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O desgaste da imagem do Senado deve levar a Mesa Diretora a autorizar nesta terça-feira o Conselho de Ética a encaminhar à Polícia Federal pedido para retomar a perícia nos documentos de defesa do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na segunda-feira, houve forte reação preventiva dos integrantes da Mesa diante da possibilidade de algum senador fazer um pedido de vista e adiar para agosto a decisão, numa manobra para ajudar Renan a ganhar tempo.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), saiu em defesa de Renan. Disse que o senador não pode ser julgado sem que as investigações sejam concluídas e que ele não deve ser pressionado a deixar o comando do Senado:

- Não aceitamos linchamento público nem constrangimento para forçar o presidente Renan Calheiros a se licenciar ou renunciar.

Indagado se o partido daria alguma orientação ao petista Tião Viana (AC), que presidirá a reunião da Mesa, Berzoini afirmou:

- Não há razão para o PT se posicionar do ponto de vista partidário. Nunca houve qualquer cobrança do senador Renan. Todas as vezes em que conversei com ele, nesse período, foi uma conversa tranqüila.

Em comunicado transmitido pelo senador Valter Pereira (PMDB-MS) no plenário do Senado, Renan mandou avisar que o vice-presidente, Tião Vianna (PT-AC), vai presidir a reunião desta terça, já que declarou-se "impedido" para tomar qualquer decisão a respeito do processo a que responde no Conselho de Ética.

Renan ligou para colegas para negar que estivesse articulando uma manobra. Avisou que não recorreria ao Supremo Tribunal Federal para barrar a investigação. Os relatores do processo por quebra de decoro querem checar as operações de venda de gado, sua evolução patrimonial e a autenticidade dos documentos apresentados como prova de que tem renda suficiente para bancar suas despesas pessoais. Renan é acusado de ter gastos pagos por um lobista da empreiteira Mendes Júnior.

- O Renan me telefonou e negou que tenha feito manobra para protelar. Não vejo disposição de ninguém da Mesa de pedir vista para atrasar os trabalhos. Não há mais ambiente para isso. A imagem do Senado está muito ruim. Se depender da Mesa, o Conselho terá autorização para prosseguir as investigações - disse o terceiro-secretário, César Borges (DEM-BA).

Renan desmentiu também nesta segunda-feira as declarações do colega Cristovam Buarque (PDT-DF), que disse que ouviu do peemedebista que poderia ter sido um erro não se afastar da presidência do Senado. Renan disse que Cristovam entendeu mal a conversa e que avisou, na verdade, que sua disposição era de enfrentar todo o processo, pois tinha certeza que conseguiria explicar todas as denúncias.

Oposição volta a ameaçar boicote a Renan se reunião for adiada

Mas questionado por jornalistas sobre Cristovam, Renan evitou polemizar, numa demonstração de que não quer mais novos confrontos com os senadores de oposição.

- Se (Cristovam) falou por mim, não vale! - disse Renan.

Para Renan, a melhor estratégia agora é continuar na presidência para angariar o máximo de apoios a fim de evitar sua cassação no plenário do Senado, onde o voto será secreto.

A oposição voltou a ameaçar um boicote a Renan, caso a reunião da Mesa seja novamente adiada. O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), avisou nesta segunda-feira que seu partido "não votará nada mais" sob a presidência de Renan. Na semana passada, a oposição chegou a se retirar do plenário , após Renan adiar mais uma vez o andamento do processo.

- A Mesa é a instituição Senado. Não acredito que a instituição tenha interesse em procrastinar essa decisão que, aliás, há cerca de dois meses foi proposta pelo senador Renan Calheiros - acrescentou.

Para Agripino, um eventual pedido de vista na reunião seria um sinal de interferência do governo no caso.

- Se alguém vier a pedir vista, seria para procrastinar. Tudo pararia por 12 ou 13 dias. Seria muito ruim para a imagem da instituição do Senado. O plenário estará vigilante. Se alguém pedir vista, será por orientação do Palácio do Planalto - disse.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), convocou para a manhã desta terça-feira uma reunião da bancada do partido para que o tucanato se mantenha "vigilante" antes da reunião da Mesa.

- Será muito bom para o quadro político do país que o acordo seja cumprido sem mais delongas. Não há razão para se postergar a investigação. Quem espera firmeza, não se decepcionará com os senadores do PSDB e da oposição - disse Virgílio.

O senador Papaléo Paes (PSDB-AP), suplente da Mesa Diretora, criticou a possibilidade de algum integrante do grupo pedir vista do processo. A manobra, que estaria sendo arquitetada por aliados do presidente do Senado, adiaria para agosto a decisão de pedir à PF a conclusão da perícia nos documentos de Renan.

- Se alguém amanhã (terça) fizer isso, será uma trapalhada muito grande e muito prejudicial à imagem do Senado. Não podemos perder mais tempo: é a imagem do Senado - disse o senador.

O senador Magno Malta (PR-ES), quarto secretário da Mesa do Senado, negou que tenha recebido um telefonema do presidente do Senado, como chegou a ser divulgado, pedindo-lhe que pedisse vista do processo.

- Nunca recebi um telefonema do presidente do Senado nem me prestaria a isso (pedir vista). A Mesa tem que dar prosseguimento às investigações que estão sendo feitas no Conselho de Ética - afirmou Malta.

Planalto não vai mais interferir para tentar salvar Renan

Reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal "O Globo" mostra que o Palácio do Planalto resolveu mudar a estratégia em relação à crise política envolvendo Renan. Segundo a reportagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve adotar, a partir de agora, uma postura de espectador para evitar ser contaminado com o desgaste, em vez da articulação ativa nos bastidores em favor do aliado, que vinha fazendo até então. A avaliação no núcleo do governo é que é extremamente perigoso colar o destino de Renan ao Planalto. A ordem é deixar decantar a crise, para saber que força política vai prevalecer desse embate.

De acordo com a reportagem, a percepção no Planalto é de que nos últimos dias a situação de Renan se agravou. A articulação política do governo também já detectou que o alagoano já não tem seu maior trunfo do passado, que era um bom diálogo com a oposição. Isso ficou claro semana passada, no embate em plenário de Renan com senadores de PSDB e DEM. Por isso, o presidente vai adotar uma postura de neutralidade.

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