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Investigação na CPI

Caixa-preta da TAM indica erro em manete; piloto disse não conseguir desacelerar

Os dados do computador de bordo do Airbus A320 da TAM que se acidentou em Congonhas indicam que um dos manetes estava em posição errada durante o pouso, segundo deputados da CPI do Apagão . No entanto, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica não considera que isso comprove falha do piloto. As informações foram divulgadas após audiência a portas fechadas com o chefe do Cenipa, brigadeiro-do-ar Jorge Kersul Filho. O Airbus A320 da TAM fazia a rota Porto Alegre-São Paulo com 187 pessoas a bordo. O avião sofreu o acidente ao tentar pousar em Congonhas e se chocou contra prédios próximos ao aeroporto, matando cerca de 200 pessoas.

A partir da investigação, a Aeronáutica investiga duas hipóteses, segundo os deputados. Uma, de falha humana, em que o piloto posicionou o manete de forma errada. A segunda, de que o manete estava posicionado corretamente, mas houve falha na leitura do computador, que poderia ter entendido o comando para acelerar e não para desacelerar a aeronave. O brigadeiro ainda não excluiu a possibilidade de a pista curta de Congonhas ter sido um dos fatores do acidente.Transcrições da caixa-preta sõ lidas na CPI, ao vivo em rádio e TV

O presidente interino da CPI do Apagão Aéreo da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mostra o envelope com as informações das caixas pretas do avião da TAM, retirado do cofre e lacrado Os momentos finais da transcrição da caixa-preta do Airbus da TAM que se acidentou em Congonhas no dia 17 de julho, na maior tragédia da aviação brasileira, mostram que os pilotos tentam frear o avião, mas não conseguem. Em nenhum momento há menção a qualquer tentativa de arremeter a aeronave. Numa reação ao vazamento para a 'Folha de S.Paulo" de dados das caixas-pretas do Airbus da TAM, a CPI do Apagão na Câmara liberou nesta quarta-feira a transmissão, ao vivo em rádio e TV, de uma leitura da transcrição dos 30 minutos finais do diálogo na cabine dos pilotos.

O vazamento viola uma convenção internacional e é preocupante, dizem especialistas.

As conversas indicam também que os pilotos sabiam que só um dos reversos da aeronave funcionava e que a pista estava escorregadia. Logo após o avião tocar o chão, um dos pilotos diz:

- Reverso um apenas.

- Spoiler nada (referência aos freios aerodinâmicos que ficam na parte de cima das asas).

- Olha isso, desacelera, desacelera.

- Eu não consigo, eu não consigo.

- Oh, meu deus! Oh, meu deus!

- Vai, vai, vira, vira! Para... Não, vira, vira!

A conversa é interrompida por um barulho de batida, seguido de uma voz masculina:

- Ah, não!

Em seguida, há uma pausa nos barulhos de batida, o que pode significar que o avião sobrevoava a avenida Washington Luís em direção ao prédio da TAM Express. Ouvem-se então sons de gritos e uma voz feminina. Logo depois, um último som de choque.

Os deputados não tiveram acesso à gravação de áudio do diálogo, incluindo sons ambientes, porque é necessário um software de decodificação que não está disponível. Diante dessa limitação, tiveram que improvisar. Luciana Genro (PSOL-RS) e Rocha Loures (PMDB-PR) se ofereceram como tradutores das transcrições em inglês transmitidas em telão para os deputados, que se mantiveram em silêncio durante a sessão.

A transcrição mostrou também que o avião não apresentava problema no momento em que se aproximava da pista de Congonhas. Antes de pousar, os pilotos perguntaram à torre de controle do aeroporto se a pista estava escorregadia e ouviram como resposta:

"Está molhada e ainda está escorregadia".

A gravação começa às 18h18m24s e se encerra às 18h48m, hora estimada do acidente. Antes, por volta das 18h46m, os pilotos avisaram que estavam passando por Diadema, último ponto de referência. Pouco antes de tocar a pista, eles avisam que está "ok".

O brigadeiro Jorge Kersul Filho acompanha a divulgação da transcrição das conversas dos pilotos da TAM durante sessão da CPI do Apagão da Câmara Demostrando incômodo ao esfregar diversas vezes as mãos no rosto, o brigadeiro Kersul Filho esclareceu os termos técnicos em alguns momentos da tradução, antes de prestar seu depoimento a portas fechadas. Kersul voltará à comissão na próxima terça-feira. Ele alegou que não estava de posse de todos os dados para responder às perguntas técnicas feitas pela CPI.

Pai de comandante aprova divulgação das caixas-pretas

O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), por sua vez, afirmou que as informações analisadas até o momento indicam falha de equipamento. Ele ressaltou, no entanto, que essa avaliação não é conclusiva e pode ser modificada ao longo da investigação.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) reagiu com mais cautela.

- O relator não é engenheiro aeronáutico, eu também não. Acho prematuro apontar causa agora. Isso só atrapalha a investigação - disse.

O pai do comandante Henrique Stephanini Di Sacco, Rafael Di Sacco, disse que concordou com a divulgação das informações das caixas-pretas pela CPI. Di Sacco justificou a decisão afirmando que as famílias das vítimas e a população devem saber o que realmente se passou na hora do pouso.

Vice-presidente da CPI quer sindicância e IPM para apurar vazamento

Um pouco antes da leitura, o vice-presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que vai pedir ao Ministério da Justiça a abertura de sindicância para apurar quem vazou as informações das caixas-pretas do Airbus da TAM. Eduardo Cunha também quer que a Aeronáutica abra um inquérito policial- militar para apurar se o vazamento foi feito por militares.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que na segunda-feira já havia a suspeita de que alguns setores estavam interessados na divulgação de trechos isolados das transcrições, por isso a CPI decidiu lacrar os dados.

- Há interesse em criminalizar pessoas, e isso é muito grave - afirmou.

As duas CPIs do Congresso que investigam a crise aérea, aprovaram requerimentos de convocação do ministro da Defesa, Nelson Jobim. A da Câmara ainda não marcou a data, mas a do Senado confirmou o depoimento para a quarta-feira, dia 8.

A CPI da Câmara quer saber quem teve acesso aos dados das caixas-pretas e pode ter vazado as informações. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) encaminhou requerimento pedindo que se divulgue todos os nomes de quem teve acesso à fita.

Segundo reportagem do "Washington Post" desta quarta-feira, citada pela BBC Brasil , o vazamento de informações da caixa preta do Airbus A320 pode aliviar a pressão política sobre o governo Lula, se for confirmado que um erro humano foi a causa direta do acidente. Também nesta quarta-feira, oposicionistas acusaram governistas de comemorar possíveis falhas dos pilotos do avião da TAM.

A análise do material das caixas-pretas seria feita na terça-feira, mas foi adiada após apelos Fruet justamente para que não fossem divulgados os diálogos da cabine.

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