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Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, brinda com presidente da China, Hu Jintao, em Pequim, em 12 de abril de 2011. Dilma obteve uma série de acordos empresariais que sinalizam que a China está sensível às preocupações brasileiras com o desequilíbrio nas relações econômicas[|**|] | REUTERS/Jason Lee
Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, brinda com presidente da China, Hu Jintao, em Pequim, em 12 de abril de 2011. Dilma obteve uma série de acordos empresariais que sinalizam que a China está sensível às preocupações brasileiras com o desequilíbrio nas relações econômicas[|**|]| Foto: REUTERS/Jason Lee

A China recolocou suas relações com o Brasil nos trilhos ao prometer à presidente Dilma Rousseff bilhões de dólares em investimentos, o que não só comprova o poderio econômico do gigante asiático como também atenua, ao menos por enquanto, as preocupações brasileiras com desequilíbrios comerciais.

A enxurrada de acordos comerciais realizada durante a visita de Dilma contrasta fortemente com o que se viu no mês passado durante a visita ao Brasil do presidente dos EUA, Barack Obama, que ofereceu muitos elogios à ascensão econômica brasileira, mas poucas ofertas concretas.

Dilma embarcou para a China sob queixas de industriais brasileiros contra a dificuldade de concorrer com a importação de produtos chineses baratos.

Tais reclamações têm sido muito mais ouvidas pelo governo desde a posse de Dilma, em janeiro, já que ela parece buscar uma relação mais equilibrada com a China --país que hoje é o maior parceiro comercial do Brasil, além de ser um tradicional cliente dos produtos agrícolas e de mineração do país.

Questões espinhosas relativas a câmbio e comércio foram praticamente deixadas de lado durante a visita de Dilma a Pequim, e devem continuar assombrando as relações bilaterais. No entanto, as autoridades brasileiras dizem que a presidente conseguiu promover o seu maior objetivo, que era diversificar as relações comerciais e de investimentos, levando-as além dos setores de matérias-primas, e atingindo produtos de maior valor agregado.

Dilma evitou abordar publicamente a questão da excessiva desvalorização da moeda chinesa, o que prejudica os exportadores brasileiros e de outros países. Mas ela obteve uma série de acordos empresariais que sinalizam que a China está sensível às preocupações brasileiras com o desequilíbrio nas relações.

"A agenda com a China parece muito mais promissora do que com os Estados Unidos", disse André Nassar, diretor da consultoria comercial Ícone, de São Paulo.

A visita de Obama ao Brasil, no mês passado, destinava-se em parte a aproveitar a postura mais crítica de Dilma com a China, cuja crescente influência no Brasil e no resto da América Latina afetou o tradicional domínio econômico dos EUA na região.

Mas Obama deixou poucas promessas concretas no país, especialmente em comparação à China, que no ano passado investiu cerca de 17 bilhões de dólares no Brasil, em setores que incluem petróleo e indústrias.Segundo analistas, Dilma tem adotado uma política externa mais pragmática do que a do seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Essa impressão foi reforçada com o fato de ela ter trazido da China promessas de investimentos bilionários, em áreas tão variadas quanto pesquisa e desenvolvimento ou alimentos industrializados.

Combinando palavras e dinheiro

A empresa taiwanesa Foxconn, que tem forte presença na China continental, prevê fazer um investimento maciço numa fábrica de aparelhos eletrônicos no Brasil --o que é o tipo de setor que o governo Dilma gostaria de estimular, por gerar muitos empregos.

Paralelamente, a Embraer assegurou uma encomenda de até 1,4 bilhão de dólares para seu jato de porte médio E-190, além da autorização para montar o jato Legacy na China.

Após anos de negligência, os canais de comunicação de alto nível entre os dois governos foram retomados, permitindo que diferenças sejam resolvidas mais rapidamente, disse à Reuters o chanceler brasileiro, Antonio Patriota.

"(A visita) superou as expectativas, acho que eles realmente compreenderam e abordaram as preocupações do Brasil", afirmou.

O regime comunista chinês não enfrenta as restrições parlamentares nas quais o governo Obama esbarra para oferecer concessões comerciais ao Brasil, e Pequim também parece demonstrar mais interesse que Washington pelo gigante sul-americano, que é crucial para oferecer alimentos e metais ao mercado chinês, segundo Nassar.

"O Brasil lhes oferece segurança alimentar. Eles desejam e precisam desta relação para funcionar."

Em um sinal de que o Brasil permanecerá na tela do radar de Pequim nos próximos meses, o ministro de Comércio da China, Chen Deming, vai comandar no segundo semestre uma delegação comercial que virá ao Brasil consolidar possíveis negócios.

Isso inclui o interesse chinês no trem-bala Rio-São Paulo, um projeto de 21 bilhões de dólares, e também uma linha de crédito que a Petrobras está negociando com bancos chineses.

Em troca desses investimentos, o Brasil concordou em acelerar o seu reconhecimento da China como uma economia de mercado, o que poderia dificultar a aplicação de tarifas antidumping sobre importações.

Apesar de ambos os lados prometerem valorizar o comércio de produtos com alto valor agregado, os brasileiros dizem que ainda restam barreiras tarifárias sobre vários em produtos, como aço, frango e soja processada.

"Eu não acho que eles estavam simplesmente tentando ser bonzinhos, mas veremos nos próximos meses se eles cumprem suas promessas", disse o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, que participou das reuniões de Dilma na China.

A presidente evitou a questão do iuan excessivamente desvalorizado, dizendo que o melhor fórum para tratar disso seria o G20 (grupo de grandes economias desenvolvidas e emergentes).

O desequilíbrio cambial, intensificado pela forte valorização do real, estimula uma onda de importação de produtos chineses como eletrodomésticos e veículos, e contribui para piorar ainda mais a balança comercial brasileira.

A questão do contrabando de produtos chineses, outro problema que assusta os industriais brasileiros, tampouco foi discutida durante a visita de Dilma a Pequim. Autoridades alfandegárias dizem que muitas embarcações atracam nos portos brasileiros trazendo cargas chinesas com documentos adulterados, o que reduz seu preço e sua qualidade.

"Resta muita coisa por fazer. Eles vão precisar de muito mais cúpulas para construir uma confiança e realmente destravar o potencial desta relação", disse Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.

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