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Diz a lenda que os norte-americanos, durante a corrida espacial, teriam gastado anos para conseguir uma caneta que fosse eficiente em todas as situações de gravidade zero, inclusive com os astronautas de cabeça para baixo. Milhões em investimentos, cientistas dedicados, testes e mais testes. Os soviéticos teriam resolvido o problema de modo mais rápido e econômico. Usaram lápis.

Pode ser só uma historinha tola. Mas tem tudo a ver com o transporte de Curitiba. Aqui, há décadas discutimos se vamos fazer metrô, e de que tipo. Um prefeito prometeu bondes elétricos (e lá se vão três décadas). Outro disse que o caminho era o Veículo Leve sobre Trilhos. Depois mudou de ideia e queria um monotrilho. Veio outro ainda e decidiu que o melhor era o metrô convencional, enterrado. Agora chega mais um e diz que é preciso rever o projeto, que já está em R$ 4 bilhões, só para uma linha. E sabe-se lá se um dia fica pronto.

Enquanto isso, o prefeito de São Paulo, uma cidade com o trânsito muito mais caótico do que o de Curitiba, inventou o lápis. Em sete meses de gestão, Fernando Haddad conseguiu fazer com que o transporte público paulistano se tornasse mais rápido e eficiente. Igualmente importante para os senhores que disputam eleições, conseguiu apoio de 88% dos cidadãos. Não precisou escavar, contratar empreiteiras e gastou apenas com tinta. A solução foi criar faixas exclusivas para ônibus, simples assim.

Desde janeiro, a prefeitura de São Paulo criou 124 quilômetros de vias exclusivas para ônibus na cidade. Nove vezes o tamanho da suposta linha de metrô que Richa, Ducci e Fruet vêm se batendo para fazer. Até o fim do ano, serão 220 quilômetros. O resultado é que em alguns deslocamentos, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ir de ônibus já é meia hora mais rápido do que ir de carro. Segundo o Datafolha, mesmo entre os que andam de carro a aprovação da medida é de 77%.

É claro que as canaletas exclusivas de Curitiba são melhores: o expresso é rápido e não concorre com os carros. Agora, em certas vias, pode até fazer ultrapassagens. Mas as canaletas são caras e não há como espalhá-las pela cidade toda. O metrô também poderia ajudar, evidentemente. Mas na mais otimista das previsões ficará pronto em uma década – se é que um dia vai sair. E a população tem pressa para se deslocar.

Na Câmara de Curitiba, o vereador Valdemir Soares chegou a apresentar um projeto criando faixas exclusivas em ruas com mais de três pistas. No entanto, o veredicto foi que o Legislativo não podia palpitar sobre o assunto. Leis sobre ônibus têm de partir da prefeitura. O caso foi engavetado. A prefeitura diz que tem planos para que o Inter 2 ande em faixas exclusivas e que pensa em adotar o sistema. Mas é preciso esperar outros orçamentos. Também pediu dinheiro ao governo federal para pintar faixas. Mas nada para já.

Gustavo Fruet vem tomando medidas importantíssimas sobre o transporte coletivo. A principal delas é a auditoria do sistema, que tem apontado erros importantes do passado. Seu resultado no longo prazo pode ser muito mais importante para a cidade do que qualquer medida corretiva de curto prazo. Mas não há porque não fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Em São Paulo, a prefeitura foi rápida e os ônibus passaram a andar. Aqui, as coisas continuam na velocidade de sempre. A 17 km/h.

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