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Guiomar, que recebe R$ 134 por mês para bancar a escola dos filhos Gabriel, Keirrison e Lucas (da esq. para a dir.), ainda não pensou sobre eleições | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Guiomar, que recebe R$ 134 por mês para bancar a escola dos filhos Gabriel, Keirrison e Lucas (da esq. para a dir.), ainda não pensou sobre eleições| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Pré-candidatos não empolgam

"Vou ter que ver direitinho em quem vou votar. No Serra não voto de jeito nenhum, nem que me mandem para o calabouço. Mas a Dilma eu não sei, não conheço direito. Ela vai ter que apresentar um plano de governo muito bom." A declaração de Milton Ferreira Bruno, segurança de casas noturnas, mostra que nem todos os beneficiários do Bolsa Família vão embarcar automaticamente na candidatura da petista, por mais que o presidente Lula a defenda.

Bruno recebe do governo federal R$ 167 por mês, como subsídio para manter quatro filhos na escola: de 8, 15, 16 e 17. Ele tem mais três filhos, que já passaram da idade limite (18) para ganhar o benefício. Com o Bolsa Família, o bico como segurança e trabalhos eventuais de pedreiro, ele sustenta a todos. Que a origem do Bolsa Família remonta à gestão de Fernando Henrique, isso Bruno sabe. "Mas o Lula que aprimorou, ele que colocou o salário mínimo lá para cima", pondera.

"Sombra"

A empolgação não se estende a Dilma. "Ela é uma sombra do Lula. Quando eles aparecem lado a lado, ninguém presta atenção nela. Mas todos os que aparecem ao lado do Lula são apenas coadjuvantes." Apesar de ser fã do presidente, Bruno manda um recado a quem tiver interesse no voto dele: "A distribuição de renda deveria ser mais efetiva. As famílias mais carentes, não é o meu caso, deveriam receber o dobro do que ganham hoje".

Apesar de a oposição reclamar do que considera propaganda antecipada em favor da pré-candidata Dilma, não são todos que os reconhecem. Guiomar Dias Fernandes, que sustenta três filhos com a ajuda do Bolsa Família (R$ 134 mensais) e com o dinheiro da venda de salgados para fora, é uma dessas pessoas. Ela conta que assiste ao noticiário, mas afirma que não sabe nada sobre Dilma – tampouco sobre Serra ou Marina Silva (PV).

Na avaliação de Guiomar, a situação econômica está muito melhor do que a de anos atrás. Ela conta que trabalha em casa por necessidade – o filho mais velho, Lucas, de 10 anos, tem um problema pulmonar, e exige atenção constante. "O Bolsa Família ajuda bastante no orçamento, sou sozinha para cuidar de três crianças. Sobre eleições ainda não pensei a respeito, acho que só mais perto da votação."

  • Milton usa o dinheiro que recebe para comprar material escolar para os filhos
  • Saiba mais sobre as famílias beneficiadas pelo programa

O benefício do Bolsa Família que pinga mensalmente na conta de Sebastião Carlos Schuenck – R$ 123 – não é um grande valor, mas é fundamental para ajudá-lo a comprar o material escolar de seus filhos. Schuenck diz que o programa deve continuar como está, e, na opinião dele, isso significa votar na pessoa que Luiz Inácio Lula da Sil­­­va (PT) indicar para sucedê-lo na Presidência da República. Essa visão, partilhada por milhares de brasileiros, faz do Bolsa Família uma das vedetes da eleição deste ano, apesar de o programa já ter sete anos e estar bem incorporado à sociedade brasileira.

Outra novidade com relação ao Bolsa Família é que, neste ano, ele será uma das bandeiras não só da situação como também da oposição. O pré-candidato tucano à Presidência, José Serra (PSDB), tem dito que pretende ampliar a ação (leia mais abaixo).

O programa, por si só, não ga­­­­rantirá a vitória de ninguém, de acordo com especialistas que estudam o assunto. Mas o Bolsa Família terá sim um peso respeitável na hora em que os integrantes das 12,1 milhões de famílias beneficiárias decidirem seu voto para presidente. O Brasil tem cerca de 133,2 milhões de eleitores. "O programa importa muito sim. A força de Lula no Nordeste tem a ver com isso", observa o sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro.

O Nordeste tem apenas um terço da população brasileira (51,5 milhões de 183,9 milhões), mas recebe metade das transferências do Bolsa Família. No acumulado de 2010, os 6,3 milhões de beneficiários da região receberam R$ 2,4 bilhões, o equivalente a 53% do repassado a todo o país (R$ 4,7 bilhões). Segundo pesquisa recente do Datafolha*, o Nordeste é a única região em que Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência , bate José Serra.

Dados nacionais

De janeiro de 2004 a abril de 2010, o governo federal pagou R$ 72,7 bilhões em benefícios do Bolsa Família. O número de famílias atendidas tem aumentado ano a ano, assim como os repasses. Há seis anos, eram 6,5 milhões de famílias em todo o país, número que agora dobrou. Os repasses passaram de R$ 5,5 bilhões para R$ 12,5 bilhões em 2009. Apesar desse crescimento, os recursos para o programa se mantiveram estáveis, proporcionalmente: giraram sempre em torno de 5,5% do total de repasses feitos pela União. Os da­­­­dos são do Ministério do Desenvol­­vimento Social e do Portal da Transparência do governo federal.

No Paraná, o número de famílias atendidas passou de 309 mil em 2004 para 475 mil em 2010. Os repasses acumulados no período somam R$ 1,7 bilhão – o que equivale à soma dos orçamentos municipais de Londrina, Maringá e Cascavel para este ano. Tanta fartura animou o pedreiro Sebastião Schuenck, que desde agosto de 2005 é um dos beneficiários do Bolsa Família. "Não foi só isso que melhorou, mas muita coisa. Agora eu não venço de tanto serviço para fazer", diz.

Para Schuenck, isso é motivo mais do que suficiente para votar na candidatura apoiada por Lula – apesar de ainda não saber bem que é a "tal" da Dilma Rousseff. De acordo com Alberto Carlos Almei­­­da, a tendência é que a petista se torne mais conhecida nos próximos meses. "A preferência de voto nela, portanto, tende a crescer", diz o sociólogo.

Vantagem

O cientista político Cesar Zucco, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, estudioso do principal programa de transferência de renda brasileiro, diz que traçar tendências eleitorais no Brasil é difícil pelo histórico reduzido de eleições diretas. "Para começar, minha impressão é que os eleitores devem votar no candidato do governo", afirma. "O Bolsa Família já dá uma vantagem grande à candidatura governista. Além disso, a economia caminha bem. Combinando essas duas coisas, o PT tem muita vantagem na eleição", observa.

Zucco cruzou os dados da votação que Lula recebeu em 2006 com a listagem dos beneficiários do Bolsa Família. Provavelmente, diz ele, Lula ganharia as eleições mesmo sem essa ação de transferência de renda. "Mas, independentemente do efeito positivo da economia, os eleitores com Bolsa Família votaram mais em Lula do que aqueles que não recebem", resume. Eis um dos caminhos para oposição ou situação conquistarem a vitória em outubro.

Serviço: pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 15 e 16 de abril de 2010, com 2.600 entrevistas em 144 municípios, com margem de erro máxima de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%. Registrado no TSE com o número 8383/2010.

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