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Comecei a carreira cobrindo política para este jornal. Foi no distante ano de 2000. O mundo era outro na época. Os atentados a Nova Iorque ainda não tinham acontecido. O Banestado era nosso. E as Paquitas ainda existiam. Nelson Justus, no entanto, já era o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná.

Me lembro de fazer, logo nos primeiros meses, uma matéria sobre os deputados estaduais – uma matéria sobre quanto eles recebiam, incluindo salários e todas as benesses. No outro dia, estava ao telefone com Justus. E ele reclamava do texto. Lembro que o argumento mais importante dele é que seria uma injustiça criticar o Legislativo, justo naquele momento em que ele, como novo presidente, estava trabalhando para tornar tudo mais sério e transparente.

Pensei com os meus botões que, em certa medida, ele poderia ter razão. A crítica aos salários era justa. Mas eu imaginava que talvez o novo presidente tivesse mesmo boas intenções. Justus tinha assumido a presidência depois da morte de Aníbal Khury. Poderia mesmo ser o começo de uma nova era.

O atentado do 11 de setembro veio. O Banestado foi parar nas mãos do Itaú. As Paquitas se extinguiram. E Justus, nove anos depois, é o presidente da Assembleia. Ficou fora durante um período, quando foi substituído por Hermas Brandão. O fato de os dois serem os únicos presidentes na era pós-Aníbal já mostra que nem tudo mudou na Assembleia: a alternância de poder continua no mesmo passo, pelo menos.

Agora, vem o escândalo da abdução dos diários oficiais da Assembleia. E qual é o discurso de Nelson Justus? Diz ele que precisa de um pouco de paciência, que em breve todos os problemas serão resolvidos. Os diários foram só ser encadernados, depois digitalizados e em breve, num dia próximo, voltarão. E logo, logo teremos o Portal da Transparência também!

O ponto é: quanto teremos de esperar? Os dez anos que se passaram desde que Aníbal Khury morreu não foram suficientes? Dez porcento de um século não é suficiente para mudar a mentalidade de uma Assembleia? Quantas desculpas mais o atual presidente dará para não cumprir com os seus deveres mais básicos, como a publicidade de seus atos?

Num país onde a Justiça fosse mais rigorosa ou a população mais impaciente – e mais ciente de seus direitos –, a ausência dos diários oficiais revelada por esta Gazeta seria motivo de revolta e indignação. Aqui, a matéria talvez renda algum prêmio para os pacientes repórteres que insistem em denunciar o que está errado.

Mas, quase dez anos depois, já tenho dúvida de que isso seja suficiente para fazer com que os donos do poder na Assembleia mudem de postura daqui para a frente. Torço para estar errado.

Nosso papel

Uma das coisas de que mais gosto em Barack Obama é o fato de que ele lembra sempre a seus eleitores, a sua plateia, que não adianta ficar colocando a culpa de tudo nos políticos. Que é preciso que nós mesmos façamos por nós. Foi o que o presidente dos EUA fez, mais uma vez, em seu discurso a uma plateia de negros nesta semana. "Para nossas crianças se destacarem, nós devemos aceitar as nossas próprias responsabilidades. Isso significa pôr de lado o videogame e colocar nossas crianças na cama num horário razoável. Significa ir às reuniões da escola, ler para os nossos filhos e ajudá-los no dever de casa". Palmas para Obama.

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