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Dilma e Sarney: indicações dele para área de energia eram acatadas desde a presidência de Itamar | Pedro Ladeira/AFP
Dilma e Sarney: indicações dele para área de energia eram acatadas desde a presidência de Itamar| Foto: Pedro Ladeira/AFP

Postura

Estilo agressivo da presidente inibe aliados

Agência O Globo

A avaliação entre parlamentares, especialistas e até mesmo integrantes do governo é que a presidente Dilma Rousseff soube aproveitar um vácuo existente hoje no debate político, provocado principalmente pela ação limitada da oposição, e construiu uma imagem de firmeza e eficiência que está lhe rendendo índices seguros de popularidade. É esse capital que ela usa para firmar seu discurso ofensivo, com práticas às vezes agressivas, que vêm desagradando aliados.

A presidente conseguiu construir uma imagem de ética e de independência frente ao próprio PT, inclusive, ficando imune a desgastes do partido. Por isso, segundo especialistas, toma decisões praticamente sozinha ao demitir ministros ou outros integrantes do governo.

Para o historiador Marco Antônio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, a presidente ocupou o espaço vazio mas não define uma linha condutora do governo. "Há um vazio no debate político nacional. Nos últimos dois meses, o que se discutiu? CPI do Cachoeira? O Congresso não se colocou, a oposição não se colocou. Então, entra a presidente com suas declarações, que satisfazem A ou B, mas falta uma linha condutora. Ela passa uma sintonia com a vontade do cidadão, que não aguenta mais as taxas de juros ou que quer transparência na administração pública", afirma Villa. O historiador avalia que o capital de Dilma poderá se manter ou diminuir a depender da situação econômica. Por enquanto, o Brasil tem conseguido se proteger da crise internacional, mas a economia não está crescendo como a presidente esperava.

Mas, se para fora o discurso direto e altivo faz sucesso, internamente há insatisfações não apenas entre os políticos com interesses contrariados, mas entre os que esperavam mais da gestão administrativa. O estilo centralizador tem emperrado decisões dentro do governo e, principalmente, no Parlamento, reconhecem políticos e técnicos do governo.

Devagar e sem alarde, a presidente Dilma Rousseff está "expurgando" o PMDB do setor energético. Depois de tirar o partido do comando da Eletrobrás e trocar o presidente e dois diretores da Eletronorte, indicados pela legenda, o aliado agora está sendo apeado da Petrobras.

O golpe final está programado para depois das eleições municipais, quando Dilma planeja acelerar a migração do ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (PMDB-MA) de volta ao Congresso, para disputar a sucessão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Lobão até argumentou que preferia continuar no ministério, mas o Planalto prosseguiu em sua estratégia, patrocinando a filiação do secretário executivo Márcio Zim­mer­­mann ao PMDB. Como Zimmermann não tem militância política e já substituiu Lobão durante a campanha eleitoral de 2010, por determinação de Dilma, a cúpula do PMDB entende que a volta do ministro ao Congresso significará o expurgo completo da legenda do setor elétrico.

Desgostosos e preocupados com o enfraquecimento da sigla no Executivo, dirigentes peemedebistas avaliam que não vale a pena brigar por cargos agora, mas já falam em dar o troco na primeira crise que demandar o apoio dos aliados a medidas impopulares. O PMDB decidiu se calar com o objetivo de poupar energia para a guerra da sucessão da Câmara. Do comando das duas Casas do Legislativo o partido não abre mão. Líderes já falam em "ir às últimas consequências" para manter o poder da legenda no Congresso.

Expoentes do grupo Sarney reconhecem o apreço pessoal de Dilma por Lobão, mas entendem que a presidente começou mal seu projeto de levá-lo ao comando do Senado. Embora sejam majoritários na bancada de senadores do PMDB, eles preveem problemas e não têm dúvida de que o Planalto lançou a ideia na hora e da forma erradas.

"O Palácio queimou o Lobão com esta operação desastrada", resume um peemedebista experiente, para quem a filiação de Zimmermann tem a finalidade de justificar o discurso de que o PMDB continuará com o ministério.

Ainda assim, é o senador Sarney, e não o ministro, o mais atingido pelas mudanças em um setor que, desde o governo Itamar Franco, abriga técnicos por ele apadrinhados. É o caso de José Antonio Muniz, que Dilma tirou do comando da Eletrobrás e transferiu para a diretoria de Transmissão, um posto de pouca importância política para um partido que tinha a presidência e a diretoria financeira da holding.

Perda

Peemedebistas lembram que a Eletrobrás é a maior companhia do setor elétrico na América Latina. A holding controla o sistema de geração, transmissão e distribuição de energia em todo o país, com cinco distribuidoras, seis empresas de geração e transmissão, 164 usinas e participação societária em 19 companhias estaduais de energia.

Também se queixam de terem perdido a presidência de Furnas, onde Dilma colocou Flávio Decat, um técnico de sua preferência pessoal, e lembram que a influência do partido na Agência Nacional de Energia Elétrica também acabou.

Na Petrobras, o PMDB só tem hoje o diretor internacional, Jorge Luiz Zelada, que teve seu cargo esvaziado e está demissionário. A única participação do ministro na troca da diretoria da estatal foi um comunicado da presidente. Ao avisar Lobão de que Planalto e Petrobras estavam decididos a pôr fim à influência política na empresa, Dilma disse que a melhor pessoa para fazer as indicações técnicas era a presidente da Petrobras, Graça Foster. Ao ministro foi dada a opção de veto, não exercida até porque ele nem conhecia a maioria dos nomes apresentados.

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