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A ida foi bem, mas a volta, nem tanto. As equipes de resgate escaladas para procurar o módulo de experimentos do foguete suborbital brasileiro VSB-30, que deve ter caído no mar por volta das 12h33 desta quinta-feira (19), fracassaram em localizá-lo.

As buscas foram encerradas com o cair da noite e os coordenadores da operação discutem agora o que fazer. Embora ninguém confirme, é grande a probabilidade de que o módulo tenha afundado e não possa mais ser resgatado.

Apesar da perda, o vôo produziu alguns resultados científicos válidos. "Nós planejamos tudo com a hipótese de que a carga útil pudesse não ser recuperada", disse o tenente-coronel Olympio Achilles, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). "Os experimentos têm dados de telemetria, obtidos remotamente."

De fato, vários dados dos experimentos embarcados foram coletados, mas alguns deles dependiam da análise posterior da carga útil para maior segurança com relação às conclusões possíveis. Ainda não está claro o quanto dos resultados remotos poderá ser aproveitado. De toda forma, caso se confirme a perda do módulo de experimentos, o prejuízo já será razoável: a idéia é que ele fosse reutilizado, num futuro lançamento do VSB-30.

A plataforma reutilizável de experimentos foi desenvolvida pela DLR (agência espacial alemã) em parceria com engenheiros brasileiros, e essa era a primeira peça entregue ao Brasil, de duas. Com a perda de uma delas, só restará uma. Outras podem ser fabricadas nacionalmente, mas não está claro quanto tempo levará para que se faça o primeiro modelo construído em solo brasileiro.

Curiosamente, parece ter sido um dos sistemas dessa plataforma que falhou. O pára-quedas, segundo os técnicos, se abriu, mas não há confirmação do acionamento correto do dispositivo flutuante -- feito para impedir o afundamento da carga útil -- ou do sinal localizador, que ajudaria as equipes a localizarem o módulo.

As buscas foram iniciadas pela região em que se calculava que ocorresse a queda, com a ajuda de dois helicópteros da Força Aérea e um navio da Marinha, e depois ampliada para áreas adjacentes.

A missão

O foguete foi ao espaço levando nove experimentos brasileiros, um deles em parceria com uma universidade alemã.

As experiências foram recrutadas pelo Programa Microgravidade, que tem por meta fomentar a realização de pesquisas em ambiente de aparente ausência de peso. Alguns dos estudos selecionados são continuações dos que foram conduzidos pelo astronauta Marcos Pontes na Estação Espacial Internacional (ISS), em 2006.

A missão é a quarta de um veículo da série VSB-30 -- o maior trunfo do setor de foguetes do programa espacial brasileiro depois do trágico acidente com o terceiro protótipo do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélite), em agosto de 2003. O primeiro vôo de um VSB-30 foi realizado em 2004, de Alcântara, praticamente um ano depois da catástrofe que matou 21 técnicos e engenheiros brasileiros. Em seguida, foram realizados dois lançamentos na Europa, em 2005 e 2006.

O foguete

Embora seja bem menor e mais simples que o VLS-1, o VSB-30 também não é um "foguetinho" de se desprezar. Com seus 12 metros de comprimento e dois estágios (grosso modo, dois andares), ele é capaz de atingir entre 250 e 280 km de altitude.

Não é muito diferente de onde costuma ficar a Estação Espacial Internacional, que orbita a Terra a uma altitude de cerca de 350 km. A diferença é que a ISS está a uma velocidade muito maior (cerca de 28.000 km/h) e é isso que o foguete de sondagem não consegue fazer. A velocidade máxima do VSB-30 é de cerca de 7.000 km/h. Nessa balada, nada consegue entrar em órbita. O resultado é que os experimentos vão ao espaço e voltam em seguida, fazendo um vôo parabólico num perfil denominado "suborbital".

Numa missão assim, os experimentos, localizados na porção superior do foguete, passam aproximadamente seis minutos em situação de microgravidade. Mas, para muitos propósitos, é o suficiente. Depois do vôo, carga útil cai no mar, onde é resgatada e analisada pelos cientistas.

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