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Belém (das agências) – O assassino confesso de Dorothy Stang, a missionária norte-americana de 73 anos morta no Pará em fevereiro, disse à Justiça ontem que atirou na irmã porque temia por sua vida.

Rayfran das Neves Sales, conhecido como "Fogoió", disse ao Tribunal de Justiça, em Belém (PA), que matou a ativista em legítima defesa, pois confundiu a Bíblia dela com uma arma, e não porque tinha sido contratado para fazê-lo, como afirmara anteriormente.

Dorothy Stang foi baleada seis vezes e morreu em fevereiro. Ela trabalhou 30 anos pelo defesa do direito à terra dos agricultores pobres da Amazônia. "Ela disse: ‘A arma que tenho é esta’ e pôs a mão dentro da bolsa", afirmou Rayfran, acrescentando que pensou que Stang ia puxar um revólver quando, na verdade, ela queria pegar a Bíblia.

O julgamento dos dois acusados pelo assassinato começou ontem e deve continuar hoje, até o juri decidir se condena Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista. Se forem considerados culpados, os dois podem pegar de 12 a 30 anos de cadeia.

Estratégia

Rayfran afirmou que Amair Feijoli da Cunha, o Tato, fazendeiro para quem ele trabalhava, disse que Stang e as pessoas que ela representava tinham intenção de matá-los para resolver conflitos sobre uma área onde ela estava estabelecendo uma reserva do governo federal. "Ele disse: ‘Você tem de matar essa mulher. Senão, essa mulher vai nos matar’", afirmou Rayfran, enquanto sua namorada chorava e seus pais lamentavam.

O promotor Edson Souza ridicularizou a mudança na versão de Rayfran e disse que Stang era conhecida no Brasil e no exterior como defensora da não-violência. Segundo o promotor, o réu estava tentando escapar das acusações de assassinato, crime para o qual estão previstas penas mais duras do que para homicídio simples.

Edson Souza questionou os motivos que levaram Rayfran a responsabilizar Cunha pelo incentivo ao crime, depois de ter dito que o responsável fora outro fazendeiro, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. "Antes, o senhor disse que Moura lhe ofereceu 50 mil reais para matar a irmã Dorothy. Por que essa mudança?", perguntou Souza.

Batista, acusado de incentivar Rayfran a atiram na missionária, apresentou uma linha de defesa semelhante. Disse perante o júri popular que os dois só receberam ofertas de dinheiro depois do crime, para a sua fuga.

Fazendeiros

Enquanto promotores e advogados de defesa discutiam, representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e do governo federal diziam que o julgamento é um passo para tentar pôr fim à impunidade das mortes encomendadas na região.

Os dois fazendeiros, Tato e Bida, foram acusados de ordenar o crime, enquanto outro homem é acusado de pagar os pistoleiros para realizá-lo. Tato e Bida estão presos e devem ser levados a julgamento no próximo ano.

Os proprietários de terra do Pará e os que os apóiam afirmam que Stang era uma militante esquerdista que encorajava os agricultores a ocupar ilegalmente propriedades privadas. A enviada especial da ONU, Hina Jilani, no entanto, não vê da mesma forma. "Esse julgamento é o primeiro passo no sentido da verdade e justiça", declarou.

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