
Brasília - A calmaria do recesso parlamentar esconde uma batalha de bastidores em Brasília. A 20 dias da eleição para a mesa diretora da Câmara dos Deputados, há um clima de preocupação que já mobiliza a linha de frente do governo Dilma Rousseff (PT). A estratégia é evitar que a disputa no Legislativo traga problemas logo no começo da gestão da nova presidente.
Com 88 deputados eleitos em 2010, os petistas têm a maior bancada e, em tese, ganharam a prerrogativa de indicar o novo presidente da Câmara. Após semanas de negociações no final do ano passado, o candidato escolhido pelo partido foi o atual presidente da Casa, Marco Maia (RS), que desbancou o favorito Cândido Vaccarezza (SP). A legenda, que pretendia uma eleição consensual, sem bate-chapa, está prestes a enfrentar uma rebelião.
Insatisfações com a divisão de cargos entre partidos da base aliada no Poder Executivo levaram à movimentação de pelo menos outros dois nomes para disputar a eleição, na Câmara: Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Sandro Mabel (PR-GO). Ambos não assumem publicamente as candidaturas, mas trabalham por elas desde o ano passado. Se ambos participarem, cresce a chance de a disputa ser decidida no segundo turno.
Martírio
Desde 2005, a eleição na Câmara tem sido um martírio para o PT. Na época, um racha no partido, somado a uma revolta do "baixo clero" (grupo de parlamentares de pouca expressão política na Casa) contra o governo Lula, levou à eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE). Em 2007, mesmo após um acordo com o PMDB, por pouco Arlindo Chinaglia (PT-SP) não perdeu a eleição para o próprio Aldo Rebelo, em uma disputa que ainda teve como candidato da oposição o paranaense Gustavo Fruet (PSDB).
Em 2009, a legenda retribuiu o apoio aos peemedebistas na eleição do hoje vice-presidente da República, Michel Temer, que ainda assim teve de enfrentar uma disputa nas urnas novamente contra Rebelo e Ciro Nogueira (PP-PI). "Tratando-se de eleição para a mesa da Câmara, nada é 100% garantido", diz o paranaense Osmar Serraglio (PMDB). Ele tentou participar do pleito de dois anos atrás, fez campanha, mas desistiu no dia da eleição.
Neste mês, ele foi procurado por Rebelo para tentar mais uma vez viabilizar-se como candidato independente o que ampliaria as chances do próprio Rebelo pelo menos chegar ao segundo turno. Serraglio, porém, já decidiu concorrer ao cargo de primeiro vice-presidente, em uma disputa interna no PMDB na qual deve enfrentar o mineiro Leonardo Quintão. O paranaense deve apoiar o petista Marco Maia, mas concorda que há uma sensação de descontentamento com o governo, que pode enfrentar represálias em votações prioritárias como o reajuste do salário mínimo.
"A insatisfação é enorme principalmente porque o governo não tem executado as nossas emendas individuais. Essa será uma das bandeiras da minha campanha para vice-presidente", conta Serraglio, que foi primeiro-secretário da Câmara entre 2007 e 2009. O principal beneficiado por uma nova revolta do "baixo clero" seria Sandro Mabel.
Ao todo, a mesa diretora é composta por 11 cargos um presidente, dois vice-presidentes e quatro secretários (mais quatro suplentes) , com mandatos de dois anos. Normalmente, o preenchimento dos postos é feito por uma chapa "oficial", de acordo com o tamanho das bancadas dos partidos. Há a possibilidade, no entanto, de candidaturas avulsas dentro das legendas.
Interatividade
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