
Brasília - Os questionamentos sobre o desrespeito aos princípios democráticos pelo governo venezuelano não foram suficientes para o Brasil bloquear o ingresso da Venezuela no Mercosul. A entrada do país de Hugo Chávez no bloco econômico foi aprovada ontem na Comissão de Relações Exteriores do Senado, por 12 votos favoráveis e apenas 5 contrários. A aceitação da Venezuela foi parte de um lobby de empreiteiros e empresários que têm interesses econômicos no país vizinho, somado à pressão do presidente Lula sobre os senadores.
Lula, que iniciou ontem sua quarta visita este ano à Venezuela, pôde dar pessoalmente a boa notícia a Hugo Chávez, na certeza de que o plenário do Senado confirmará a decisão da comissão. A base aliada trabalha para pôr a proposta em votação no plenário na semana que vem.
Como o Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul já foi referendado pela Câmara dos Deputados, o governo não terá dificuldade em aprová-lo também no plenário do Senado onde tem maioria. Apesar disso, a entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul ainda dependerá da aprovação do Congresso do Paraguai (os outros dois membros plenos do bloco, Argentina e Uruguai, já aceitaram o ingresso do país de Hugo Chávez).
Lobby
A força do lobby pró-Venezuela do empresariado brasileiro pode ser traduzida em números. Embora o Mercosul como um todo não tenha uma importância tão expressiva na balança comercial do Brasil (veja ao lado), isoladamente Venezuela já é o sexto maior destino comercial das exportações brasileiras. O país vizinho importa 70% de tudo o que consome e representa atualmente o maior superávit da balança comercial brasileira US$ 4,6 bilhões dólares, 2,5 vezes superior ao obtido com os Estados Unidos (US$ 1,8 bilhão).
Nos primeiros cinco anos de governo Lula, as exportações brasileiras para a Venezuela cresceram 758%, saltando de US$ 608 milhões para US$ 5,15 bilhões. Além disso, o governo tem destacado que cerca de 72% das exportações brasileiras para a Venezuela são de produtos industrializados, com elevado valor agregado e alto potencial de geração de empregos.
Foi diante desse quadro que empreiteiras e representantes de vários setores da produção atuaram no Congresso em favor da Venezuela, apesar do crescente autoritarismo de Hugo Chávez. Um dos líderes da base aliada relatou que o embaixador Paulo de Tarso Flexa de Lima foi à Comissão de Relações Exteriores, "com toda a elegância em defesa dos interesses da construtora Norberto Odebrecht", argumentando que se o Senado não ampliasse o Mercosul rapidamente, a Venezuela se abriria aos produtos chineses em detrimento dos brasileiros.




