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Se depender de uma dupla de pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a casca que recobre os camarões e siris vai deixar de ser um simples exoesqueleto (ou esqueleto externo) para integrar o esqueleto interno dos seres humanos. Elas estão testando em laboratório uma forma inovadora de consertar fraturas muito graves, que mescla a estrutura da casca dos crustáceos com as versáteis células-tronco.

A mistura inusitada foi descrita por Rhyna Carla da Cunha Costa e Fabiana Paim Rosa durante a XXII Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe). O evento acontece até este sábado (25) em Águas de Lindóia, interior de São Paulo, e reúne mais de 2.500 cientistas do Brasil e do mundo.

"Nós ainda estamos no começo dos trabalhos in vitro", explicou Costa ao G1. Ela diz que a técnica, se for bem-sucedida, poderá ajudar a substituir lesões ósseas muito sérias, os chamados defeitos críticos. Nelas, um pedaço do osso foi arrancado, ou então trata-se de uma malformação na qual o tecido ósseo nunca esteve presente.

"Numa lesão desse tipo, o organismo simplesmente não tem tempo hábil para reconstruir o osso", explica a pesquisadora da Ufba. Forma-se uma cicatriz com tecido fibroso, impedindo que a regeneração correta aconteça. A dupla imagina que a combinação do exoesqueleto de crustáceos com as células-tronco, que conseguem assumir a função de muitos tecidos do organismo, seja capaz de dar conta dessa tarefa.

Em princípio, os dois componentes da idéia parecem talhados para o serviço. A quitosana, como é conhecido o material derivado da casca dos crustáceos, é bastante compatível com o organismo humano e possui uma estrutura tridimensional que pode servir de "andaime" para o osso em regeneração. Já as células-tronco, extraídas da própria medula dos futuros pacientes, são capazes de assumir a função das células ósseas e refazer o tecido lesado aproveitando o arcabouço oferecido pela quitosana.

Por enquanto, as pesquisadoras conseguiram demonstrar que esse casamento pode funcionar. Primeiro, eles extraíram células-tronco da medula óssea de ratos. As células foram pré-cultivadas em laboratório -- com substâncias específicas, foi induzida sua especialização, ou "diferenciação", como dizem os biólogos, em células do tecido ósseo. (Esse não é o único caminho que essas células podem seguir: elas também podem virar elementos do sangue ou células de gordura, por exemplo.)

Depois, elas foram colocadas em contato com a matriz de quitosana e se deram um bocado bem com ela, formando tecido ósseo exatamente da forma esperada. "É um resultado ainda muito incipiente, mas promissor", diz Costa. O próximo passo é induzir lesões ósseas graves nos ratos e ver se a combinação entre células-tronco e exoesqueleto vai regenerar de fato o osso.

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