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O norte-americano Ba­­­rack Obama chega hoje ao Brasil para uma visita oficial. Será a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos vem ao Brasil antes de um colega brasileiro ir até Washington pedir a bênção. Mudança de paradigma interessante. Serve de pontapé inicial para uma análise de como os políticos são hábeis em mudar o foco quando se veem ameaçados.

No caso de Obama, a popularidade baixa e as derrotas no Congresso obrigaram o norte-americano a tirar um novo coelho da cartola: o Brasil aparece como uma força emergente com certa credibilidade e popularidade, apesar dos erros estratégicos de Lula no campo diplomático.

Nada melhor para quem ainda vê no retrovisor os reflexos da crise econômica mundial de 2009, tentar negociar com os brasileiros para reverter o déficit na balança comercial favorável a nós e fazer um lobby para vender caças à Aeronáutica, dinheiro bem-vindo à indústria norte-americana em momentos instáveis.

Obama deve se aproveitar ainda da mudança no campo das relações exteriores providenciada pela nova ocupante do Palácio do Planalto. A escolha do An­­tônio Patriota, ex-embaixador brasileiro em Washington, para o cargo de chanceler também pode ser considerada uma mu­­­dança de paradigma.

Ao escolhê-lo, Dilma Rousseff tentou tirar do foco o seu passado de guerrilheira, ex-presa política que havia lutado contra a ditadura militar. O temor, muito aproveitado pelos adversários na campanha presidencial de 2010, era que, como ex-militante de esquerda que havia pegado em armas para lutar contra os militares, Dilma poderia levar o país para um alinhamento ainda mais distante de Washington, reforçando o posicionamento adotado por Lula e o Itamaraty sob a batuta de Celso Amorim.

Dilma surpreendeu ao rever o apoio irrestrito ao Irã e ao escolher um chanceler próximo aos Estados Unidos. A presidente parece ter aprendido a lição com o seu antecessor e "criador". Em 2002, às vésperas da eleição presidencial, o PSDB, na luta para se manter no poder, alardeava e explorava na campanha que, se eleito, Lula colocaria por terra todo o esforço do governo FHC de manter o controle inflacionário, que investimentos estrangeiros deixariam o país, que entraríamos em crise econômica-política desastrosa.

Pois bem, Lula – já escaldado pelas derrotas consecutivas em 1989, 1994 e 1998 – não só manteve a política econômica dos tucanos, como trouxe um ho­­mem de confiança do sistema financeiro [Henrique Meirelles, que era do PSDB] para cuidar do Banco Central. A mudança de paradigma do petista o ajudou a ganhar a confiança dos empresários e a controlar a inflação em alta por causa do risco-PT. Lula, muito por conta do bom momento econômico gerado pela alteração do foco, sobreviveu à crise política causada pelo mensalão em seu primeiro mandato, ganhou mais quatro anos no Planalto, elegeu uma sucessora quase desconhecida e terminou com uma popularidade nunca antes vista na história do Brasil.

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