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Eles precisam um do outro como a "Sadia da Perdigão"

Brasília - Os principais líderes do DEM não aceitam que, para solucionar pendências regionais, os tucanos se aproximem do PMDB em detrimento dos democratas, em alguns estados. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) diz que há uma pressa desnecessária nas questões estaduais. "Temos de jogar num quadro de confiança", afirma. Heráclito aposta que "o esgarçamento do PMDB com o governo será cada vez mais veloz" e os tucanos vão tentar se beneficiar da situação, mas não a ponto de prejudicar a aliança com o DEM.

Para o deputado tucano Arnaldo Madeira (SP), PSDB e DEM "têm consciência de que precisam um do outro". E acrescenta, usando um exemplo do momento: "Tal como a Sadia precisa da Perdigão."

Muitas das trombadas entre os dois partidos, diz Madeira, ocorrem mais por razões pessoais do que políticas. Um dirigente tucano concorda e aponta a briga de egos no PSDB como causadora de alguns atritos que acabam atingindo integrantes do partido aliado. Cita a recente briga no Senado, quando Tasso Jereissati (CE) e Alvaro Dias (PR) agiram à revelia do líder Arthur Virgílio (AM), no caso da CPI da Petrobras.

Na Câmara, isso também ocorre: um grupo de tucanos se recusa a aceitar a liderança de Aníbal. Os democratas costumam se gabar de ser mais coesos, pelo menos na aparência. Os tucanos reclamam que o DEM faz exigências demais.

Agência Estado

Brasília - Nove entre dez tucanos e democratas que falam sobre a aliança dos dois maiores partidos de oposição comparam a situação de PSDB e DEM a um casamento de muito tempo. O casal enfrenta crises, mas continua unido porque tem um projeto para o futuro – no caso, derrotar o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2010. Aos muitos altos e baixos dos últimos meses, somam-se agora dois elementos de risco: as eleições estaduais e a tentativa do PSDB de conquistar a maior fatia possível do PMDB, em fase de tensão extrema com o governo.

Em pelo menos 8 dos 27 estados há dificuldades no relacionamento das duas legendas da oposição. Os líderes do PSDB e do DEM garantem que a maior parte dos problemas será resolvida, com exceção do Rio Grande do Sul, onde o confronto só se agrava, especialmente depois que dois deputados do DEM assinaram o pedido de abertura de uma CPI para investigar a governadora tucana Yeda Crusius.

No Distrito Federal, os aliados do único governador do DEM, José Roberto Arruda, acompanham com apreensão os movimentos do PSDB em direção ao ex-governador Joaquim Roriz, do PMDB. E, na Bahia, a briga histórica de democratas e tucanos está em fase de trégua, mas ainda é cedo para marcar a data do casamento. "No início do ano que vem, tudo estará resolvido nos estados", promete o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Paraná, Sergipe, Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo são outros estados onde ainda há problemas.

Há quem acredite em turbulência até em São Paulo. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) não tem a menor disposição em apoiar o tucano Geraldo Alckmin, provável candidato ao governo do estado. Reflexo da disputa municipal de 2008, quando Alckmin insistiu em disputar a prefeitura com Kassab, que tinha a promessa de apoio do governador José Serra (PSDB).

Além das brigas regionais, no Congresso as tensões também são frequentes. Começou com a disputa pela presidência do Senado, em que o PSDB ficou com o petista Tião Viana (AC) e o DEM apoiou o vencedor José Sarney (PMDB-AP). Há dez dias, a constrangedora cena dos senadores tucanos Tasso Jereissati (CE) e Alvaro Dias (PR) brigando na mesa do plenário com Heráclito Fortes (PMDB-PI) foi como essas brigas de casal que vão parar nas colunas de fofoca, de tão escandalosas. Mas, na semana passada, os dois lados tentavam fazer crer que não passou de um mal-entendido. "Aquela quinta-feira é para ser esquecida por todos", amenizou Heráclito.

Como nos relacionamentos afetivos, há detalhes que parecem irrelevantes, mas, diante do acúmulo, ganham proporções de crise se não são discutidos rapidamente. Por isso, não foram poucas as vezes em que os presidentes nacionais dos dois partidos, Sérgio Guerra e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), tiveram conversas para, no papel de bombeiros, pedir calma aos deputados e senadores dos dois partidos.

No caso dos cortejos do PSDB ao PMDB, porém, o DEM está atento. Na quinta-feira, o governador de Minas, Aécio Neves, que disputa com o paulista José Serra a indicação para candidato a presidente pelo PSDB, afagou os dois lados, em visita ao Congresso. Disse que tem espaço para todos em um plano "pós-Lula", não anti-Lula. Muito bonito no discurso, mas o DEM não aceita perder a preferência na aliança nacional. "Vamos trazer o que tem de bom no PMDB, mas a preferência é para quem já está trabalhando em conjunto, que somos nós, o DEM, e também o PPS", diz Maia. "Não estamos trabalhando agora para depois abrirmos mão para o PMDB." Embora o partido não reclame de uma chapa exclusiva do PSDB, o presidente do DEM lembra que Aécio negou categoricamente ter acertado com Serra uma chapa tucana puro-sangue, com o paulista na cabeça e o mineiro de vice. "Já que o Aécio deu essa declaração, a chapa é PSDB-DEM", afirma.

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