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Cabrobó, PE (Folhapress) – A capela no sertão pernambucano escolhida pelo bispo de Barra (BA), frei Luiz Flávio Cappio, 58 anos, para cumprir sua promessa de greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco, tornou-se ponto de romaria não apenas de fiéis em busca de benção, mas também de políticos de oposição ao governo.

Em oito dias de jejum, Cappio já abraçou e apertou as mãos dos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), César Borges (PFL-BA) e Heloísa Helena (PSOL- AL), do governador baiano Paulo Souto (PFL), além de deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores.

Amanhã, aniversário do religioso, do Rio São Francisco e também dia do santo, está prevista a chegada a Cabrobó (600 km de Recife), onde fica a capela, de uma caravana com 30 ônibus, comandada pelo governador de Sergipe, João Alves (PFL).

Cappio, que sempre fez campanha para o PT, disse que sua decisão "não tem colorido partidário". "Eu quero acolher a todos e fazer com que lutem pela causa. Se alguns estão se aproveitando disso, é problema deles", declarou o bispo.

Para o arcebispo de Feira de Santana (BA), Itamar Vian, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que visitou Cappio, "isso sempre aconteceu e sempre acontecerá. É inevitável", afirma. "O Evangelho diz que o trigo anda sempre junto com o joio."

O deputado federal Osvaldo Coelho (PFL-PE), que esteve ontem no local, diz que não vê oportunismo político nas visitas. "As pessoas que discordam da transposição estão aqui, e muitas ainda virão", disse.

Em jejum desde o dia 26 de setembro, Cappio afirmou que não viajará a Brasília para conversar com Lula, conforme sugeriu o presidente em carta entregue ontem ao religioso.

Ele reafirmou sua disposição de só voltar a comer após a revogação do projeto de transposição pelo governo.

Na capela rústica de 50 metros quadrados, erguida por um agricultor a 200 metros do rio São Francisco, o frei segue a rotina de só beber água do rio e distribuir bênção às centenas de romeiros que diariamente visitam o local. Os fiéis, na maioria mulheres e crianças, aguardam em fila, sob o sol forte do sertão. A poeira trazida pelo vento cobre suas roupas, mas ninguém sai do lugar.

Na capela sem forro, enfeitada com flores artificiais e fitinhas de papel colorido penduradas no teto, o bispo os recebe sentado em uma cadeira branca, de plástico.

Encostados na parede, homens e mulheres, com terços nas mãos, cantam hinos religiosos enquanto as bênçãos são distribuídas. Pessoas simples com muletas nos braços e bebês de colo beijam as mãos do frei. "Vou ficar brilhando de tanto afago", brinca ele.

Do lado de fora, fiéis choram de emoção. "É triste pensar que em pouco tempo o bispo e o rio podem deixar de existir", diz, com lágrimas nos olhos, a professora Simoneide Rodrigues.

Paulista de Guaratinguetá, Cappio defende a revitalização do rio e pequenas obras hídricas para a convivência dos sertanejos com a seca no Nordeste.

O frei registrou em cartório sua disposição de manter a greve de fome até a morte, caso o atual projeto de transposição não seja arquivado. Ontem, ele foi submetido pela primeira vez a um exame clínico. Sua pressão arterial estava normal.

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