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Lula (no centro) diz que Dilma cumpriu a meta de 4,5% de inflação, quando na verdade o índice gira em torno de 6,5% | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula (no centro) diz que Dilma cumpriu a meta de 4,5% de inflação, quando na verdade o índice gira em torno de 6,5%| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Lula defende a política econômica de Dilma e critica gestão FHC

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a política econômica adotada pelo governo Dilma Rousseff (PT) e criticou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Quando ele deixou a Presidência, nós pegamos uma inflação de 12,5%. Estabelecemos a meta de 4,5% e cumprimos [na verdade, a inflação está em 6,5%]. Ou seja, é plenamente possível manter [a meta durante] 12 anos, como nós mantemos", disse o ex-presidente, após participar de palestra para químicos, em Praia Grande (SP).

Em entrevista ao jornal chileno La Tercera, FHC havia dito que a atual situação econômica do Brasil "dá novas e melhores oportunidades para a oposição", referindo-se ao aumento da inflação, à piora das contas externas e das contas públicas e à perda de confiança dos agentes econômicos no governo. "O povo sente um mal-estar palpável em sua vida cotidiana", afirmou.

Sem sucesso

Para Lula, no entanto, essa bandeira da oposição não terá sucesso. "Eu estou muito tranquilo com relação ao futuro do crescimento do Brasil", disse. Segundo o ex-presidente, o baixo crescimento do PIB é explicado por "dois problemas": a crise mundial e o baixo investimento interno, que já estaria sendo superado pela ação governamental.

Agência Estado

Nunca antes na história das eleições pós-redemocratização o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro havia crescido tanto quanto em 2010. A evolução de 7,5% foi a cereja no bolo para a construção da imagem da "gerentona" Dilma Rousseff (PT). Passados quase quatro anos, o cenário virou e o baixo desempenho da economia desponta como o calcanhar-de-aqui­les da petista na disputa pela reeleição.

INFOGRÁFICO: Veja a porcentagem de crescimento da economia nas últimas eleições presidenciais

Boletim Focus, feito pelo Banco Central e divulgado na segunda-feira, corrigiu para baixo a estimativa do crescimento do PIB, de 1,05% para 0,97%. Ontem, o Ministério da Fazenda reduziu a previsão oficial de 2,5% para 1,8%. Consultorias privadas, como a GO Associados, estipulam cenários mais modestos, que chegam a 0,5%. 2014, contudo, não é um ano isolado na gestão Dilma.

Se o índice do Banco Cen­­tral se concretizar, o mandato dela ficará marcado como o que registrou, na média, o segundo menor crescimento entre os últimos seis presidentes. A provável evolução de 1,8% da petista só é mais significativa que a recessão de -1,3% registrada durante o governo Fernando Collor. Quem lidera o ranking é Itamar Franco, que conseguiu uma evolução de 5,4%, entre 1993 e 1994.

O crescimento de duas décadas atrás foi decisivo para a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). De­­pois de assumir, o tucano não conseguiu manter o ritmo. Até alcançou a reeleição, em 1998, mas a média de 2,3%, entre 1995 e 2002, virou bandeira para a ascensão de Lula.

Consequências

Hoje, novamente a oposição surfa na desaceleração da economia. Eduardo Campos (PSB) escolheu como bordão anti-Dilma o fato de que ela seria primeira presidente nos últimos 20 anos a entregar o país pior do que quando assumiu. Aécio Neves (PSDB) tem batido no termo "estagflação", uma crítica à combinação entre estagnação econômica e aumento da inflação – o mesmo boletim Focus, no entanto, reduziu a previsão da inflação de 6,48% para 6,44% para este ano (ainda assim, muito próximo ao teto da meta de 6,5%).

Cientista político da Uni­­versidade de Campinas, Va­­leriano Mendes Ferreira Costa ressalta que a discussão sobre o PIB em si é técnica e restrita a uma pequena fatia do eleitorado. "O que a população discute é a consequência real do baixo crescimento, no emprego, na renda e no aumento dos preços. E é isso que contamina a avaliação do governo Dilma", cita.

Para ele, é fato que em algum momento a redução da atividade econômica vai afetar para valer a economia real. Mas, por enquanto, os sinais são contraditórios. "O índice de desemprego é muito baixo e a inflação, como consequência do desaquecimento, também pode baixar até a eleição", diz Costa.

Dados da última Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, indicaram uma taxa de desemprego de 4,9% em abril – 0,1 ponto menor que em março e bem inferior na comparação com a média do último ano da gestão FHC (12,6%). Por outro lado, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores caiu 0,6% entre março e abril. Além disso, o Ministério do Trabalho registrou o menor saldo de criação de vagas de trabalho com carteira assinada para um mês de junho desde 1998.

"Bobacoca"

Especialista em marketing político, Gaudêncio Torquato criou a expressão "Bobacoca" para explicar como economia vai influenciar a eleição a favor ou contra o governo. O termo, segundo ele, é a conexão entre bolso cheio (bo), barriga satisfeita (ba), coração agradecido (co) e cabeça feita (ca). "O eleitor vota por instinto de sobrevivência", diz.

Torquato também faz uma comparação com a derrota brasileira para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo. "Dilma precisa se preocupar com outro 7 a 1, a inflação próxima de 7% e o crescimento que não chega a 1%."

PT vai explorar declaração de Aécio Neves de que irá adotar medidas amargas

Das agências

Para se contrapor às críticas econômicas dos candidatos da oposição, o PT deve adotar a estratégia de questionar a capacidade dos adversários de acelerar o crescimento. Outra tática a ser usada pelos petistas é disseminar o temor nos eleitores de que a situação do país irá piorar. Lideranças da sigla têm usado à exaustão a declaração de Aécio Neves (PSDB) de que será preciso adotar "medidas amargas" para consertar a economia. "Vi a sabatina do Aécio [na semana passada] e fiquei tranquilo para confrontar projetos, porque ele diz que, se for presidente, terá que tomar medidas amargas e impopulares", disse ontem Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo (SP) e coordenador da campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff em São Paulo. Marinho disse acreditar que as propostas "amargas" do candidato tucano possivelmente se referem a um arrocho do salário mínimo, ao reajuste do preço da gasolina e a cortes em políticas sociais do governo petista, tais como o Bolsa Família.

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