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Homenagem a FHC: apenas José Serra destoou e deu alfinetadas no PT | Antônio Cruz/ABr
Homenagem a FHC: apenas José Serra destoou e deu alfinetadas no PT| Foto: Antônio Cruz/ABr

Sigilo eterno

Ex-presidente reconhece que assinou decreto sem ler

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem que assinou o decreto que estabelece o sigilo eterno em relação a determinados documentos produzidos pelo governo sem saber do que se tratava. O decreto está em vigência até hoje. "Fiz sem tomar conhecimento. Foi no último dia do mandato [em 2002]. Tinha uma pilha de documentos e eu só vi dois anos depois. O que é isso? Mandei reconstituir para saber o que era", afirmou ontem FHC, pouco antes do início do ato que o homenageou.

O fim do sigilo eterno está em discussão no Senado. Inicialmente apoiado pela presidente Dilma Rousseff, o projeto sofre resistências dos ex-presidentes Sarney e Fernando Collor. Dilma recuou, mas depois voltou atrás e agora volta a trabalhar pela aprovação do projeto que estabelece que o prazo máximo de sigilo de documentos oficiais é de 50 anos. O atual decreto que regulamenta o assunto prevê que algumas informações, classificadas como "ultrassecretas", possam ficar em sigilo eterno. Segundo FHC, a presidente Dilma já tem o poder hoje de acabar com o sigilo eterno.

Folhapress

O ato público realizado ontem em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se transformou em um raro momento de aproximação do PSDB com o PT, os dois principais partidos do país. Fernando Henrique, em discurso, disse que é possível que as duas legendas construam um país melhor mesmo sendo adversárias. E o presidente da Câmara dos Deputados, o petista Marco Maia, reconheceu que, apesar das divergências com FHC, tem de reconhecer que o ex-presidente foi importante para a consolidação da democracia no Brasil. Fernando Henrique completou 80 anos no último dia 18 e ontem recebeu uma homenagem suprapartidária em Brasília.

No discurso, o ex-presidente adotou tom de conciliação com a presidente Dilma Rousseff. Sem criticar o PT ou a petista, FHC sugeriu que Dilma dialogue com o Congresso. E sugeriu que ele e a presidente se "entendam" para o bem do Brasil.

"Fiquei muito feliz com a carta que a presidente me mandou [pelos 80 anos]. Eu senti nesse gesto não um gesto político, mas o gesto em dizer: olha, nós somos brasileiros, em alguns pontos nós temos que nos entender. Não vale a pena um só destruir o outro." Ao agradecer a carta, FHC disse que entendeu que a presidente quis afirmar que "alguma coisa tem que unir" os dois, mesmo com as diferenças político-partidárias. "Construir juntos não é aderir", afirmou o tucano.

No discurso, o ex-presidente também recomendou à petista diálogo com o Congresso Nacional durante sua gestão – no momento em que Dilma enfrenta resistências dentro da base governista pela liberação de emendas. "Ou o Congresso retoma debates que têm força ou é difícil que tenham suporte na nacionalidade. Me esforcei muito para mudar muitas coisas pelo Brasil, mas sempre dialoguei com o Congresso, ativamente dialogando com cada um, com todos. Política e democracia ou é de convencimento ou não avança."

Já o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reconheceu que tem divergências com o tucano, mas afirmou que não "poderia deixar de participar da homenagem" por reconhecer a responsabilidade do ex-presidente pela retomada da democracia no país.

Além do petista, aliados de FHC e lideranças do PSDB participam do ato em homenagem ao ex-presidente. O ministro Nelson Jobim (Defesa), os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e Ellen Gracie, assim como políticos aliados da presidente Dilma Rousseff também acompanham o ato – como o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente do PMDB, Valdir Raupp.

Ataques

O ex-governador José Serra (PSDB-SP), que pretende concorrer novamente à Presidência em 2014, foi o único que destoou do tom ameno dos discursos. Serra fez ataques indiretos ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ressaltar qualidades de Fernando Henrique. "Um presidente que nunca condescendeu com malfeitos para privilegiar aliados. Jamais passou a mão na cabeça de aloprados", afirmou em referência à denúncia da compra de um dossiê por petistas contra Serra durante o governo Lula. "[FHC] jamais tratou o público como privado. Foi servidor público, ao invés de se servir do público. Jamais procurou exaltar a própria obra para desqualificar adversários."

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