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"Votar na urna eletrônica brasileira é mais ou menos como jogar palitinho por telefone."

Paulo Moura de Freitas, Chefe de Informática do Laboratório Leprince-Ringuet da Escola Politécnica, França.

O deputado Alceni Guerra foi notícia nacional nesta semana. Propôs que a Câmara dos Deputados crie uma secretaria de Marketing para divulgar os feitos dos nossos parlamentares. Alceni acredita que a Câmara faz muitas coisas boas e que só as ruins são divulgadas pela imprensa. Por isso quer um grupo de marqueteiros que fale das realizações da Casa "com a mesma competência que a imprensa divulga as mazelas do poder".

Alceni certamente está bem-intencionado: quer evitar que a população sinta raiva de uma instituição que, afinal de contas, é fundamental para o bom andamento da democracia do país. Mas a situação dos deputados a essa altura é mais ou menos a de um marido que tivesse perdido muito dinheiro irresponsavelmente. Depois de todos os seus erros, reclama da mulher por não ver aquilo que ele tem de bom. Para melhorar sua imagem, gasta uma grana alta para comprar um presente para a esposa. E no fim a mulher descobre que o dinheiro para a extravagância saiu da conta bancária dela – e não da dele.

A Câmara dos Deputados não precisa de marqueteiros. Já existe na Casa uma Secretaria de Comunicação Social. É responsável por seis coordenações e por uma boa dezena de bons cargos públicos. Os deputados têm um jornal para divulgar seus triunfos. Têm espaço no horário nobre do rádio, todos os dias, com a Voz do Brasil. Têm uma agência de notícias na internet. Têm um canal de tevê só para eles. Têm uma equipe imensa de fotógrafos, jornalistas e relações-públicas tentando lustrar a imagem do parlamento. Difícil imaginar alguém que tenha mais gente para falar bem de si próprio. Não vai ser a criação de mais cargos – com o nosso rico dinheirinho, ressalte-se – que melhorará a situação.

Se apenas 1,1% da população diz confiar no Congresso, é porque nossos deputados e senadores andaram fazendo muito menos do que se esperava de seus mandatos. E muito mais do que podemos imaginar com o nosso dinheiro.

É difícil imaginar como um marqueteiro poderia convencer a população a gostar de deputados que:

– Apresentam notas mostrando que em curto período compraram combustível para dar a volta ao mundo 255 vezes;

– Tentam aumentar seus próprios salários em 91%;

– Cogitam dar-se o direito de consumir R$ 5 mil por mês de verba indenizatória sem apresentar nota alguma;

– São acusados de receber mesada ilícita do governo;

– Absolvem uns aos outros de crimes mais do que comprovados.

Se a situação fosse mesmo a de um marido e de uma mulher, o amigo gastador já teria sido expulso de casa há muito tempo. Por sorte, o povo brasileiro é mais complacente. E ainda há 1,1% que acreditam nos nossos deputados.

Foice

O novo secretário de estado do Trabalho, Nélson Garcia, herdou do Padre Roque o diretor-geral da casa, Emerson Nerone. Os dois vêm se estranhando há dias. Nerone chegou a pedir demissão ao governador. Requião não aceitou a demissão e os dois, desde lá, estão tendo de se acertar. Tudo porque a necessidade de uma coalizão transformou a secretaria num amontoado de partidos. O secretário era do PSDB. Os petistas levados pelo Padre Roque continuam por lá. Nerone é do PHS. E o pessoal do PMDB... bom, esses estão em todo lugar. Todos lutando por um espacinho a mais, um carguinho melhor, uma verba para a sua área. Óbvio que não tinha como a secretaria funcionar direito.

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