• Carregando...

A boa notícia da semana: desemperrou a licitação dos computadores de cem dólares. O Minis­­­tério da Educação, finalmente, depois de mais de um ano de espera, vai comprar os laptops para distribuir aos alunos. Lado ruim: não saíram por cem dólares cada, e sim por trezentos (a CCE ganhou a concorrência com R$ 550 por unidade). Lado bom: apesar da demora, o governo conseguiu diminuir significativamente o preço (durante o processo, o menor preço oferecido chegou à casa de R$ 800).

A chegada dos computadores às mãos dos alunos da rede pública é um grande passo para acabar no Brasil com o apartheid digital – esse mundo em que os cidadãos aptos para usar máquinas sofisticadas conseguem os melhores empregos e os melhores salários, deixando todos os outros para trás, comendo poeira e o pão que o diabo amassou. Filhos de "inimpregáveis", se mexerem em teclados e programas desde cedo, poderão ter uma chance melhor na vida. E é para isso que servem os governos.

Nem tudo são flores: os computadores não vão chegar a todos por enquanto. E revelaram o quanto o Estado é lento para resolver problemas simples. A burocracia manteve os alunos na exclusão por mais um ano. E o caso todo dos computadores lembra o quanto o país está atrasado para pôr seus cidadãos no século 21: o dinheiro do Fust, um fundo de telecomunicações que deveria há anos ser usado para a inclusão digital só agora recebe sua destinação adequada.

Na mesma semana em que o país pode comemorar a entrada de seus filhos no mundo digital, um pequeno escândalo educacional azedou os ânimos no Paraná. Começou com um cidadão londrinense. Indignado como só os habitantes de Londrina sabem ficar (que o digam os prefeitos e vereadores da cidade) resolveu que a situação de seus dois filhos não podia ficar como estava. Os dois haviam sido aprovados na escola. Mas, segundo ele, com notas que deviam ter feito qualquer um ficar mais um ano na mesma série.

O problema estaria no conselho de classe, que analisa a situação de estudantes na corda-bamba: não alcançaram todos os requisitos para passar de ano mas podem merecer um empurrãozinho final para não ficar para trás à toa. Os empurrões, no entanto, que deveriam servir só para alguns centímetros, estariam virando arremessos de longa distância. Gente reprovada em várias matérias e com notas muito baixas estaria sendo lançada às séries seguintes. As reclamações vieram de pais, professores e até de alunos.

A suspeita é de que o governo teria dado ordem de aprovação coletiva. A estratégia melhoraria as estatísticas do estado e ainda garantiria mais verbas federais, dada a boa nota no Ideb. A secretária da Educação, Yvelise Arco-Verde, negou. Diz que não há aprovação automática e que 200 mil reprovam todos os anos nas escolas do Paraná.

Claro, a intenção do governo e dos conselhos de classe pode ser das melhores – é sempre necessário conceder o benefício da dúvida. Querem ajudar os alunos, diminuir os problemas sociais, reduzir a evasão escolar. Mas quando os próprios beneficiados começam a reclamar do tamanho da esmola, parece que há algum exagero sendo cometido.

E de nada adianta pôr computadores, de última geração que fossem, nas mãos dos nossos estudantes, se ao fim e ao cabo eles não conseguem aprender nem mesmo o que está sendo posto no quadro-negro.

Escondendo

O presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus, vem prometendo há tempos que vai divulgar os diários oficiais da Casa. Chegou a dizer que eles iriam entrar no Portal da Transparência. Depois, voltou atrás. Os diários estão entre os papéis menos vistos do estado. Se alguém achar um, pode mandar para qualquer boa biblioteca, que o jornal entrará para a lista de documentos raros. Pode ser que esse ano, de eleição, alguma coisa melhore.

Mostrando

Mas, uma curiosidade. Enquanto o diário oficial da Assembleia, que deve ter informações relevantes para os cidadãos, continua oculto, um outro periódico produzido pelos deputados está à disposição de quem quiser. Basta entrar no site oficial e lá estão, página a página, foto a foto, todas as edições do Jornal da Assembleia – o tipo do panfletinho feito não para dar transparência e, sim, só para aumentar a visibilidade dos deputados. Textos elogiosos, imagens posadas, tudo produzido pela assessoria dos parlamentares. Ne­­­nhum interesse público.

Qual a diferença?

Agora, a dúvida que fica é: se há tempo, dinheiro, disposição e condições técnicas para pôr o jornalzinho autoelogioso no ar, o que impede que se faça o mesmo com os diários oficiais? Resta lembrar que os diários ficaram de mais difícil acesso depois que repórteres abelhudos fuçaram neles no único lugar disponível (a biblioteca da própria As­­sembleia) e acharam o que não deviam. Depois disso, os jornais foram para encadernação. E nem mais em papel tem sido possível acessá-los.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]