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Por meio de um telefonema ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Prevenções de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa), negou que a análise das caixas-pretas do Airbus 320 da TAM tenha indicado que a aeronave tentou frear e não arremeter ao pousar em Congonhas. A informação da tentativa de frenagem fora divulgada pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB), que está nos EUA em nome da CPI do Apagão Aéreo para acompanhar as investigações.

O deputado afirmara que o piloto da TAM não tentara arremeter e sim frear o avião; e que a pista molhada, escorregadia e inacabada do aeroporto de Congonhas, contribuíra para a pior tragédia da aviação brasileira.

O próprio Efraim voltou atrás nas informações, admitindo, em entrevista coletiva em Washington, que ele, na verdade, se baseara num levantamento preliminar feito por investigadores da Aeronáutica no Brasil.

- Falei com base em informações colhidas no local do acidente. Parece que os pilotos não tiveram condições de arremeter - corrigiu o parlamentar.

Segundo Kersul Filho, a análise feita até agora pela National Transportation Safety Board (NTSB) não permite esse tipo de especulação. Segundo os técnicos que trabalham na extração de dados daquele equipamento em Washington, as informações transmitidas para o Brasil pelo deputado Efraim não passam de hipóteses

Dados específicos a respeito ainda não foram colhidos no exame das caixas-pretas. Tanto Efraim quanto o seu colega Marco Maia, que fazem parte da CPI do Apagão, sequer tiveram acesso ao prédio da agência federal americana NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes). Marco Maia também não confirmou posteriormentes as informações que divulgara com Efraim.

Apenas representantes do Cenipa, da TAM e da Airbus vêm acompanhando o exame das caixas-pretas. Os dois deputados têm uma visita marcada para terça-feira aos laboratórios da NTSB.

Em nota divulgada no fim da tarde desta segunda-feira , o Comando da Aeronáutica informa que a análise realizada nos laboratórios do NTSB confirmou que o equipamento enviado no dia 21 trata-se do gravador de voz da cabine (CVR) do Airbus da TAM. Segundo a nota, após as primeiras inspeções técnicas, verificou-se que os dados contidos no gravador poderão ser recuperados, o que possibilitará a análise de todas as comunicações feitas pelos pilotos antes do acidente.

Falta de reversor, pista molhada, excesso de peso

O vôo 3054 da TAM pousou na pista curta de Congonhas, com 100% de lotação e peso perto do limite (98%), sem que o piloto pudesse contar com a ajuda do reversor da turbina direita.

A falta de um reversor no Airbus, aliada à pista molhada e escorregadia do Aeroporto de Congonhas, que foi recém-reformada e ainda não recebeu o grooving (ranhuras para escoamento de água), podem ter, juntas, contribuído para o desastre.

Neste domingo, a TAM recomendou a seus pilotos que não pousem em Congonhas em dias de chuva. Na semana passada, o presidente da empresa, Marcos Bologna, havia dito que o aeroporto é seguro mesmo em dias chuvosos.

Nas investigações, as autoridades poderão determinar se a falta do reversor direito foi preponderante ou não no caso específico da tragédia em Congonhas. A pista não tinha acúmulo de água, mas estava molhada e havia chegado a ser fechada por 23 minutos, uma hora e 20 minutos antes do acidente.

O problema no reverso foi apontado pelo próprio sistema de checagem eletrônica da aeronave. A TAM diz ter seguido o manual do fabricante, aceito pelas autoridades aeroportuárias, ao decidir manter o avião em operação e usá-lo em Congonhas com um reversor desativado. Um dia antes, um turboélice da Pantanal derrapou na pista de Congonhas . Não houve feridos. A aeronave parou na lama.

Na quarta-feira, na entrevista à imprensa, a TAM assegurou que a aeronave estava em perfeitas condições técnicas

No mesmo dia em que o avião da Pantanal derrapou, o mesmo Airbus da TAM tinha enfrentado problemas para pousar em Congonhas. No pouso do vôo 3215, que saiu de Confins (BH) e pousou em São Paulo às 13h48m, o avião parou só no limite da pista, segundo revelou o Jornal Nacional. O piloto relatou apenas que a pista estava molhada, mas não citou problema na aeronave.

Tecnicamente, as aeronaves têm três tipos de freio. Um deles é das rodas, outro é aerodinâmico (flaps) e o terceiro é o reverso, que inverte o fluxo da turbina, ajudando o avião a desacelerar.

- O avião passou por revisão há três meses e não apresentou pane significativa. No sábado, houve reporte de mau sinal do reverso direito. Mas, pelo manual, ele poderia voar até mesmo sem os dois reversores - disse o vice-presidente da TAM, Rui Amparo, ao Jornal Nacional.

O executivo disse ainda que o livro de bordo do avião não registrou "nenhuma pane grave" no pouso problemático da segunda-feira, véspera do acidente.

Apesar da posição da TAM e da Aeronáutica, especialistas ouvidos pelo jornal O Globo, afirmam que o reverso é importante para o pouso em pistas curtas e molhadas. Um comandante da Gol, que não quis se identificar, informou que a companhia orienta seus pilotos a não pousarem em Congonhas em dia de chuva sem o reverso.

Deslocamento à esquerda

O chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, afirmou que as marcas deixadas na pista mostram que o avião teve um deslocamento à esquerda.

Segundo ele, há várias hipóteses para que isso tenha ocorrido, entre elas alterações no reverso da aeronave e diferenças no acionamento do freio. Kersul Filho assinalou que apenas o Airbus da TAM sofreu este deslocamento.

Mesmo com a possibilidade de ter ocorrido algum problema na aeronave, o Cenipa acredita que a pista de Congonhas deverá ser usada apenas quando estiver seca ou, no máximo úmida, até que sejam apuradas as causas do acidente.

Em Brasília, o presidente da Infraero, que administra o aeroporto de Congonhas, brigadeiro José Carlos Pereira, eximiu a estatal de responsabilidade pelo acidente.

- Garanto que a Infraero não teve nada a ver com o acidente. Nada a ver. A investigação vai dizer.

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