• Carregando...
Arlindo Chinaglia, candidato do PT à presidência da Câmara dos Deputados | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Arlindo Chinaglia, candidato do PT à presidência da Câmara dos Deputados| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Atual vice-presidente da Câmara, o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) é a principal aposta do PT para derrotar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), considerado o favorito na eleição para a presidência da Câmara. Em entrevista à Gazeta do Povo, concedida na última terça-feira, ele disse que se considera ter "autoridade para conduzir" o Legislativo com isenção e que, por sua história como parlamentar, é visto como um deputado que não cede a pressões para prejudicar estados ou grupos políticos.

O petista critica Cunha, seu principal adversário: diz que o peemedebista utiliza politicamente dogmas religiosos e insinuou que ele estaria atuando de forma desleal durante a campanha. Por outro lado, ele disse que mantém relações respeitosas com o candidato de oposição, Julio Delgado (PSB-MG).

Veterano, Chinaglia exerce mandato desde 1995. Presidiu a Câmara entre 2007 e 2008 – na época, foi visto como um presidente severo, cortando gastos e benesses. Ele também exerceu o cargo de líder do governo em duas ocasiões. Em 2014, foi eleito vice-presidente, após renúncia de André Vargas.

Há uma leitura quase unânime de que este é o Congresso mais conservador desde a redemocratização. O senhor acha que isso pode prejudicar sua candidatura, sendo um deputado do PT?Eu acho que pode ser que ocorram tentativas [de prejudicar]. Houve uma manifestação, por exemplo, da Frente Parlamentar da Agricultura. Mas eu não me impressiono, porque não há unanimidade em nenhum segmento. Acho que a tentativa mais forte que tem havido [para prejudicar a campanha] é misturar a eleição da presidência da Câmara com as eleições gerais no país. E isso não vem funcionando. Em que pese um dos candidatos [Eduardo Cunha, PMDB] ter se colocado como um representante do antipetismo, ele não logrou êxito em obter apoio do PSDB, do PPS e do PSB, que foram os partidos que polarizaram a campanha com o PT. Estes têm uma candidatura própria, com a qual tenho uma relação bastante respeitosa [Julio Delgado, PSB]. O presidente da Câmara tem o dever da imparcialidade, de cumprir o regimento e de respeitar todo e qualquer um. Ali, é um território de iguais, todo mundo foi eleito.

O senhor fala muito de uma agenda nacional. Na próxima legislatura, muitos deputados foram eleitos com uma pauta conservadora, contrária ao que o PT historicamente defende. O próprio Eduardo Cunha chegou a propor um projeto que criminaliza a discriminação a heterossexuais –uma espécie piada com a lei contra a homofobia. Esses temas vão fazer parte dessa agenda?Eu não me coloco tarefas individuais, o presidente da Câmara precisa conduzir o processo [legislativo]. Acho que tem havido uma crescente utilização política de dogmas religiosos. Nada mais incompatível com o cotidiano da política do que você se orientar por dogmas. Pode ser que haja segmentos querendo fazer da polarização dos costumes algo que seja o mais importante para o povo brasileiro. Eu acho que não é. Considero que essas pessoas defendem opiniões legítimas, mas daí a conseguir representar o conjunto da população brasileira há uma distância enorme.

E o que estaria nessa agenda?Quando falo em uma agenda nacional, falo em dramas humanos, como a violência no trânsito. Ou aperfeiçoamentos legislativos, como na lei 8.666 [lei das licitações]. Isso nós podemos e devemos fazer. Agora, alguém que passa dia e noite falando contra os gays [Cunha] vai continuar insistindo, mas não vai me pautar. Acho simplesmente ridículo pautar uma agenda nacional com esse tipo de atitude. Não tem nada a ver com desrespeitar a religião ou a opinião de ninguém, mas no cotidiano, todo mundo percebe que essa não é uma agenda nacional.

A reforma política também é uma agenda nacional, e que tradicionalmente "morre na praia" na Câmara sempre que é debatida. É possível votá-la nessa legislatura? Sempre é. A reforma política está sendo feita da pior forma, pelos tribunais. Você tem, nesse momento, o Supremo Tribunal Federal discutindo o financiamento privado de campanha. A reforma está acontecendo e é claro que vão existir divergências. Mas é uma pauta essencialmente do Congresso Nacional.

