O amigo de Lula

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"Isso aí vai favorecer diretamente o Hermas. É um projeto para ele, do interesse dele."

Valter Sâmara, diretor da Anoreg.

Valter Sâmara é fazendeiro e cartorário. Mas de uns anos para cá ficou mais conhecido como "o amigo do Lula". Íntimo do presidente, freqüenta os bastidores da política sem nunca ter tido mandato. Em 2006, saiu candidato pelo PTB a deputado federal, mas desistiu para ajudar a coordenar a campanha de Lula à reeleição. Veja a seguir uma entrevista concedida por Sâmara nesta semana:

Por que o senhor desistiu de ser candidato?

Eu retirei minha candidatura porque achei melhor ficar na coordenação da campanha do presidente em Goiás e no Mato Grosso. Aqui no Paraná nós tínhamos um coordenador excelente, que é o meu grande amigo Jorge Samek. Mas no Mato Grosso e em Goiás não tínhamos um Samek.

Em Goiás tem o Delúbio...

Tinha [risos]. Mas fizemos uma campanha boa. Tivemos aquele episódio que atrapalhou muito, do dossiê. Isso levou para o segundo turno. Mas foi até bom, porque no segundo turno o Lula ganhou bem. Saiu mais fortalecido do que se ganhasse no primeiro turno. E ainda apoiei o meu amigo Ângelo Vanhoni e o Alex Canziani, que dividia comigo a preferência da Anoreg [Associação dos Notários e Registradores].

O senhor já havia sido candidato?

Em 1982 fiz 28 mil votos para deputado federal, fiquei na terceira suplência. Pelo PDS, o partido do governo. Na época, o candidato a governador era o Ney Braga e o candidato a senador era o Saul Raiz.

E agora qual é a sua missão?

Estou lutando pelo Operário Ferroviário de Ponta Grossa. Vamos levantar o time lá. Sou presidente de uma diretoria que criamos, dos amigos do time. Porque uma cidade como Ponta Grossa, que é a quarta cidade do estado, não tem um time nem na segunda divisão. É uma vergonha para nós.

O que o senhor acha da emenda constitucional que tira a preferência dos titulares de cartórios judiciais para as novas remoções?

Eu acho um absurdo. Tanto é que a Anoreg, da qual eu sou diretor, já entrou com medidas contra isso aí. Isso aí vai favorecer diretamente o Hermas. É um projeto para ele, do interesse dele. E não pode pensar nisso, tem que pensar na classe toda dos serventuários, e não para si. Eu sou totalmente contra.

E foi para beneficiar ele?

Todo mundo sabe que foi. E a própria Anoreg reconhece isso, tanto que já entrou com as medidas cabíveis.

Radar

Concorrentes 1 – Há um dado importante para entender a relação entre Hermas Brandão e Valter Sâmara. O amigo de Lula afirma que o deputado se beneficia com a emenda constitucional porque ela facilita a remoção de Hermas de seu cartório de Andirá para um maior na capital. A emenda acaba com a preferência que outras quatro pessoas, titulares de cartórios em Curitiba, teriam sobre o deputado na ordem de remoções.

Concorrentes 2 – Sâmara, porém, também pode ser beneficiado pela mesma mudança. Documento do Tribunal de Justiça mostra que ele se inscreveu no mesmo concurso de remoção. Ou seja: ambos desejam o mesmo cartório curitibano. Além dos dois, há outros paranaenses de sobrenome ilustre disputando a vaga, como Rogério Bacellar, Ângelo Volpi Neto e Caroline Iatauro.

No STF – Um promotor do Amapá vive situação semelhante à do paranaense Luiz Fernando Delazari. Ambos são promotores de Justiça. E ambos foram convidados a ser secretários de Estado. O Conselho Nacional do Ministério Público, porém, proíbe a dupla função a seus funcionários. O amapaense, de nome Pedro Leite, foi ao Supremo Tribunal Federal pedir uma liminar que lhe garantisse a permanência no governo. A decisão foi contrária. Quem entende do assunto acha que isso diminui as chances de Delazari ser secretário de Segurança no terceiro mandato de Roberto Requião.

Isto também é politica – O diretor Edward Zwick fez um grande filme sobre a exploração da África. Chama-se Diamante de Sangue, e mostra como o mundo rico causa guerras civis nos países produtores de pedras preciosas. Agora, a indústria norte-americana de diamantes está promovendo uma campanha no mínimo esquisita para abafar o escândalo. Chama-se "Levante o Anel de sua Mão Direita pela África". A indústria promete dez mil dólares para caridade na África a cada atriz que usar diamantes em cerimônias de grande visibilidade. É o cúmulo da cara-de-pau.