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O advogado Rogério Buratti revelou em seu depoimento na CPI dos Bingos a existência de um acordo eleitoral, firmado em 2002, envolvendo empresas de jogos - chamado por ele de 'grupo do Rio' - para a campanha do PT à presidência. Segundo Buratti, cerca de R$ 2 milhões foram doados à campanha do partido, vindos de empresários de jogos do Rio e de São Paulo.

Buratti disse ainda que a renovação do contrato da Gtech, empresa de fornecimento e manutenção de máquinas para casas lotéricas, junto à Caixa Econômica Federal, também fazia parte desse acordo eleitoral.

- Eu ouvi que, quando o grupo de empresas de jogos, que aqui chamo de 'grupo do Rio', contribuiu para a campanha do candidato Lula, havia um compromisso de se trabalhar na regulamentação dos jogos, dos bingos, acredito. O acordo envolvia também cargos na Caixa Econômica Federal e que já havia compromissos de renovação dos contratos da Gtech, antes da renovação, inclusive envolvendo negociações com executivos da Gtech na nova gestão da Caixa a partir da renovação. A idéia era 'trabalhar' cuidando dos estados, como Paraná e Goiás. Os estados eu não sei ao certo - disse, ao se referir mais uma vez a "coisas" que ouviu.

Como fez em depoimento ao Ministério Público de São Paulo. Buratti afirmou que empresas ligadas a jogos em São Paulo contribuíram para o comitê de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, durante a corrida eleitoral, e que empresas do Rio também contribuíram para o partido, desta vez após a posse de Lula, em 2003. O depoente afirmou que recebeu essas informações através de Ralf Barquete Santos, que trabalhava na Caixa à época e seria responsável pela repasse dos recursos ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Ralf Barquete faleceu em 2004, de câncer.

- Eu tive informações, através do Ralf, que as empresas de jogo de São Paulo contribuíram com R$ 1 milhão, não sei se "por dentro" (legalmente) ou "por fora". Mas não foi o Ralf que levou (o dinheiro), ele só fez o contato e as empresas contribuíram diretamente. E o Ralf me informou também - isso já em janeiro, depois da posse - que teria havido uma contribuição das empresas do Rio, também de valor semelhante - declarou ele.

Buratti é acusado de tentar extorquir R$ 6 milhões da Gtech para garantir a renovação do contrato de R$ 650 milhões com a Caixa Econômica Federal para fornecimento de equipamentos para casas lotéricas. A propina, que poderia chegar a R$ 16 milhões, seria destinada ao PT.

Em depoimento na CPI dos Bingos, dois ex-dirigentes no Brasil da Gtech disseram que a empresa foi vítima de extorsão em 2003. O ex-presidente Antônio Carlos Lino Rocha e o ex-diretor Marcelo Rovai, que atualmente é gerente-geral da multinacional no Chile, acusaram o então assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz e Buratti de cobrarem a propina. Eles negaram que a Gtech tenha pago, mas não conseguiram convencer membros da CPI porque o contrato acabou sendo renovado.

Buratti, por sua vez, disse em seu depoimento nesta quinta-feira que não aceitou propina da empresa Gtech em 2003 e que apenas transmitiu uma proposta que, segundo ele, era endereçada ao Ministério da Fazenda, a fim de que o órgão federal pudesse interceder na renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal.

- A Gtech me procurou por achar que eu tinha condições de fazer chegar notícias ao Ministério da Fazenda, através do Ralf. Apenas recebi a oferta (que, de acordo com Buratti seria de R$ 500 mil a R$ 16 milhões, dependendo do prazo e do desconto obtido), e transmiti a oferta a pedido do Ralf Barquete ao Ministério da Fazenda (...) Esse dinheiro não era para mim, eles queriam que chegasse ao governo, onde eles acreditavam que havia resistência - comentou Buratti, referindo ao "grupo do Rio", do qual faria parte Carlinhos Cachoeira (empresário de jogos Carlos Augusto Ramos).

Segundo Buratti, o Ministério da Fazenda havia determinado que houvesse "negociação dura", sem favorecimento. A exposição foi interrompida pelo senador Tasso Jereissaiti (PSDB-CE):

- Ao não evoluir (a suposta proposta de propina) com a Fazenda, ela evolui com o Waldomiro (Waldomiro Diniz, ex-asssessor de José Dirceu e ex-presidente da Loterj) na Casa Civil?

- Tenho a impressão que sim. Mas nunca ouvi, nem posso afirmar - respondeu o depoente.

Waldomiro foi flagrado em gravação pedindo propina a Cachoeira para campanhas eleitorais quando presidia a Loterj.

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