
A "limpeza" que a presidente Dilma Rousseff promoveu nesta semana no Ministério dos Transportes, com várias demissões de pessoas indicadas por parlamentares do Partido da República (PR), provocou a reação de uma parte significativa de parlamentares da base aliada. Setores do PR, do PMDB e do PTB no Congresso já negociam com a oposição a abertura de uma CPI para investigar não apenas as obras rodoviárias e ferroviárias, mas o próprio Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Deputados e senadores governistas estão receosos diante dos rumores de que a presidente estaria preparando a intervenção em outros ministérios considerados problemáticos como os do Turismo (da cota do PMDB), das Cidades (PP) e do Trabalho (PDT). A abertura da CPI seria uma forma de dar uma resposta a Dilma de que ela não pode governar sem atender aos anseios da base.
Um dirigente do PR confirmou ontem que deputados e senadores do partido estão decididos a encabeçar a lista de assinaturas, entre eles o senador Blairo Maggi (PR-MT). Os aliados argumentam que, se o próprio Planalto está afirmando que há corrupção nos Transportes, não haverá como segurar a abertura do inquérito.
"A persistir este cotidiano de denúncias, será inevitável uma CPI. O pedido de investigação vai acabar atingindo o número mínimo de assinaturas, porque o Congresso não terá como justificar para a sociedade que não quer investigar", disse ontem o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Entre os governistas mais ligados ao Planalto, é grande a preocupação de que a CPI dos Transportes vire a CPI do PAC, já que as obras de construção e reparo de rodovias e ferrovias constituem a maior fatia do Programa de Aceleração do Crescimento. O que assusta os aliados é que uma CPI do PAC bateria direto no Palácio do Planalto. Afinal, raciocina um líder da base, a presidente Dilma Rousseff venceu a eleição presidencial com o título de "mãe do PAC".
Um líder governista critica a administração da crise. Para governistas de várias legendas, os tropeços do Planalto estão empurrando os aliados em direção à CPI. "Se o governo diz que tem corrupção nos Transportes, por que os deputados têm que dizer que não tem?", prevê o vice-líder do PDT na Câmara, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP). Ao criticar os "maus tratos" do governo ao PR, Paulinho lembra que esta não é a primeira vez que um aliado é hostilizado pelo Planalto. Foi assim com seu PDT, que desafiou a presidente Dilma ao defender um reajuste mais generoso para o salário mínimo, e com o PMDB, que contrariou Dilma na votação do Código Florestal.
Ressentimentos e mordaça
Os deputados do PR se ressentem da falta de uma defesa mais contundente do partido que, nos últimos 15 dias, tornou-se protagonista da crise nos Transportes. Nos bastidores, a bancada reclama do silêncio dos dirigentes da legenda que não vão a público defendê-los, como se estivessem acuados.
Uma liderança do PR reclamou, em conversa reservada com a reportagem, que a cúpula não se movimenta para defender a imagem da legenda. Assegurou que esta mágoa se alastra pela bancada de 40 deputados.
Ciente da bomba-relógio que virou o partido, a direção nacional do PR, alinhada ao Planalto, baixou a "lei da mordaça" na legenda, orientando seus integrantes a parar de reclamar da presidente Dilma.



