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Cunha: “A persistir este cotidiano de denúncias, será inevitável uma CPI” | Leonardo Prado/Ag. Câmara
Cunha: “A persistir este cotidiano de denúncias, será inevitável uma CPI”| Foto: Leonardo Prado/Ag. Câmara

Superfaturamento

PF pode investigar denúncias

Em meio ao clima de insatisfação da base aliada com os rumos da crise no Ministério dos Transportes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu ontem que a Polícia Federal pode abrir novos inquéritos para investigar superfaturamento de obras da pasta. Já a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu ontem mais sete investigações a respeito de atos de ex-dirigentes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

"Nós recebemos uma representação que pedia a abertura de inquérito exatamente em relação ao Ministério dos Transportes. Houve uma determinação minha à Polícia Federal que analisasse os fatos noticiados", declarou o ministro da Justiça.

O Tribunal de Contas da União (TCU) produziu um novo relatório em que aponta superfaturamento de mais de R$ 78 milhões em obras do Dnit. Ao todo, 63 obras em rodovias, feitas sob a responsabilidade do órgão, foram fiscalizadas pelo tribunal.

Investigações

A CGU abriu ontem mais sete investigações a respeito de atos de ex-dirigentes do Dnit afastados por suspeita de corrupção, desvio de dinheiro público e tráfico de influência. Um dos alvos é o ex-secretário executivo do órgão José Henrique Sadok de Sá, afastado após a revelação de que a empresa da mulher dele, Ana Paula Araújo, ganhou contratos no valor de pelo menos R$ 18,9 milhões para tocar obras rodoviárias em Roraima.

Outro processo aberto é uma sindicância patrimonial, para apurar possível enriquecimento ilícito de Mauro Barbosa, ex-chefe de gabinete do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que renunciou ao cargo em meio às denúncias. Ele está construindo uma mansão de 1.300 metros quadrados no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, avaliada em R$ 4 milhões.

Das agências

TCU diz que estatal tem prejuízo de R$ 420 milhões

O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou indícios de prejuízo de R$ 420 milhões aos cofres públicos na Valec, estatal que comanda obras em ferrovias. O TCU determinou a suspensão da compra de materiais como dormentes para trechos da Norte-Sul e Oeste-Leste.

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A "limpeza" que a presidente Dil­­ma Rousseff promoveu nesta semana no Ministério dos Trans­­­portes, com várias demissões de pessoas indicadas por parlamentares do Partido da República (PR), provocou a reação de uma parte significativa de parlamentares da base aliada. Setores do PR, do PMDB e do PTB no Congresso já negociam com a oposição a abertura de uma CPI para investigar não apenas as obras rodoviárias e ferroviárias, mas o próprio Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Deputados e senadores governistas estão receosos diante dos rumores de que a presidente estaria preparando a intervenção em outros ministérios considerados problemáticos – como os do Turismo (da cota do PMDB), das Cidades (PP) e do Trabalho (PDT). A abertura da CPI seria uma forma de dar uma resposta a Dilma de que ela não pode governar sem atender aos anseios da base.

Um dirigente do PR confirmou ontem que deputados e senadores do partido estão decididos a encabeçar a lista de assinaturas, entre eles o senador Blairo Maggi (PR-MT). Os aliados argumentam que, se o próprio Planalto está afirmando que há corrupção nos Transportes, não haverá como segurar a abertura do inquérito.

"A persistir este cotidiano de denúncias, será inevitável uma CPI. O pedido de investigação vai acabar atingindo o número mínimo de assinaturas, porque o Congresso não terá como justificar para a sociedade que não quer investigar", disse ontem o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Entre os governistas mais ligados ao Planalto, é grande a preocupação de que a CPI dos Transportes vire a CPI do PAC, já que as obras de construção e reparo de rodovias e ferrovias constituem a maior fatia do Programa de Aceleração do Crescimento. O que assusta os aliados é que uma CPI do PAC bateria direto no Palácio do Planalto. Afinal, raciocina um líder da base, a presidente Dilma Rousseff venceu a eleição presidencial com o título de "mãe do PAC".

Um líder governista critica a administração da crise. Para governistas de várias legendas, os tropeços do Planalto estão empurrando os aliados em direção à CPI. "Se o governo diz que tem corrupção nos Transportes, por que os deputados têm que dizer que não tem?", prevê o vice-líder do PDT na Câmara, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP). Ao criticar os "maus tratos" do governo ao PR, Paulinho lembra que esta não é a primeira vez que um aliado é hostilizado pelo Pla­­nalto. Foi assim com seu PDT, que desafiou a presidente Dilma ao defender um reajuste mais generoso para o salário mínimo, e com o PMDB, que contrariou Dilma na votação do Código Florestal.

Ressentimentos e mordaça

Os deputados do PR se ressentem da falta de uma defesa mais contundente do partido que, nos últimos 15 dias, tornou-se protagonista da crise nos Trans­­portes. Nos bastidores, a bancada reclama do silêncio dos dirigentes da legenda que não vão a público defendê-los, como se estivessem acuados.

Uma liderança do PR reclamou, em conversa reservada com a reportagem, que a cúpula não se movimenta para defender a imagem da legenda. Asse­­­gurou que esta mágoa se alastra pela bancada de 40 deputados.

Ciente da bomba-relógio que virou o partido, a direção nacional do PR, alinhada ao Planalto, baixou a "lei da mordaça" na legenda, orientando seus integrantes a parar de reclamar da presidente Dilma.

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