necessários os votos de no mínimo 28 dos 54 parlamentares.

De acordo com o projeto, o governo poderá usar até 30% do dinheiro dos depósitos judiciais não tributários – ou seja, recursos que não envolvem disputas relacionadas a imposto – em saúde, educação, segurança, infraestrutura viária e mobilidade urbana. Para isso, terá de remunerar o TJ com os mesmos rendimentos que seriam pagos por uma instituição financeira.

Mensalmente, o total dos depósitos judiciais será levantado. Se houver menos de 70% com o tribunal, o governo terá de repor os valores até atingir esse porcentual. Do contrário, poderá solicitar mais recursos até atingir o limite de 30%. A vigência do acordo é de um ano, podendo ser renovada indefinidamente.

Riscos

Atualmente, os depósitos judiciais ficam retidos em uma conta enquanto há algum litígio entre duas partes. Só podem ser retirados pela parte vencedora após uma decisão final da Justiça. A questão mais polêmica do projeto envolve justamente esse ponto. Pelo artigo 2.º da proposta, se os 70% em posse do TJ forem insuficientes para pagar decisões judiciais, o Tesouro do Estado terá de fazê-lo em até três dias úteis. Mas como o próprio governo admite estar em dificuldades financeiras, não há uma garantia real de que o "empréstimo" será pago. Se eventualmente não houver dinheiro em caixa, um cidadão pode, na prática, tomar um calote ou recebendo um precatório, que demora anos para ser pago.

Sob a justificativa de que a medida irá "antecipar benefícios sociais", o governo afirma no projeto que o risco para as partes envolvidas nessas ações judiciais é "zero", porque qualquer eventual insuficiência de recursos de depósitos será ressarcida pelo Tesouro. Já o TJ alega ser "muito improvável" que mais de 70% dos depósitos tenham de ser sacados ao mesmo tempo.

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