• Carregando...
Malhães confessou ter matado e torturado presos políticos | Alex Viper/ Futurapress/ Folhapress
Malhães confessou ter matado e torturado presos políticos| Foto: Alex Viper/ Futurapress/ Folhapress

Bomba

Relatório mostra que oficiais sabiam do atentado no Riocentro

Folhapress

A Comissão Nacional da Verdade afirmou ontem ter reunido indícios de que altos oficiais do Exército sabiam previamente do atentado do Riocentro, em 1981, durante a ditadura militar (1964-1985). A ação tinha como objetivo frear o processo de redemocratização do país.

"As explosões do Riocentro foram fruto de um minucioso e planejado trabalho de equipe, que contou com a participação de militares, especialmente ligados ao I Exército e ao SNI (Serviço Nacional de Informações)", afirmou a comissão em relatório.

O coordenador da comissão, Pedro Dallari, ressaltou que ao menos outras 50 bombas explodiram no mesmo contexto, entre 1980 e 1981. "Ficou claro que se tratava de uma política de Estado, e não de uma ação isolada de alguns lunáticos ou psicopatas", disse.

Convocado a depor, o coronel Wilson Machado, que estava no Puma onde uma bombas explodiu no estacionamento do Riocentro, não foi encontrado pela Polícia Federal em sua casa, no Rio. O grupo também quer ouvir o general Newton Cruz, então chefe da agência central do SNI, que alegou razões de saúde para não depor.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu ontem Rogério Pires, caseiro do tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, morto na semana passada. Ele é suspeito de participação no latrocínio (roubo seguido de morte) do militar. Segundo a polícia, Pires confessou ter participado do crime durante depoimento na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense.

Em depoimento à Comissão da Verdade do Rio, há cerca de um mês, Malhães confessou ter participado de sessões de tortura durante a ditadura militar. Ele disse ainda que atuava na "Casa de Petrópolis", um local de tortura e afirmou não se arrepender de ter matado guerrilheiros. Havia a suspeita de que Malhães tivesse sido morto por grupos de extrema direita ou extrema esquerda.

O delegado titular da Divisão de Homicídios, Pedro Henrique Medina, avalia que a motivação do crime foi o roubo das armas (Malhães era colecionador), e não homicídio por vingança ou queima de arquivo, hipóteses levantadas logo que o militar foi morto no sítio na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na quinta-feira da semana passada.

De acordo com a polícia, o caseiro, que ficava em um quarto separado do coronel e da viúva Cristina Batista Malhães, não era o homem encapuzado que participou da ação. Os outros dois homens que invadiram a casa já foram identificados, mas os retratos falados ainda não foram divulgados.

Versão questionada

O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damus, fez ontem um apelo ao Ministério da Justiça para que a Polícia Federal investigue a morte de Malhães. Em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, Damus questionou a versão apresentada pela polícia. "Não quero aqui lançar suspeitas pela idoneidade da Polícia Civil, mas a tendência é encarar como ocorrência policial, como aconteceu", disse. "Temos que ir às investigações. Não foi uma pessoa qualquer, foi alguém com essa folha de péssimos serviços prestados ao país, de macabros serviços prestados à repressão política. O coronel tinha extensa folha corrida na atividade repressiva."

Após ouvir o depoimento de Damus, a Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou o envio de um grupo de senadores para acompanhar as investigações no Rio. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que a comissão não concorda com o "tratamento" dado pela Polícia Civil ao caso. "Eu lamento a forma como a Polícia Civil do Rio está tratando, de apresentar a confissão de caseiro como espécie de encerramento do caso. Não aceito que esse caso seja tratado desta forma."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]