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"Escrevemos, escrevemos, escrevemos. Clamamos no deserto. O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas."

Otto Lara Resende, escritor brasileiro.

Um folheto anônimo distribuído ontem pela cidade dá a entender que o prefeito Beto Richa abriu a famosa Pracinha do Batel para beneficiar Salomão Soifer, dono do Shopping Mueller. O panfleto – que na verdade nem chega a ser anônimo, já que todo mundo sabe quem botou na rua – mostra que a empresa de Soifer colocou R$ 100 mil na conta do comitê de campanha do prefeito, em 2004. Agora, o empresário quer construir um novo shopping no Batel. E a abertura da pracinha facilita muito a vida dele. Coincidência? Pode ser que sim, pode ser que não.

De qualquer maneira, é curioso que na eleição de 2004 a Casc – administradora do Shopping Mueller e do futuro Pattio Batel – tenha dado dinheiro para apenas dois candidatos em Curitiba. Um era Beto Richa. O outro era o seu principal adversário na campanha, Ângelo Vanhoni, do PT. Que, diga-se de passagem, era apoiado na época pelo governador Roberto Requião. A empresa de Salomão Soifer, que tinha dado os R$ 100 mil para Richa, achou por bem dar exatamente a mesma quantia para o comitê de Vanhoni. Total investido: R$ 200 mil. E a certeza de ter um prefeito-amigo pelos próximos quatro anos.

Independentemente disso, a suspeita de que um shopping esteja fazendo lobby junto a políticos para conseguir benefícios respeita uma certa lógica. Os shopping centers são negócios milionários. E são caríssimos. Portanto, só podem ser feitos por empresários com muita grana na mão. Gente graúda que tem, sim, potencial para influenciar os rumos da política de uma cidade.

Para ver o interesse dos shoppings em ter poder de fogo, basta dar uma olhadinha nas contas de campanha dos deputados federais paranaenses. Três dos parlamentares com mais votos em Curitiba levaram doações da Renasce, instituição que administra todos os shoppings do grupo Multiplan. Entre eles, o ParkShopping Barigüi, de Curitiba. Os candidatos beneficiados foram: Gustavo Fruet, Cassio Taniguchi e o atual ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

Aliás, só como curiosidade. Com as obras do binário da Mário Tourinho, todos os motoristas que entram em Curitiba vindos do interior do estado são obrigados a passar em frente do ParkShopping Barigüi.

1,6% dos órgãos públicos estaduais brasileiros é transparente na divulgação do uso do dinheiro público. O resto deixa bem escondidinhos os seus gastos. A conclusão é de uma pesquisa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Sem medo de errar

O jogo de apostar nos dois candidatos principais de uma eleição é conhecido. Assim como o Mueller, várias outras empresas fizeram a mesma opção em 2004. Apostaram em Beto Richa e no seu principal opositor, Ângelo Vanhoni, ao mesmo tempo. A Brafer, que faz estruturas metálicas, por exemplo, deu R$ 120 mil para Beto e R$ 130 mil para Vanhoni. A Camargo Corrêa deu R$ 200 mil para o petista e R$ 100 mil para o tucano. O Itaú foi mais igualitário: deu R$ 100 mil para cada um. É gente que não gosta de perder nunca.

Dois pesos

É curioso ver o quanto se tem falado de Renan Calheiros – e por outro lado, o quão pouco se fala da Mendes Júnior, supostamente a empresa que pagava a maior pensão do país à jornalista Mônica Veloso. "Não há corrupto sem corruptor", lembra um jornalista amigo. Se Renan errou, a Mendes Júnior errou junto. Mas, por enquanto, estamos acostumados a culpar apenas quem leva a grana. Quem paga sai imune.

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