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A Câmara de Curitiba tem a oportunidade de pôr fim, na semana que vem, a um dos maiores despropósitos do transporte coletivo de Curitiba. Vai entrar em votação na terça-feira um projeto de lei que proíbe as empresas de colocarem os motoristas de ônibus para fazer dupla função, cobrando também pela passagem.

Para quem não usa ônibus, é necessária uma explicação: de uns anos para cá, as empresas passaram a adotar um procedimento perigoso em um número cada vez maior de linhas. Os ônibus grandes são trocados por veículos menores onde não há uma cadeira para o cobrador. Ao entrar, o passageiro entrega o dinheiro para o próprio motorista, que é obrigado a providenciar o troco.

A teoria é que assim o custo do ônibus fica menor (claro: há um salário a menos para pagar). E com isso é possível manter a passagem mais barata. Na prática, além de o curitibano estar pagando R$ 2,50 pelo transporte, acaba andando em ônibus que durante parte significativa do trajeto estão sendo dirigidos por alguém que não olha para a frente.

Claro, se você perguntar para o dono da empresa, ele dirá que a culpa não é dele. Todos os empresários poderão afirmar categoricamente que orientam seus trabalhadores a só voltar a dirigir depois de receber a passagem e dar o troco a todos os passageiros. Qualquer um que ande de ônibus, porém, sabe que não é assim que funciona. E não é culpa dos trabalhadores.

Os motoristas são obrigados a cumprir prazos rigorosos a cada viagem. Em caso de atraso, são penalizados. E o único jeito de cumprir a escala (apertada até para poder haver menos ônibus nas ruas, o que também ajuda a aumentar o lucro das empresas) é pisando fundo assim que o último passageiro pisou no degrau.

O sistema é montado para aumentar os ganhos dos empresários (nunca se ouviu dizer que um deles tenha reduzido o pró-labore como forma de colaborar para uma passagem mais justa, ou reduzido os custos de administração). Mas acaba sendo injusto com todos os demais curitibanos.

É injusto com os motoristas, que fazem duas funções, ganham apenas 10% de acréscimo no salário para exercer uma atividade perigosa e ainda acabam ficando com a culpa que não caberia a eles. É injusto com os cobradores, que perdem o emprego. É injusto com os passageiros, que correm perigo desnecessariamente. E é injusto com os outros motoristas e com os pedestres, que têm de conviver nas ruas com ônibus que sabe-se lá o rumo que irão tomar.

Um modelo em que os mais ricos (os empresários) ganham e todos os demais perdem é nitidamente injusto. O projeto do vereador Denílson Pires pode ajudar a acabar com a injustiça. Tomara que os vereadores tenham essa percepção na hora de votar.

É público

Falando em votações importantes, o Senado deve pôr em pauta no próximo dia 3 um projeto importantíssimo para a democracia brasileira. Trata-se do projeto que dá a todos nós o direito de pedir informações públicas – e obriga o governo a fornecer todos os dados solicitados. Só há exceções previstas para os casos em que a necessidade de sigilo é óbvia: documentos militares e ligados às relações exteriores, por exemplo. Mais de 90 países têm leis do gênero. Aqui, o projeto tramita no Congresso desde 2003 e só agora chega para votação.

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