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"Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei/ Uma cidade que fabrica sua própria lei/ Onde se vive mais ou menos como na Disneylândia."

Trecho de "Luiz Inácio", letra dos Paralamas do Sucesso.

Faça um teste: chegue em seu trabalho dizendo que gastou R$ 30 em uma viagem de táxi. Peça para ser reembolsado. Quando lhe pedirem a nota que comprove o pagamento diga que você esqueceu de pedir. Se mesmo assim lhe ressarcirem, você não é apenas um sujeito de sorte: você é um deputado federal.

Sim, caro cidadão-contribuinte-eleitor. Essa é a resolução de mandato novo de nossos representantes. Além de articularem um aumento de 26% para seus salários – já que o de 91% não vingou – eles querem liberdade para gastar parte de suas verbas indenizatórias sem precisar prestar qualquer tipo de contas dos gastos.

Funciona assim: os deputados hoje recebem, além do salário – e de uma dezena de benesses –, uma verba para indenizar cada gabinete por seus gastos. Gastou em selos, telefone, combustível, táxi etc? Até o limite de R$ 15 mil, tudo pode ser reposto. Agora, suas excelências querem que R$ 5 mil desse total sejam repostos sem nota ou qualquer outro tipo de comprovação do gasto.

Obviamente, todos confiamos que nossos deputados usarão bem o dinheiro, pensando que cada centavo foi pago com o meu e o seu suor. Mas vamos supor que estivéssemos em um país onde não houvesse motivos para a população confiar no Congresso Nacional. Nesse quadro, que felizmente não é o nosso, os eleitores poderiam imaginar que a verba indenizatória serviria para pagar champanhe, viagens a Miami e outros luxos desnecessários para a atividade parlamentar. Com uma vantagem: sobre esses R$ 5 mil, que pelo menos em teoria não são salário, não incide Imposto de Renda.

Como queremos manter nossa crença no Parlamento, vale acreditar com todas as forças na explicação dada à imprensa nesta semana pelo deputado federal Vírgilio Guimarães, do PT de Minas Gerais. "Os parlamentares têm reclamado muito disso. É o sujeito que pega um táxi e esquece de pedir a nota. Imagina essa situação desagradável de um deputado ter que aumentar uma nota para compensar a outra. É natural que haja uma flexibilidade."

Então, tá. Amanhã, tente você explicar a seu patrão que o mundo moderno exige uma certa flexibilidade e que você quer ser reembolsado por um táxi sem nota. A não ser que você more em Brasília, já dá para adiantar: não vai dar certo.

P.S. – Só fazendo as contas. São R$ 5 mil por mês. São R$ 60 mil por ano. Vezes 513 deputados. Ou seja: são R$ 36 milhões que vamos desembolsar por ano sem saber para onde está indo o dinheiro.

Paraíso

O governador Roberto Requião deve estar comemorando o fim do inferno astral. Na época de seu aniversário, semanas atrás, enfrentou crise com o seu vice-governador, Orlando Pessuti, demissão de Sérgio Botto de Lacerda e votação que transformou Hugo Chávez em persona non grata no Paraná. Agora, passada a data, conseguiu cancelamento de multa, devolução de R$ 100 milhões ao Paraná e emplacou Reinhold Stephanes no Ministério.

No Pará

A Justiça do Pará deu uma decisão contra a Incenxil, empresa proprietária de uma área de 4 milhões de hectares na Terra do Meio. A empresa poderia ser indenizada por ceder parte de suas terras a uma área de preservação ambiental. O Ministério Público entrou com uma ação para impedir a indenização, alegando que a fazenda – que tem o tamanho da Holanda e da Bélgica juntas – pode ter sido grilada. Os promotores afirmam que a fazenda pertence ao grupo paranaense CR Almeida, que nega qualquer ligação com o caso.

Homenagem

Isso é que é vontade de homenagear. A Câmara Municipal de Londrina decidiu dar título de cidadão honorário a Beto Richa. Será entregue no próximo dia 4. O curioso é que Beto nasceu em Londrina. Os assessores do prefeito acharam estranho o convite e ligaram para confirmar. Receberam a resposta de que é isso mesmo. Richa será cidadão nato e honorário ao mesmo tempo.

Colgate

O prefeito Beto Richa tirou o aparelho da parte de cima dos dentes. Em dois meses, tira a parte de baixo. Vai para a campanha do ano que vem de sorriso novo.

Isto também é política

Levantamento do IBGE mostra que 79% da população brasileira nunca mexeram na internet. Não se trata de uma questão de gosto, mas de falta de oportunidade. O "apartheid digital", que vem sendo denunciado há mais de dez anos por Rodrigo Baggio, é cada vez mais real. Quem conhece a tecnologia ganha todos os seus benefícios e melhores salários. Os excluídos? Bom, esses ficam com o de sempre. E não é muito.

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