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"A corrupção não é uma invenção brasileira. mas a impunidade é uma coisa muito nossa."

Jô Soares

Era uma vez um país em que a corrupção era uma praga terrível. Os políticos dessa terra distante pagavam as suas eleições com dinheiro de empresas – e depois de eleitos facilitavam a vida das suas financiadoras sempre que necessário. Aí veio a solução: os deputados daquele país proibiram todos os políticos de receber dinheiro das empresas. E decidiram que as campanhas seriam inteiramente pagas com o dinheiro dos impostos do povão. Como num passe de mágica, isso resolveu os problemas de corrupção, deixou os corruptores a ver navios e exterminou o caixa dois. E todos foram felizes para sempre.

Pois é. O fim do financiamento privado de campanhas, que está sendo votado por nossos distintos congressistas, tem todo o jeito de história da carochinha. Um conto de fadas meio sem pé nem cabeça. A idéia básica é que proibindo as doações aos políticos, eles não vão mais vender seus mandatos. Trabalhariam apenas em prol do povo.

A Transparência Brasil, ONG especializada em detectar engazopações de políticos, enviou uma carta aos parlamentares pedindo que eles não aprovem o financiamento público. Na correspondência, avisam que o projeto pode custar caro ao país. "Chega a ser espantoso que alguns dos proponentes da medida argumentem que a proibição do financiamento privado ‘acabará com o Caixa Dois de campanhas’", afirma o texto. "Como é que proibir o Caixa Um acabará com o Caixa Dois? Não há a menor lógica nesse argumento. Acontecerá exatamente o contrário."

O argumento da ONG faz sentido. Qual é o político que vai se contentar com o quinhão que lhe for concedido do financiamento público? É muito mais provável que os tubarões continuem indo atrás de empresas para complementar seu orçamento. Só que dessa vez terão de esconder as doações, que serão ilegais.

Hoje, os partidos e os candidatos recebem o dinheiro e são obrigados a declará-lo. Podem tentar esconder. Mas, em teoria, é possível acompanhar quem deu dinheiro para quem. Até para ver se os projetos do político eleito estão favorecendo seus financiadores. Se as doações se tornarem ilegais, o fiapo de transparência que existe no processo será jogado fora.

R$ 350 mil foi o total investido pelo governo federal na Parada Gay de São Paulo. Destes, R$ 250 mil saíram dos cofres da ministra do Turismo (Relaxamento e Orgasmo), Marta Suplicy. Outros R$ 100 mil vieram do Ministério do Esporte. Serviram, de acordo com os organizadores, para financiar uma corrida dentro do evento. Havia 300 inscritos. Cada um pagou R$ 35 de taxa. Especialistas ouvidos pelo site Contas Abertas dizem que a corrida poderia ter sido feita com um terço da verba. Principalmente porque não houve premiação em dinheiro aos vencedores.

Tudo certo

O Decreto 955 deste ano do governo do estado nomeia Antônio Jorge Melo Viana para o cargo de secretário de Controle Interno, da Coordenação do Sistema de Controle Interno da Governadoria. Melo Viana, para quem não se lembra, foi candidato ao governo do estado no ano passado pelo Partido Verde. Nos debates, provocava outros candidatos, mas nunca tocava no nome de Roberto Requião. O decreto, datado desta semana, mostra que o comportamento teve recompensa. O curioso é que a história é praticamente um replay do que aconteceu no governo passado. Em 2002, Melo Viana também havia "enfrentado" Requião para depois ganhar um carguinho no governo. Aliás, o nome do cargo tem a maior cara de burocracia soviética, não é mesmo?

Ato falho (?)

Colaboração de um colega atento à rádio na quinta-feira, na hora do almoço. O jornalista Merval Pereira, de O Globo, falava em rede nacional à CBN sobre as tentativas de "censura à imprensa" por parte do governo Lula quando deixou escapar: "O fato de a imprensa não ter conseguido impedir a reeleição de Lula não significa que ela perdeu a importância e a força (sic)". Depois, tentou consertar, dizendo que não seria essa a nobre função da imprensa.

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