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Se a tarifa do ônibus de Curitiba baixasse hoje para R$ 0,50, sabe quanto os empresários do transporte coletivo perderiam? Nada. A cada vez que um passageiro passasse pela catraca, continuariam pingando R$ 2,99 na conta dos Gulin e dos Bertoldi. Graças às regras da licitação feita pelo então prefeito Beto Richa, gerir os ônibus de Curitiba é um negócio de risco zero. O dólar pode cair ou subir. Eike Batista pode afundar. As turbas nas ruas podem levantar cartazes. E os empresários continuarão recebendo a tarifa técnica.

A baixa na tarifa anunciada pelo prefeito Gustavo Fruet, assim, tem um pouco de demagogia. Anunciou-se que uma parte dos R$ 30 milhões para cobrir o novo rombo da tarifa sairá do dinheiro que os vereadores economizaram. Meia verdade. O dinheiro sairá é do bolso de cada um de nós; os vereadores apenas passaram a desperdiçar um pouco menos do que pagamos de impostos. Fôssemos cobrar o que eles torraram indevidamente em gestões anteriores e aí sim a coisa ficaria interessante.

O mesmo vale para a segunda fonte de recursos, o dinheiro que a prefeitura deixará de gastar em propaganda da Copa. Continuamos, eu e você, subsidiando o transporte com impostos. A terceira fonte é ainda do mesmo tipo. O ISS que as empresas pagam deixarão de financiar outra coisa e passarão a ser investidos de volta no transporte. Assim, ninguém economiza nada. O que o sujeito deixa de pagar na hora de entrar no busão, paga quando chega o carnê do IPTU.

A boa notícia vem do que poderá ser feito no futuro. Primeiro, porque a prefeitura está vendo se as empresas pagaram seus impostos nos últimos anos como deviam. A fiscalização começou em uma das permissionárias e o resultado é interessante. Na prefeitura, já se diz que se os números forem os mesmos nas 11 fiscalizações, o valor que elas terão de pagar em atrasados poderá somar vários milhões. Aí sim estaremos falando em redução de custos, não em tapa-buracos. Um porém: as empresas dizem que a Urbs recolheu tudo na fonte. Se não repassou a quem devia, seria problema da própria prefeitura.

Atualmente, a Urbs também promove uma inédita auditoria nas contas do sistema. A dúvida que existe há anos é se o sistema custa mesmo o que se diz que ele custa. Ou seja, se a tarifa técnica, aquela que serve para remunerar as empresas, não poderia ser mais baixa. Gasta-se tudo isso em pneu? Em combustível, mesmo com motores mais modernos? O fato de eles comprarem milhões de litros não deveria levar a um desconto maior no preço?

Até agora, a auditoria ficou na primeira metade das contas, aquela que é visível do ponto de vista de quem está fora das empresas. Um segundo passo seria verificar a contabilidade dos três consórcios que, sem nenhuma concorrência, venceram a licitação e têm contrato até 2026. Dante Gulin, presidente do sindicato das empresas, garante que abrirá os dados a quem quiser ver.

Gustavo Fruet prometeu enquanto era candidato que iria para o confronto quando fosse necessário. Até agora, no semestre inicial, brigou pouco e falou bastante. O ICI, que na campanha era pintado como o grande problema das contas públicas, até onde se saiba, continua intacto, com os mesmos contratos e recebendo uma bolada da prefeitura como acontecia antes. A auditoria na Urbs parece ser o primeiro tento marcado pelo prefeito.

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