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Após filmar Lula - O Filho do Brasil (foto), que está em cartaz em todo o país, a família Barreto se prepara para novas gravações inspiradas em políticos | Divulgação
Após filmar Lula - O Filho do Brasil (foto), que está em cartaz em todo o país, a família Barreto se prepara para novas gravações inspiradas em políticos| Foto: Divulgação

Uma força capaz de humanizar os políticos

A exposição da vida dos políticos que ainda estão em exercício em Brasília pode mudar o rumo de suas carreiras, na avaliação de cientistas políticos. Tudo pelo potencial que a sétima arte tem de humanizar essas figuras públicas, como explica Cláudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

No caso de Fernando Collor, por exemplo, o escândalo do impeachment de 1992 poderia ser amenizado pelos feitos de sua família na política: o avô foi braço direito de Getúlio Vargas. Já com José Sarney, seu histórico, de sucessor heroico de Tancredo Neves, em 1985, seria capaz de ofuscar as recentes polêmicas em torno dos atos secretos no Senado. "Mas tudo depende do lado que o diretor e o autor querem tomar", pondera Couto.

Para José Paulo Martins, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o brasileiro associa os escândalos a determinados políticos, mas nem por isso deixa de ter curiosidade sobre sua história narrada em um filme. "As pessoas gostam de ver a vida dos políticos porque eles são populares. O cargo de presidente é o de maior visibilidade."

Vitrine

Para o cientista político, o cinema se tornou um ‘filão’ para candidatos na esteira da popularização da tevê como um canal entre eles e seus eleitores. "A cultura de massa é importante porque hoje as eleições são sustentadas pelo carisma do candidato e sua presença e não mais pelo apelo do partido." Poucas vitrines são tão boas para disseminar esse carisma como os longas-metragens. "Os políticos podem mostrar do que são capazes, seus projetos. Isso pode mexer com as pessoas", diz Martins. "Mas nem todo mundo é bonzinho ou 100% mal. E o eleitor sabe disso."

Agência Estado

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Eles não viajaram por 13 dias em um pau de arara de Pernambuco a São Paulo, não engraxaram sapatos nas ruas e não tiveram o dedo mutilado em um torno mecânico. Ainda assim, esses outros presidentes fizeram a seus modos e estilos partes da História que dariam filmes. Jânio Quadros e sua vassoura; Tancredo Neves e a turbulenta abertura política; Sarney e os atos secretos; Fer­­nando Collor e sua "demissão" do Palácio do Planalto; Getúlio Vargas e o disparo no próprio coração. Na esteira de Lula – O Filho do Brasil, que estreou no primeiro dia do ano, a classe dos políticos, que sempre manteve distância das salas de cinema, acordará seus fantasmas para aparecer na tela grande.O cineasta Silvio Tendler, que já ganhou prêmios com longas sobre João Goulart Jango, de 1984) e Juscelino Kubitschek (Os Anos JK - Uma Trajetória Política, de 1980), abre as portas do cine-Planalto. Há 20 anos debruçado sobre fitas K7 e arquivos de Tancredo Neves, ele anuncia que fará enfim a estreia do longa A Travessia de Tancredo em abril. O filme sairá no ano em que fecham três décadas da morte do político e no qual ele completaria 100 anos de idade.O segundo projeto de Tendler será sobre José Sarney, o vice do político mineiro, que acabou assumindo a presidência do país em 1985. Foi durante uma entrevista com o presidente do Senado que veio a inspiração ao cineasta, mesmo sob ventos e tempestades que assolavam a carreira do político. "A história de vida dele pode ser tão dura quanto a do Lula", acredita Tendler. Sarney, contudo, não deve ganhar um longa chapa branca. Apesar do entusiasmo, o cineasta não descarta retratar polêmicas como os escândalos relacionados aos atos secretos do Senado, revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo em 2009.Depois de Lula, a família Barreto tem outro alvo na extremidade oposta do ringue eleitoral que se ergueu em 1989. Fernando Collor de Mello vai ter sua vida em filme rodada por Bruno Barreto, irmão de Fábio (diretor de Lula) e filho de Luiz Carlos. A relação de seu avô materno Lindolfo Collor com Getúlio Vargas na Revolução de 1930, o impeachment de 1992 e a promiscuidade nas relações entre poder e imprensa na época, tudo vira caldo para a trama. "É uma história forte para o cinema", diz Barreto pai. O projeto terá como base o livro Notícias do Planalto, de 1999, do jornalista Mário Sérgio Conti.

Fernando Henrique, pelo PSDB, ganha um mimo mais fofo. Ao lado de Miguel Darcy e da cientista política Ilona Szabo, o ex-presidente terá em 2011 o documentário de nome forte Rompendo o Silêncio, que propõe uma discussão sobre a regulamentação das drogas no País. "Ele quer mostrar que o certo não é reprimir", diz Darcy. Haverá depoimentos dos também ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter, dos Estados Unidos; do médico Drauzio Varella e de mães que perderam filhos para o narcotráfico.

Jânio Quadros, mesmo sério, fazia humor. Muitos riam só de ouvi-lo falar. E, assim, peripécias como a proibição do uso de biquínis nas praias por mulheres até sua atrapalhada renúncia estarão no longa do ator e diretor Paulo Figueiredo. Ao lado de Nelson Valente, ele prepara uma minissérie de 12 capítulos para tevê e um filme orçado em R$ 13 milhões. A Record já namora o projeto, mas Guel Arraes, da Globo, também se lança como candidato a diretor. Cássio Scapin e Carlos Vereza são cotados para o posto de Jânio.E a lista se fecha com um projeto ambicioso do roteirista Lauro César Muniz, que quer narrar nos cinemas os 19 dias que antecederam o 24 de agosto de 1954, quando o presidente Getúlio Vargas deu cabo da própria vida para entrar para a História. Não que precisasse. "O suicídio, visto vulgarmente como covardia, adquire um tom épico de atitude política de um homem excepcional", diz Lauro César. A direção será de Daniel Filho.

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