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Bode dá título ao município de Tejuçuoca, no Ceará | Eliseu Andrade Joca/Prefeitura de Tejuçuoca
Bode dá título ao município de Tejuçuoca, no Ceará| Foto: Eliseu Andrade Joca/Prefeitura de Tejuçuoca

A principal vitrine do município de Tejuçuoca, cidade do semiárido cearense que tem o título de "capital estadual do bode", agora é alvo de um programa criado pela prefeitura: o Bolsa Bode.

No último dia 10, foram apresentados os 20 jovens selecionados para participar do programa. Metade do grupo ganhará dez cabras. A outra metade, dez ovelhas.

Um auxílio mensal de R$ 100 ajudará a cobrir gastos com vacinas e ração, por exemplo. Os jovens passarão por oficinas para aprender a criar os animais, e a prefeitura promete comprar a carne e o leite produzidos.

"Tenho recebido elogios dos colegas prefeitos, de órgãos de governo. A questão do Bolsa Bode criou um marketing né? Mas o essencial do projeto é a geração de renda, de inclusão social. Não recebi nenhuma crítica até agora, só muitos parabéns e elogios", conta o prefeito da cidade, Edilardo Eufrásio (PSDB), que está no segundo mandato e avisa que não pretende se candidatar a outro cargo nas eleições do ano que vem.

O bode é o xodó da cidade de 15 mil habitantes. Em muitas famílias, conta o prefeito, ele é considerado animal de estimação, alimentado com mamadeira e criado dentro de casa. "As pessoas têm uma estima pelo bode. Às vezes, fica um filho rejeitado, a cabra não consegue criar porque falta leite."

O animal também dá nome a um festival realizado todos os anos, o Tejubode.

"Esse ano, a melhor sobremesa eleita foi o sorvete de leite de cabra (...) colocamos [durante a festa] mais de 100 mil pessoas no município", conta o prefeito. Bolsa Família

Sem indústrias, Tejuçuoca garante a maior parte de sua renda com a agricultura familiar, com cultivo de milho, feijão e criação de caprinos e ovinos. "O orçamento de 2009 foi de R$ 13 milhões, mas só conseguimos a metade disso. Houve essa crise e afetou todo o município. A gente esperava outras receitas, mas tivemos problemas com as chuvas", calcula o prefeito.

Para estimular a produção, restou recorrer à "vitrine" da cidade: o bode. O único porém, conta o prefeito tucano, era não copiar a fórmula do Bolsa Família.

"O Bolsa Família é um programa que traz apoio ao pequeno produtor, mas a gente sentiu que ele tinha que dar um retorno. Por exemplo, tem prefeito que está dando R$ 50 a mais, o governo já está dando o Bolsa Família, aí vou dar mais R$ 40? Não achei interessante. Quis criar um programa que tivesse produção. Queria dar um valor, mas que gerasse renda para o município e para aquela família", explica.

Cerca de 40 jovens se inscreveram para participar do programa. Foram selecionados aqueles que estavam dentro da faixa etária indicada – entre 18 e 27 anos, com renda familiar baixa e incluídos no Bolsa Família. O principal critério de seleção, no entanto, foi a vocação.

"Na ficha de inscrição, cada um teve que explicar porque queria participar do programa e seu objetivo. O critério era a gente sentir, pela redação, que ele queria participar e não só receber o benefício, o que mostra vocação para a atividade."

Bolsa não é "aposentadoria"

Os selecionados receberão "emprestado" um reprodutor para fazer o rebanho aumentar. O programa terá duração de 24 meses. O auxílio mensal de R$ 100 será concedido apenas nos 12 primeiros meses e dependerá do cumprimento de metas como concluir cursos de capacitação, implantar infra-estrutura etc.

Nos outros 12 meses seguintes, os beneficiados continuarão a ter a compra do leite e da carne garantidos pela prefeitura, mas deverão se manter sozinhos.

"Os programas são necessários, mas tem que se pensar numa política de futuro, criar programas estimulando a atividade produtiva. (...) Senão, fica como se fosse uma aposentadoria. E a pessoa, quando é cortada, fica revoltada, acha que aquilo tinha que ser a vida inteira. Tem que conscientizar que esse programa é temporário", diz o prefeito.

Ao final de cada ano, os bolsistas terão que devolver um animal, que será "reinvestido" em novas turmas do "Bolsa Bode". A compra da carne e do leite, que terão preços fixos, atenderá necessidades da prefeitura.

Segundo Eufrásio, ao menos 30% da merenda escolar do município têm que ser adquirida da agricultura familiar. A carne poderá ser transformada em hambúrgueres, espetinhos e lingüiça em uma unidade de processamento da prefeitura. O leite irá abastecer um centro que combate a desnutrição. O prefeito também diz que quer inscrever os futuros produtores em programas de compra subsidiada do governo federal, para garantir a comercialização.

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