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A Vida Quer É Coragem já está à venda | Reprodução
A Vida Quer É Coragem já está à venda| Foto: Reprodução
  • Livro traz foto inédita da guerrilheira de esquerda Dilma, aos 22 anos, denunciando a uma junta militar a tortura que havia sofrido no DOI-Codi
  • Dilma na infância: retrato

Na ala feminina das presas políticas do Presídio Tiradentes, em São Paulo, era da jovem prisioneira Dilma Vana Rousseff, então com 22 anos, a tarefa de organizar a rotina no cárcere: limpeza, alimentação e acolhida às novas detentas. Chamada perversamente de "Torre das Donzelas", a ala exigia estratégias sofisticadas de resistência das presas. Um exemplo: numa vitrolinha clandestina, Dilma tirava forças – e as dividia com as demais colegas – ouvindo o samba Para um Amor no Recife, de Paulinho da Viola.

Na letra, o sofrimento e a esperança das "donzelas da torre": "...eu voltarei depressa, tão logo a noite acabe, tão logo esta noite passe, para beijar você".

A história da militante de esquerda presa pela ditadura, que sobreviveu à tortura, "renasceu" durante redemocratização, virou ministra, venceu um câncer e tornou-se a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil, está descrita no recém-lançado livro A Vida Quer É Coragem (Editora Primeira Pessoa), do jornalista Ricardo Batista Amaral.

Nas cerca de 300 páginas da biografia não autorizada, Amaral procura contextualizar cada momento que chama de "aventura política" de Dilma pós-ditadura. Lá estão a participação na fundação do PDT. A aproximação de Dilma com Lula durante o apagão energético em 2001. A chegada à Casa Civil em plena crise do mensalão. A escolha dela como candidata do PT à sucessão de Lula. E a campanha vitoriosa, mostrando como e por que o Brasil elegeu a primeira mulher presidente – ou "presidenta" como Amaral prefere.

O livro traz também detalhes que humanizam a política com fama de durona. Dilma queria ser bailarina. É fã do Dr. Spock da série Jor­­­nada das Estrelas. Gosta de ler as tragédias gregas. Torceu para a seleção de 70 – ao contrário da maioria dos "companheiros", que viam na Copa do México uma propaganda da ditadura militar. A obra também mostra Dilma como uma mulher compreensiva e discreta em relacionamentos românticos.

Parcialidade

Ex-assessor de Dilma na Casa Civil, Amaral usa um tom de narrativa amoroso (e quase deslumbrado) com a ex-chefe. Ao narrar os momentos dos escândalos e crises políticas, o autor veste o figurino de advogado da presidente e a livrando de responsabilidade sobre os "malfeitos".

Nos capítulos em que enfoca a campanha da então ministra à sucessão presidencial, o autor se ocupa dos pormenores da produção dos dossiês contra o candidato tucano José Serra e seus familiares. O autor novamente isenta Dilma e mostra a repercussão negativa que o episódio teve na campanha da petista.

Se a obra não tem o mérito da imparcialidade, tem sim o de ser uma bem escrita e ilustrada reportagem. Um dos destaques é a foto que mostra a jovem guerrilheira denunciando a uma junta militar os 22 dias de horror em que foi torturada nos porões DOI-Codi, o aparelho de repressão do regime militar. O olhar desafiador de Dilma contrasta com o constrangimento dos militares que tomavam seu depoimento e que escondem o rosto.

Além da foto inédita, o livro ainda apresenta imagens da presidente em família, da carreira como técnica da administração pública, em cochichos com o presidente Lula e em vários momentos marcantes do governo do petista.

Serviço

A Vida Quer É Coragem, Editora Primeira Pessoa. Preço sugerido: R$ 31.

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