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Daniel Gonçalves FIlho, em foto de 2012 | Felipe Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo
Daniel Gonçalves FIlho, em foto de 2012| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo

À frente das investigações que resultaram na Operação Carne Fraca, a Polícia Federal aponta que o fiscal federal agropecuário Daniel Gonçalves Filho teria contado com a ajuda da esposa, a contadora Alice, e de dois filhos, os advogados Rafael e Laís, para viabilizar o esquema de propinas pagas por empresas que são alvos de fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O chamado “núcleo familiar” da organização criminosa liderada por Daniel, nas palavras da PF, teria operado durante o período de cerca de sete anos em que ele ficou no comando da Superintendência Federal da Agricultura no Paraná (SFA-PR), braço do Mapa.

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Indicado pela bancada do PMDB do Paraná na Câmara dos Deputados, Daniel foi o representante máximo do Mapa no estado entre 25 de julho de 2007 e 19 de fevereiro de 2014, e também entre 16 de setembro de 2015 e 11 de abril de 2016, quando foi exonerado na esteira de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), e por decisão da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), na época à frente do Mapa.

“Do período investigado, pode-se constatar que a família de Daniel, esposa e filhos, não só participam dos negócios de Daniel, como deles se aproveitam e auxiliam”, diz trecho de um documento enviado pela PF à Justiça Federal. Segundo a PF, empresas abertas pelo “núcleo familiar” serviam como laranjas, apenas para receber propina de empresários que eram alvos de fiscalização do Mapa.

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Somente o advogado Rafael Nojiri Gonçalves, filho de Daniel, é sócio de seis empresas: Dalchem Gestão Empresarial; BG Consultoria Empresarial; Eagle Consult – Soluções Tributárias; Balaban & Gonçalves Advogados; Morretes Água Mineral; e Lara Consultoria Empresarial. A advogada Laís Nojiri Gonçalves, filha de Daniel, também figura como sócia das duas últimas empresas e também já foi sócia da BR Organ Fertilizantes do Brasil, além de funcionária da empresa Sadia S. A., entre 19 de setembro de 2011 e 2 de abril de 2012. Já Alice Mitico Nojiri Gonçalves, mulher de Daniel, também é sócia, junto com seu filho Rafael, da Dalchem Gestão Empresarial.

Entre os indícios de corrupção levantados pela investigação, estão a evolução patrimonial da família e o dinheiro guardado em espécie. Com ajuda da Receita Federal, a PF descobriu que Laís, por exemplo, registrou um salto de R$ 997 mil no seu patrimônio de 2012 a 2015. Além disso, em 31 de dezembro de 2015, ela declarou ter quase R$ 207 mil em espécie, o que representa mais de 20% do seu patrimônio total declarado. A evolução patrimonial de Rafael é ainda maior, de cerca de R$ 1,2 milhão naquele mesmo período. No último dia de 2015, ele também tinha mais de R$ 250 mil guardados em espécie.

Segundo a PF, “há uma nítida confusão patrimonial, além da declarada “criação” formal de patrimônio, na tentativa de justificar o incremento injustificado de recursos”. “São todas manobras típicas de lavagem de dinheiro, da qual toda a família participa, com nítido conhecimento”, acrescentou a PF, no documento enviado à Justiça Federal.

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Outras empresas também atuariam como laranjas de Daniel, sem que os nomes de sua mulher e dos seus filhos constem oficialmente nas composições societárias.

Para manter a organização criminosa dentro da SFA-PR, Daniel também contaria com a participação de pessoas em postos-chave na estrutura do órgão, como a servidora Maria do Rocio Nascimento, que também foi alvo da Carne Fraca. A fiscal federal agropecuária foi chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa), que é subordinado à SFA-PR.

Outro lado

Em entrevista à Gazeta do Povo, o advogado Vitor Sprada, que defende Daniel e a sua família, disse que por enquanto só haverá manifestação no processo, e não à imprensa. Ele informou que o prazo das prisões temporárias de Alice e de Rafael, autorizadas pela Justiça Federal, já foi encerrado. Laís, segundo ele, foi alvo apenas de mandado de condução coercitiva. Já Daniel foi preso preventivamente, ou seja, sem prazo definido para liberação. Ele deve ser ouvido pela PF até sexta-feira (31). A reportagem não conseguiu contato com a defesa da servidora Maria do Rocio Nascimento.

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