A participação de menores em crimes cada vez mais graves tem preocupado autoridades e especialistas. Se antes eles costumavam se envolver em furtos, hoje participam de roubos a mão armada e até de homicídios. Dos três adolescentes que participaram do assalto no domingo, em Irajá, Zona Norte do Rio, quando um menino de 8 anos por pouco não foi levado por ladrões que assaltaram seu pai , um deles tinha apenas 14 anos. Entre os cinco criminosos acusados de matar João Hélio , também em um assalto, um deles tinha 16 anos. No mês passado, um garoto de 12 anos e outro de 13 balearam um comerciante chinês durante uma tentativa de assalto em São Cristóvão.
O sociólogo Ignácio Cano se preocupa com o envolvimento de menores em crime e alerta para o risco de que eles representam para as vítimas.
- Os adolescentes têm menos discernimento, agem de forma mais impulsiva. Atitudes irracionais aumentam o perigo - comentou Cano.
Um projeto de lei que agrava a pena de bandidos que usam menores para cometer crimes já foi aprovado no Senado, mas será submetido a novas votações. A proposta de diminuição da maioridade penal também vem sendo discutida por autoridades. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defende a autonomia dos estados para legislar sobre questões penais . Para ele, o Ministério Público poderia solicitar à Justiça a antecipação da maioridade penal.
Ação frustrada pela polícia
No assalto de domingo, a ação dos criminosos foi frustrada por policiais militares que seguiam os cinco bandidos. Depois de abordarem o motorista de um Palio branco, que estava com a namorada e o filho, os ladrões se preparavam para entrar no carro e fugir. O casal conseguiu gritar que havia uma criança no banco de trás, que foi retirada pelos bandidos. A polícia chegou na hora e houve troca de tiros. Um dos bandidos morreu e os outros foram presos.
De acordo com o pai da criança, que não quis se identificar, ele, a namorada e o filho voltavam de uma festa em Nova Iguaçu, e tiveram o carro fechado por um táxi em um sinal de trânsito na Estrada da Água Grande, em frente ao Cemitério de Irajá. Segundo ele, dois dos bandidos desceram apontando armas. O casal saiu correndo do carro.
- Achei que fosse morrer e fiquei desesperado na tentativa de voltar para resgatar meu filho, que estava dormindo quando tudo começou - disse o pai, de 50 anos.
O pai ficou deseperado pensando que o filho ia ser levado. Foto de Domingos Peixoto
"Alguma coisa pode estar mudando"
Pai do João Hélio, Hélcio Lopes Vieites, a ação da polícia no caso do Irajá pode significar uma mudança , mas ele afirma que há pouco policiamento na Zona Norte. Hélcio Vieites disse ainda que pretende promover uma caminhada por mês para lembrar a "morte do estado", em diferentes regiões do Rio, como a promovida no fim de semana , quando percorreu o mesmo trajeto da via-crucis do João Hélio.



