El Tigre, Venezuela - Apenas um dia após o ingresso da Venezuela ter sido aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, o presidente Hugo Chávez ontem se intrometeu em assuntos internos do Brasil. Declarou sua preferência explícita pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), na eleição presidencial de 2010 e lamentou o fato de o presidente Lula não poder se candidatar a um terceiro mandato.
Um dos argumentos usados pela base de Lula no Senado para aceitar o ingresso da Venezuela no Mercosul, a despeito do desrespeito de Chávez pelos princípios democráticos, era de que o Brasil não poderia intrometer-se em assuntos internos do país vizinho, devendo apenas de avaliar a relação entre as duas nações.
Para que sair?
"Eu lamento que Lula saia do governo. Por que ele tem de sair? Se um presidente governa bem e tem 80% (de aprovação popular), por que ele tem de sair?", perguntou Chávez, em entrevista a jornalistas brasileiros enquanto esperava o desembarque de Lula em um pista de pouso de El Tigre, na Venezuela. Chávez acrescentou que não entende por que a presidente do Chile, Michele Bachelet, também terá que deixar o cargo no próximo ano se conta com índice de aprovação de 60%. "Só deixo a pergunta no ar."
Ao afirmar que tem "certeza" de que Dilma será eleita para suceder a Lula no cargo 2010, Chávez disse ainda que ministra "tem peso, é uma grande mulher e tem a cabeça bem ordenada". "Ela será a próxima presidente do Brasil. Podem escrever", afirmou. A uma pergunta sobre qual será sua reação se a vitória for de um candidato opositor, o presidente venezuelano se contradisse e apelou para o princípio da não interferência em assuntos de outros países: "Não me meto em questões internas. Vocês são soberanos e podem fazer o que queiram. Eu não me meto", declarou.
Cristo
Chávez ainda comparou Lula a Cristo por ter chegado à Venezuela no momento em que a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou a entrada do país ao Mercosul. "Lula veio como Cristo anunciando o Evangelho. Só faltou o cabelo comprido."
O venezuelano ainda cumprimentou o Senado brasileiro. "Saúdo todos os senadores. Vocês já podem se considerar em território do Mercosul. Até os que se opuseram devem reconhecer que é do interesse de todos que a Venezuela entre no Mercosul."
Chávez contestou ainda tese de que seu país não deveria ser aceito no bloco por afrontar a cláusula democrática do Mercosul. "Somos um país com democracia plena, em plena liberdade de expressão. Que ninguém acredite neste conto do ditador Chávez que persegue jornalista. Em Honduras, sim, há ditadura. Lá matam gente, perseguem jornalistas e fecham canais (de televisão). Aqui não."
