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Em setembro passado, esta coluna falava que a Secretaria de Cerimonial e Relações Internacionais, criada em junho de 2013, era uma instituição fantasma. A secretaria, tudo indicava, teria surgido do nada apenas para abrigar Ezequias Moreira, eterno amigo do governador Beto Richa (PSDB) e pivô do escândalo da sogra fantasma. Instalada à beira de uma audiência judicial no processo criminal contra Ezequias, a secretaria não deixava rastros de sua existência para quem quisesse acompanhá-la.

De lá para cá, muito mudou. Duvida? Pois preste atenção às novidades. A secretaria ganhou um site próprio, veja só. Dentro da página oficial do governo, deixou de existir o vácuo anterior. A antiga coordenadoria de cerimonial foi substituída formalmente pela secretaria. Ao contrário do que ocorria antes, há agora um telefone de contato para quem quiser ver se o secretário está trabalhando (é o 3350-2724, caso alguém tenha interesse). E, para quem duvidava da importância de uma secretaria do gênero, ainda mais em tempos de vacas magras como os que enfrenta o governo do estado, há até um organograma mostrando que Ezequias está à frente de quatro coordenações.

Explica o organograma que Ezequias é responsável pela Coordenação do Cerimonial e pela Coordenação de Relações Internacionais. Mas não é só: ele também carrega nos ombros a responsabilidade de chefiar uma Coordenação de Assuntos Internos e ainda encontra tempo para estar à frente da Coordenação de Assuntos Gerais. Não é à toa que, mesmo tendo de deixar viaturas da PM sem combustível por falta de dinheiro, Richa tenha optado por manter mais um salário de secretário na folha. Não houvesse um secretário para chefiar o trabalho da Coordenação de Assuntos Gerais e estaríamos à beira do caos administrativo. Está mais do que justificada a criação do cargo.

Ezequias, com as mudanças, deixou de ser um secretário invisível. Existe até uma foto dele no site e um currículo que lembra sua participação no movimento pela Anistia e na campanha das Diretas Já. Obviamente em nenhum momento informa-se que ele manteve a sogra trabalhando como funcionária fantasma no gabinete de Richa na Assembleia e que, por meio disso, teria desviado meio milhão de reais do erário. Beto, ao nomeá-lo para uma diretoria da Sanepar, antes de elevá-lo a secretário, disse que havia "perdoado o pecador, mas não o pecado".

Mas, é claro: o mais importante, obviamente, não mudou. Ezequias continua secretário, recebendo R$ 20 mil por mês há dez meses. Com seu salário legal, já recuperou dos cofres públicos só nesse período, sem contar a diretoria da Sanepar, 40% do que teve de devolver pelos desvios cometidos na Assembleia. E, mais importante, continua sem ter tido de passar por uma única audiência judicial no processo que apura o crime da "sogra fantasma". Ainda está de pé a liminar que deu a Ezequias o direito de, por ser secretário, responder em foro privilegiado. Não há notícias de que isso vá ocorrer tão cedo.

Seguiu-se aqui o conselho daquele nobre que dizia no livro "O Leopardo": é preciso que algo mude para que tudo continue como está. A secretaria não é mais invisível. Mas a visibilidade só deixou mais perceptível a sua inutilidade.

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