
A Câmara Municipal de Londrina aprovou ontem, por unanimidade, a abertura de uma Comissão Processante (CP) para investigar o prefeito Barbosa Neto (PDT) no caso Centronic. O pedetista é acusado de utilizar o serviço de pelo menos dois vigias da empresa de segurança, que eram pagos pela prefeitura, na Rádio Brasil Sul, de sua propriedade. Essa era a quarta tentativa da oposição de aprovar um pedido de cassação contra Barbosa nos últimos 11 meses os outros três foram arquivados (leia mais no quadro ao lado).
Até o início da semana, a abertura da CP caminhava novamente para o arquivamento. No entanto, a prisão em flagrante na última terça-feira do ex-secretário de governo Marco Cito considerado braço direito de Barbosa e do ex-funcionário público Ludovico Bonato colaborou para o próprio governo jogar a toalha e aceitar a abertura da comissão.
A partir de gravações feitas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), os dois foram presos por envolvimento num suposto esquema de compra de votos de vereadores. Um dos objetivos do pagamento de propina seria justamente evitar a aprovação da CP para investigar o caso Centronic.
Sem afastamento
Como a instalação da CP foi aprovada por unanimidade, a tese da oposição de pedir o afastamento do pedetista do cargo ficou fragilizada. Isso porque já não será mais possível falar em interferência dele nas investigações. Até agora, essa tese tinha força devido ao episódio da tentativa de suborno a vereadores.
A partir de agora, a comissão tem 90 dias para encerrar os seus trabalhos. Coincidentemente, o prazo se encerrará no final de julho, em plena campanha eleitoral, depois de os partidos terem definido seus candidatos à eleição municipal. Por enquanto, Barbosa reluta em se colocar publicamente como candidato à reeleição.
Queda de braço
O clima na Câmara de Londrina foi tenso durante toda a sessão de ontem. Logo no início da tarde, Barbosa apareceu de surpresa em plenário e tentou, sem sucesso, discursar na tribuna a Casa nega que ele tenha feito o pedido oficialmente. Cercado por repórteres e manifestantes, o pedetista negou as irregularidades apontadas pela oposição, a quem acusou de estar obstruindo a pauta, levando à falta de votação de projetos importantes para a cidade. Em seguida, anunciou ter liberado a base governista para votar a favor da CP.
Em meio ao tumulto, manifestantes contra e a favor do pedetista quase entraram em confronto, mas foram contidos pelos seguranças da Câmara. Enquanto um lado exaltava o nome do prefeito, o outro gritava "ladrão" e "fora Barbosa".
11 vereadores são intimadospara depor
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) interrompeu a sessão de ontem na Câmara de Londrina para intimar 11 vereadores a prestarem depoimento na investigação sobre o suposto pagamento de suborno a parlamentares para votarem contra a instalação da Comissão Processante (CP) da Centronic. Como Barbosa Neto tem foro privilegiado, o Gaeco expediu ofício para que ele escolha data, local e hora para depor.
Hoje, serão ouvidos o atual secretário de Gestão Pública, Fábio Reali; o servidor público Ezídio Botelho; o assessor da Sercomtel Alysson Carvalho; e o chefe de gabinete do prefeito, Rogério Ortega.
"São nomes que surgiram em depoimentos, dados e informações levantadas, mas não quer dizer que necessariamente sejam todos suspeitos", afirmou o delegado Alan Flore, do Gaeco, que evitou antecipar detalhes da investigação.
Com a decretação da prisão preventiva de Marco Cito e Ludovico Bonato, o Gaeco tem até a próxima quinta-feira para finalizar todos os depoimentos e indiciar suspeitos para a formulação de uma denúncia criminal na Justiça.
Segundo Flore, a manutenção da prisão preventiva dos dois é uma forma de "resguardar as investigações em curso". Ao mesmo tempo em que recolhe informações em depoimentos, o Gaeco continua no rastro da origem dos R$ 20 mil apreendidos com Bonato na terça-feira, quando foi preso em flagrante tentando subornar o vereador Amauri Cardoso (PSDB). "Temos indicativos de qual seria a origem do dinheiro. É importantíssimo sabermos, sobretudo, por quais mãos esse montante passou", disse o delegado.



