
O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi preso na madrugada de ontem ao desembarcar no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, vindo de Londres. Ainda pela manhã ele foi transferido à carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba, onde ficará detido junto com outros presos da Operação Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cerveró foi preso por indícios de que "continuava a praticar crimes". Ele é acusado de tentar repassar bens para familiares com o objetivo de burlar uma possível condenação à devolução de dinheiro aos cofres públicos.
INFOGRÁFICO: Veja como funcionava o esquema
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que a movimentação de bens de seu cliente foi semelhante à que a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez no ano passado após o escândalo da Lava Jato ter se tornado público. "Se é crime para Nestor, é para Graça. Se o Ministério Público Federal pediu prisão para o Nestor por esse fato, deveria pedir para a Graça."
Ribeiro também comentou sobre a atuação de Cerveró na compra da refinaria de Pasadena (EUA), que causou prejuízo de US$ 792 milhões à estatal. Para ele, a recomendação do diretor era importante, mas não essencial. "A responsabilidade é apenas do Conselho da Petrobras, que toma as decisões." Perguntado se a responsabilidade poderia ser da presidente Dilma Rousseff, que fazia parte do Conselho à época da compra, ele assentiu: "Assim como de qualquer outro membro do Conselho".
"Sanha delitiva"
Na decisão em que decretou a prisão de Cerveró, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da Justiça Federal em Curitiba, disse que o acusado continua com uma "sanha delitiva". No despacho, o juiz diz que Cerveró está blindando seu patrimônio e transferindo bens para familiares porque corre o risco de ser responsabilizado por desvios na Petrobras.
O MPF obteve informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de que logo após o recebimento da denúncia e durante o recesso do Judiciário, o ex-diretor tentou transferir para sua filha R$ 463 mil. Ele prosseguiu com a operação mesmo sendo alertado de que perderia 20% do dinheiro, o equivalente a R$ 100 mil devido a um saque antecipado de um fundo financeiro, de acordo com os investigadores.
Além disso, também foram encontradas quatro transferências de imóveis de Cerveró para o nome dos filhos por valores bem abaixo dos de mercado. Três desses apartamentos estão localizados no mesmo prédio em Ipanema, no Rio, e foram transferidos por R$ 560 mil, embora valham R$ 7 milhões.
"Há indícios bem claros da tentativa de blindar o patrimônio e tirá-lo do alcance da Justiça", afirmou o o delegado da PF Igor Romário de Paula. Ainda de acordo com o delegado, o fato de Cerveró ter cidadania espanhola também é motivo de preocupação para os investigadores.
Cerveró viajou ao exterior em dezembro para passar as festas de fim de ano na casa de parentes da esposa, segundo o advogado. O ex-diretor só voltou um mês depois, sozinho. "Ele poderia dar um dane-se ao Brasil e ir para a Espanha, assim como tantos outros fizeram para escapar. Mas resolveu voltar e encarar a Justiça", disse o advogado. Ele também negou irregularidades nas transações financeiras do ex-diretor. Segundo Ribeiro, as transferências de bens são referente ao adiantamento de herança para os filhos.




