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sucessão presidencial

Baixo crescimento leva economia para o centro da campanha eleitoral

Perspectiva de que o PIB deste ano ficará abaixo de 1% vira o cancanhar-de-aquiles de Dilma e aumenta chances da oposição

Lula (no centro) diz que Dilma cumpriu a meta de 4,5% de inflação, quando na verdade o índice gira em torno de 6,5% | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula (no centro) diz que Dilma cumpriu a meta de 4,5% de inflação, quando na verdade o índice gira em torno de 6,5% (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Nunca antes na história das eleições pós-redemocratização o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro havia crescido tanto quanto em 2010. A evolução de 7,5% foi a cereja no bolo para a construção da imagem da "gerentona" Dilma Rousseff (PT). Passados quase quatro anos, o cenário virou e o baixo desempenho da economia desponta como o calcanhar-de-aqui­les da petista na disputa pela reeleição.

INFOGRÁFICO: Veja a porcentagem de crescimento da economia nas últimas eleições presidenciais

Boletim Focus, feito pelo Banco Central e divulgado na segunda-feira, corrigiu para baixo a estimativa do crescimento do PIB, de 1,05% para 0,97%. Ontem, o Ministério da Fazenda reduziu a previsão oficial de 2,5% para 1,8%. Consultorias privadas, como a GO Associados, estipulam cenários mais modestos, que chegam a 0,5%. 2014, contudo, não é um ano isolado na gestão Dilma.

Se o índice do Banco Cen­­tral se concretizar, o mandato dela ficará marcado como o que registrou, na média, o segundo menor crescimento entre os últimos seis presidentes. A provável evolução de 1,8% da petista só é mais significativa que a recessão de -1,3% registrada durante o governo Fernando Collor. Quem lidera o ranking é Itamar Franco, que conseguiu uma evolução de 5,4%, entre 1993 e 1994.

O crescimento de duas décadas atrás foi decisivo para a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). De­­pois de assumir, o tucano não conseguiu manter o ritmo. Até alcançou a reeleição, em 1998, mas a média de 2,3%, entre 1995 e 2002, virou bandeira para a ascensão de Lula.

Consequências

Hoje, novamente a oposição surfa na desaceleração da economia. Eduardo Campos (PSB) escolheu como bordão anti-Dilma o fato de que ela seria primeira presidente nos últimos 20 anos a entregar o país pior do que quando assumiu. Aécio Neves (PSDB) tem batido no termo "estagflação", uma crítica à combinação entre estagnação econômica e aumento da inflação – o mesmo boletim Focus, no entanto, reduziu a previsão da inflação de 6,48% para 6,44% para este ano (ainda assim, muito próximo ao teto da meta de 6,5%).

Cientista político da Uni­­versidade de Campinas, Va­­leriano Mendes Ferreira Costa ressalta que a discussão sobre o PIB em si é técnica e restrita a uma pequena fatia do eleitorado. "O que a população discute é a consequência real do baixo crescimento, no emprego, na renda e no aumento dos preços. E é isso que contamina a avaliação do governo Dilma", cita.

Para ele, é fato que em algum momento a redução da atividade econômica vai afetar para valer a economia real. Mas, por enquanto, os sinais são contraditórios. "O índice de desemprego é muito baixo e a inflação, como consequência do desaquecimento, também pode baixar até a eleição", diz Costa.

Dados da última Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, indicaram uma taxa de desemprego de 4,9% em abril – 0,1 ponto menor que em março e bem inferior na comparação com a média do último ano da gestão FHC (12,6%). Por outro lado, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores caiu 0,6% entre março e abril. Além disso, o Ministério do Trabalho registrou o menor saldo de criação de vagas de trabalho com carteira assinada para um mês de junho desde 1998.

"Bobacoca"

Especialista em marketing político, Gaudêncio Torquato criou a expressão "Bobacoca" para explicar como economia vai influenciar a eleição a favor ou contra o governo. O termo, segundo ele, é a conexão entre bolso cheio (bo), barriga satisfeita (ba), coração agradecido (co) e cabeça feita (ca). "O eleitor vota por instinto de sobrevivência", diz.

Torquato também faz uma comparação com a derrota brasileira para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo. "Dilma precisa se preocupar com outro 7 a 1, a inflação próxima de 7% e o crescimento que não chega a 1%."

PT vai explorar declaração de Aécio Neves de que irá adotar medidas amargas

Das agências

Para se contrapor às críticas econômicas dos candidatos da oposição, o PT deve adotar a estratégia de questionar a capacidade dos adversários de acelerar o crescimento. Outra tática a ser usada pelos petistas é disseminar o temor nos eleitores de que a situação do país irá piorar. Lideranças da sigla têm usado à exaustão a declaração de Aécio Neves (PSDB) de que será preciso adotar "medidas amargas" para consertar a economia. "Vi a sabatina do Aécio [na semana passada] e fiquei tranquilo para confrontar projetos, porque ele diz que, se for presidente, terá que tomar medidas amargas e impopulares", disse ontem Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo (SP) e coordenador da campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff em São Paulo. Marinho disse acreditar que as propostas "amargas" do candidato tucano possivelmente se referem a um arrocho do salário mínimo, ao reajuste do preço da gasolina e a cortes em políticas sociais do governo petista, tais como o Bolsa Família.

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