Hoje, o senhor disputa a base de apoio ao governo com Cunha. Como ganhar essa queda de braço?Já fui líder de bancada, líder do governo, inclusive no pior momento do governo Lula. Trabalho com a convicção de que sou respeitado pelos meus pares. Eu parto desse pressuposto: cada um tem sua história. O que um presidente da Câmara precisa ter? Autoridade para conduzir. Na hora que você vai tomar uma decisão, não é sua posição política ideológica que vai te orientar, e sim sua determinação de cumprir as regras. E isso envolve caráter. Em algum momento, você pode sofrer pressão para mudar interpretações regimentais e usar seu poder para privilegiar alguém em detrimento de outro alguém. Cada um que decidiu se candidatar [a deputado] tem um sonho, uma bandeira, um propósito. Isso me anima a cumprir o papel de criar condições para que cada deputado possa exercer da melhor maneira o seu mandato. É assim que eu pretendo ganhar o apoio.

Há alguma proposta concreta para auxiliar o deputado neste trabalho? Há alguns mecanismos que podem ajudar o deputado a exercer seu mandato. Te dou um exemplo: emenda parlamentar. Não é a mais nobre das atividades do parlamento, mas é das mais populares. Quero criar na Câmara um sistema onde qualquer parlamentar vai saber como está a execução do Orçamento, para onde está indo esse dinheiro todo. Eu apresentei essa emenda para a minha cidade, como ela está? Outra coisa, os deputados querem fazer a defesa de seu estado. E há temas que interessam a determinados estados em detrimento de outros.

E o que senhor faria em relação a esse tipo de projeto?Você tem que ter cuidado. Você não pode fazer um acordo para disputar uma eleição e colocar em um ou dois dias um projeto que tira dinheiro do Paraná, por exemplo [nos bastidores, afirma-se que Cunha teria se comprometido a colocar a PEC do Comércio Eletrônico, que prejudica Paraná e São Paulo, em votação já em fevereiro]. O presidente da Câmara precisa ter uma atitude respeitosa, democrática e não dar golpe. E comigo não tem surpresa, tem palavra empenhada. Jogo duro, mas jogo lealmente.

Essa sua disputa com Cunha pode acirrar as tensões entre o PMDB e o governo? Não é um risco para a governabilidade?Não acredito nesse risco por um motivo: por maior que seja qualquer bancada partidária, o governo tem a maior bancada. Além disso, o PMDB tem o vice-presidente, o presidente do Senado e o presidente do Congresso [considerando já a reeleição de Renan Calheiros, dada como certa nos bastidores]. E jogar contra a estabilidade vai contra toda a história do PMDB. Eles se vangloriam, e com razão, de ser ponto de equilíbrio.

O PT também tem suas divergências. Marta Suplicy, por exemplo, fez críticas duras ao governo, recentemente. Como o senhor avalia esse episódio?A Marta, pelas declarações que deu, parte de uma avaliação de que não tem os espaços que, no julgamento dela própria, mereceria ter. O que me surpreendeu mais foi ela ter atacado o Rui Falcão, que era seu braço direito quando era prefeita. Pelo que pude depreender, ela faz um julgamento severo em decorrência daquilo que ela entendeu ser o momento do Lula ser candidato. Mas ela está errada na avaliação, porque se o Lula quisesse ter sido candidato, ele teria sido. Pela força dele, pelo peso que tem no PT. Pelo óbvio, passaria por um acordo entre ele e Dilma. E ninguém sabe se houve essa conversa.

E para 2018? Lula é o candidato? É muito cedo. Alguém ficar quatro anos como candidato é muito ruim. Em uma frase só: ele não é a maior liderança do PT, é a maior liderança do Brasil nos últimos muitos anos. Ele não precisa se colocar, ser ouvido. Os candidatos de outros partidos talvez precisem, mas ele não. Qualquer pesquisa que você fizer, você vai ver o tamanho do Lula. Ele tem um legado para o país, a biografia já está escrita, não depende de ser presidente novamente. Pode até vir a ser, mas não precisa, no plano individual. Ele não vai conseguir sair maior do que já é.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]