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Um ato público pela paz reuniu milhares de pessoas no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, neste domingo, quando completou um mês do início da onda de atentados impostos a São Paulo pelo crime organizado. Às 11h11 foi feito um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos ataques. Pelo menos 132 pessoas morreram no confronto, das quais 44 são policiais ou agentes públicos.

Um mês depois, as autoridades ainda não conseguiram apresentar à população um balanço confiável do número de mortos, do total de suspeitos presos e dos casos em que há suspeita de atuação de grupos de extermínio. Não avançaram também as investigações sobre possíveis abusos de policiais em confrontos com suspeitos. A única autoridade a pagar a conta das cenas de horror foi o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, que caiu duas semanas depois do início dos atentados e saiu anunciando divergências com o secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho.

Os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública são antigos. A conta parou em 132 mortes de suspeitos na Grande São Paulo durante a onda de ataques. Mas pode subir. Nesta segunda-feira, o Conselho Regional de Medicina (CRM) promete divulgar laudos de 400 mortes por arma de fogo no estado apenas entre os dias 12 e 20. O número é 16 vezes maior do que as ocorrências registradas numa semana considerada normal.

Nem mesmo o número de suspeitos presos está consolidado até agora. O último balanço da SSP, divulgado uma semana após os ataques, indicava que 135 pessoas haviam sido detidas, suspeitas de terem participado das ações. A SSP informou que esse número subiu, mas não sabe informar para quanto.

A Ouvidoria das polícias diz ter reunido indícios de execução por grupo de extermínio em 49 casos. Uma comissão de entidades de direitos humanos foi formada para acompanhar as investigações e diz ter achado indícios de execução em 39 casos. Sem receber informações das autoridades, as ONGs decidiram agilizar o processo e pedir boletins de ocorrência e inquéritos diretamente aos delegados para investigar como ocorreram as mortes.

Entidades de direitos humanos reclamam que não têm acesso às informações. Também não foram informadas sobre quantas pessoas morreram vítimas de grupos de extermínio. Enquanto falta organização às autoridades de segurança pública, o crime continua se organizando nos presídios. Desde a última quarta-feira, os detentos de São Paulo se recusaram a comparecer a audiências marcadas em fóruns de São Paulo. Calcula-se que de 1.069 presos que tinham audiências marcadas na semana passada, 499 detentos não compareceram. O protesto seria em apoio a Marcos Camacho, o Marcola, que na quinta-feira foi interrogado pelos integrantes da CPI das Armas.

Na semana passada, já fora do cargo que ocupou por seis anos, Furukawa acusou Saulo de defender um acordo com os criminosos para conter os atentados. Saulo, por sua vez, disse que Furukawa saiu porque 'não agüentou o tranco'.

O secretário de Segurança protagonizou também uma cena de deboche às instituições. Convidado a falar na Assembléia Legislativa sobre as estratégias para garantir a segurança da população, foi acompanhado por nada menos que 70 policiais militares fardados, fora a cúpula da polícia civil. As viaturas policiais lotaram o pátio da casa legislativa. Ironizou os deputados e acabou saindo sem dar explicações sobre o que vem fazendo para colocar sob controle o crime organizado no estado.

Saulo também comprou briga com o Ministério Público, que deu 72 horas para que a lista de mortos fosse entregue aos promotores e recebeu apenas uma lista mal feita, com informações parciais e sem identificação de todos os mortos. Por enquanto, o MP permanece calado.

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